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Trânsito & Infraestrutura

Hamburgo pretende eliminar os carros da cidade até 2034

Poucas coisas fazem as autoridades arrancar mais os cabelos do que o trânsito caótico e poluente das grandes cidades. Agora, a cidade de Hamburgo, na Alemanha, julga ter encontrado a solução de forma pouco ortodoxa, digamos: tirar todos os carros de circular pelas ruas. Simples, não?

É exatamente o que parece: como forma de acabar com os congestionamentos, acidentes, emissões de poluentes e todos os problemas que os carros trazem, a administração da cidade quer focar na criação de uma infraestrutura integral de transporte público e criar vias exclusivas para bicicletas e pedestres, ligando o centro aos bairros e assim (supostamente) eliminando a necessidade de se ter um carro.

O projeto de longo termo se chama Green Network Plan — ou “Plano da Rede Verde”, em uma tradução livre.  A ideia é tirar proveito do fato de que 40% da área da cidade é composta de áreas verdes e parques, e conectar estes espaços com ciclovias e passarelas, tornando possível que as pessoas se locomovam por todas as áreas da cidade sem precisar tirar o carro da garagem. Ou ter um carro para colocar na garagem. Ou ter uma garagem.

Como é tendência na Europa, a administração de Hamburgo parece não estar tão preocupada com o trânsito, mas sim com a poluição — uma das principais causas do polêmico aquecimento global.  Em entrevista ao The Guardian, a porta-voz da cidade Angelika Fritsch diz que, com o aumento da temperatura média do planeta, não vai demorar para que mais lugares não tenham escolha senão tomar medidas semelhantes. “Outras cidades, incluindo Londres, possuem os chamados ‘anéis verdes’, mas a nossa rede verde será a única a cobrir uma área fora do perímetro urbano da cidade. De entre 15 a 20 anos as pessoas serão capazes de explorar a cidade toda exclusivamente de bicicleta ou a pé”, ela diz. Também faz parte do plano ampliar as áreas verdes, com o intuito de melhorar efetivamente a qualidade do ar.

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Hamburgo é a segunda maior cidade da Alemanha, com mais de 1,8 milhão de habitantes, e dona do segundo maior porto da Europa — não estamos falando de nenhuma cidadezinha do interior. Com planejamento e investimentos nas áreas corretas, acreditamos, sim, ser possível reduzir o uso do automóvel a zero. O plano é ambicioso e, a longo prazo, diz-se que trará outros benefícios para a cidade — mais qualidade de vida à população, especialmente crianças, idosos e doentes, além de criar mais oportunidades de lazer ao ar livre — e atrairá pessoas mais capacitadas para ajudar a cidade a crescer. Não temos dúvidas de que as intenções seja boas, mas temos algumas coisas para pontuar.

O discurso da porta-voz da cidade nos pareceu um tanto ambíguo — um “serão capazes” seguido de um “exclusivamente” soa como uma declaração velada de que, num futuro não tão distante, a cidade só cederá espaço para quem não estiver de carro. Não acreditamos que Hamburgo proibirá a circulação de veículos automotores, mas não é difícil enxergar alguns “estímulos” sendo empregados para que a população deixe o carro em casa — dificultar o acesso dos carros a certas áreas, estabelecer horários para a circulação, ou até mesmo aumentar os impostos.

Mas será que este é o melhor caminho? Mesmo com transporte público 100% funcional — algo que, na Europa, não é uma ideia utópica como no Brasil —, proibir os carros de circular nas ruas nos parece um tanto drástico, ainda mais com veículos cada vez mais econômicos e eficientes, como os downsized, híbridos e elétricos. E afinal, pessoas ainda ficam doentes, precisam de ambulâncias, fazer compras, carregar objetos, ou simplesmente ter um conforto num dia chuvoso ou com neve.

Especialmente irônico é o fato de tal ideia surgir na Alemanha — berço do automóvel, terra de Ferdinand Porsche e Karl Benz, casa de fabricantes conhecidas por criar alguns dos melhores carros do mundo. A terra dos entusiastas está dando mais um passo em direção ao futuro que cada vez mais gente — nós, inclusive — prevê para os carros: eles se tornarão menos meios de transporte e mais meios de diversão. E, pelo jeito, longe da cidade. Não que isso seja de todo ruim – afinal, o rock’n roll sempre esteve nas estradas de montanha.

[ Fotos: HafenCity Hamburg ]