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A história da Ferrari Dino 246 GTS que foi enterrada em um quintal nos anos 70

Por mais que a gente pense que carros têm alma e até personalidade, eles são objetos grandes, pesados e inanimados. Mas isso não impede que eles se metam em situações absurdas, como personagens de um desenho animado. É o caso desta Ferrari Dino 246 GTS que, em 1978 (apenas quatro anos depois de sair da fábrica) foi encontrada por um bando de moleques que procuravam tesouros em um quintal de Los Angeles.

As fotos do carro circularam pela Internet durante um bom tempo antes que alguém resolvesse esclarecer as coisas. Isto aconteceu há alguns anos, mas a história voltou à mídia nos últimos dias — novamente cercada de mistério, e impressionante como sempre. Então, chegou a hora de contá-la.

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Tudo começou quando uns garotos suburbanos de Los Angeles começaram a cavar o quintal para procurar tesouros e acabaram topando com algo que parecia um carro. A família deles havia acabado de se mudar para lá, e imediatamente comunicaram às autoridades para tentar entender o que aquele carro estava fazendo ali. A partir dali, uma longa investigação se seguiu e boa parte da história do carro foi descoberta. Mas não toda ela.

A Ferrari Dino 246 GTS, lançada em 1969, era o modelo “de entrada” da marca e, em vez de um V8 ou V12, usava um V6 de 2,4 litros — daí o “246” de seu nome, indicando o deslocamento do motor e o número de cilindros). O carro em questão, fabricado em 1974 (ou seja, o último ano de produção), foi encomendado originalmente por uma concessionária de Reno, em Nevada, nos EUA. Depois de duas semanas na loja, o carro foi comprado por outra concessionária.

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Flyer de época da Holywood Sports Cars

Era a Hollywood Sports Cars, uma das 46 representantes autorizadas da Ferrari nos EUA na época. Talvez você já tenha ouvido falar, pois era nesta loja que gente famosa como Frank Sinatra, Sammy Davis Jr e Pat Boone comprava seus esportivos italianos. O comprador da Dino, contudo, não era famoso — dizem que ele era um encanador, que deve ter gasto todas as economias para dar o carro de presente de aniversário a sua esposa. Sua intenção era nobre, sem dúvida. Mas como foi que, apenas quatro anos depois, o carro foi parar no quintal de uma casa?

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É aí que a história se divide em duas versões. A primeira diz que a esposa do encanador mal usou a Ferrari, tendo a dirigido por apenas 800 km até que um dia, durante um jantar em um restaurante chique de Los Angeles, o carro foi roubado depois de ser levado por manobristas. A outra diz que o dono da Ferrari decidiu aplicar um golpe em sua seguradora, a Farmers Insurance, contratando uma quadrilha de ladrões para roubar o carro e jogá-lo no mar, ficando com o dinheiro do seguro — um prêmio avaliado em US$ 22.500, ou cerca de US$ 80.000 (R$ 252.000) em dinheiro de hoje.

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De qualquer forma, a certeza é que os ladrões não jogaram o carro no mar. Eles pretendiam recuperar a Ferrari depois, e por isso tentaram “mumificá-la”, cobrindo-a com plástico e vedando as principais tomadas de ar com toalhas para evitar a entrada de vermes. Só que eles não fizeram um trabalho muito bom, e ainda esqueceram de fechar os vidros até o final.

Sendo assim, mesmo que tivessem conseguido ir buscar o carro antes que ele fosse encontrado pelos garotos, o que eles encontrariam seria uma Ferrari com a carroceria (e todas as suas 21 camadas de tinta verde metálico) corroída pela ferrugem, o interior de couro todo arruinado e mecânica extremamente danificada pela umidade. Era um caso perdido.

Do jeito que estava, o carro foi devolvido à Farmers Insurance — como era de praxe nestes casos. Acontece que, àquela altura, o carro já havia adquirido uma razoável fama local, pois os jornais noticiaram o achado como uma Ferrari Dino 246 GTS “em estado surpreendentemente bom”. O telefone da seguradora não parava de tocar, até que alguém lá dentro teve uma ideia: expor o carro ao público e assim, descobrir quem realmente a queria.

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Demorou duas semanas até que um jovem mecânico californiano chamado Brad Howard a levou para casa, pagando por ela algo entre US$ 5.000 e US$ 9.000 na época — o que dá uns US$ 18.000-32.000 em 2015, ou algo entre R$ 56 mil e R$ 100 mil. Ele a restaurou cuidadosamente e devolveu ao carro seu aspecto original, arrematando o trabalho com uma placa que diz “DUG UP”, que significa “desenterrado” em inglês.

Como mostra este vídeo feito pelo canal /DRIVE em 2012, Howard ainda leva o carro para participar de eventos de clássicos pelos EUA ao lado de outros carros antigos em bom estado, mas certamente poucos deles têm uma história tão incrível quanto esta Dino.