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Car Culture

Dirigindo na contra-mão: por que alguns países usam a mão inglesa?

Como você sabe, os britânicos acham que dirigem do lado certo da rodovia e o resto do mundo no lado errado. Você certamente já ouviu essa piada no Top Gear, em EuroTrip ou outra comédia europeia — ela na verdade usa o duplo sentido de “right side”, que pode significar “lado direito” ou “lado certo”. Na verdade eles não estão assim tão errados, pois mais de um terço dos carros do planeta tem o volante na direita. Mas você sabe por que eles decidiram colocar o volante no outro lado, em vez de fazer como o resto do mundo?

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Em verde os países que adotam mão-direita, em laranja os países com mão-esquerda

A história da mão inglesa começou bem antes da invenção do automóvel, mais exatamente na Europa medieval. Nessa época, os cavaleiros cavalgavam no lado esquerdo das vias pois, sendo em sua maioria destros, empunhavam a espada com a mão direita e poderiam se defender com mais agilidade.

O tráfego no lado direito, como usamos aqui Brasil e em 65% do mundo, começou no século XVII, quando as primeiras diligências começaram a circular na França e nos EUA. Nessas carruagens o cavaleiro não se sentava no carro, e sim no último cavalo do lado esquerdo para poder chicotear os outros com a mão direita. Então para ficar mais próximo do centro da via e ter melhor visibilidade, eles começaram a circular pelo lado direito. Por isso, também se chama a mão direita de circulação de “mão francesa”.

Quando os automóveis começaram a aparecer, praticamente nenhum padrão estava estabelecido — nem mesmo o tipo de combustível — e por isso também não havia um consenso em relação à posição do condutor. Muitos ficavam no centro do veículo, outros nas laterais para uma melhor visibilidade em ultrapassagens, mas mão inglesa era padrão em grande parte da Europa ocidental, provavelmente devido à analogia com as ferrovias, surgidas na Inglaterra durante a primeira Revolução Industrial. Falando nas ferrovias, é por esse motivo que o Japão usa a mão inglesa: o primeiro sistema ferroviário do país foi comprado dos ingleses. Na hora de colocar os carros nas ruas, eles simplesmente seguiram o padrão ferroviário — a esquerda vai, a direita volta.

Durante os anos 1920 os países começaram a aderir ao tráfego no lado direito, restando apenas o Reino Unido e a Suécia com a mão inglesa na Europa. Apesar disso, a Lancia e a Alfa Romeo produziram somente carros com volante no lado direito até os início dos anos 1950.

Em 1963 a Suécia finalmente decidiu abandonar a mão inglesa, pois todos os países vizinhos adotavam a mão francesa e muitos carros vendidos lá tinham o volante na esquerda, o que causava muitos acidentes. O dia 3 de novembro foi escolhido para a mudança, as ruas já haviam sido preparadas com sinalização e semáforos no lado oposto, cobertos com plástico preto. Durante a madrugada o trânsito do país foi suspenso para a remoção da sinalização antiga e as 6h da manhã o tráfego foi liberado com o sentido alterado. Na segunda-feira após a mudança a quantidade de acidentes foi menor que a média.

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Primeiro dia com a nova mão de direção na Suécia

A Samoa fez o oposto da Suécia: mudou para a mão inglesa em 2009. Assim como os suecos, os samoanos fizeram a mudança para se adequar aos países vizinhos, diminuir a importação de carros americanos e motivar a importação de carros usados da Austrália e Nova Zelândia. Essa mudança não foi tão bem planejada como a da Suécia, gerando protestos de motorista e acidentes.

O Reino Unido e outros países consideraram aderir a padronização da mão francesa, mas tradição, o volume da frota, e a infra-estrutura rodoviária estabelecida — algumas rodovias britânicas usam trechos das antigas vias romanas e outras são anteriores aos carros — tornam essa mudança inviável atualmente.