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Pensatas

O novo carro autônomo do Google não tem volante nem pedais – mas você não precisa se preocupar com isso

Já faz quatro anos que o Google vem trabalhando com carros autônomos. Quando tudo começou, em 2010, a ideia de andar em um carro sem motorista parecia mais uma excentricidade da gigante da tecnologia. Mas quando fabricantes tradicionais como BMW, Mercedes e Volvo começaram a trabalhar em suas versões de carros autônomos a ideia tornou mais aceitável — especialmente porque ela vem sendo apresentada como uma forma de auxiliar os motoristas na prevenção de acidentes, muito mais do que transformá-los em passageiros ao volante.

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Só que isso pode estar prestes a mudar. Na última quinta-feira (29) o Google apresentou sua terceira geração de carros autônomos, uma frota de 100 veículos elétricos capazes de chegar a 40 km/h, e que não têm volante, pedais e nem mesmo sistema de áudio. Na cabine, tudo o que você encontra além dos bancos é um botão de partida/desligamento do motor e uma tela que exibe o roteiro pelo qual o carro irá “dirigir”.

O Google acha que a tecnologia desenvolvida por eles é suficiente para levar humanos do ponto A ao ponto B em segurança e conforto. Você só precisa acessar um aplicativo de smartphone e indicar o destino desejado. O resto o “carro” faz por conta própria.

É assim que os carros autônomos do Google enxergam o trânsito (veja mais aqui)

A ideia parece assustadora, afinal, que tipo de maluco entra em um carro sem interface de comando que anda sozinho com base nas informações programadas por um software e encara o trânsito das ruas? Mesmo que ele seja planejado para o trânsito do futuro, o Self Driving Car do Google não tem nenhum tipo de controle — o que, de certa forma, faz dele um robô. Nós usamos muitos robôs atualmente, mas não confiamos vidas nem a integridade física das pessoas a eles. Até mesmo os trens de metrô, que são totalmente programáveis, têm um maquinista pronto para entrar em ação caso algo dê errado.

É exatamente esse o problema. Você está eu seu carro autônomo, lendo emails, curtindo no Facebook ou lendo o blog do Greenpeace quando, por qualquer motivo, o carro encontra um problema. Pode ser um bug de software, ou uma rua interrompida por um acidente que acabou de acontecer e não está previsto pelo Waze. Hora do humano assumir. Imediatamente.

Nessas situações, carros autônomos precisam passar o controle a um motorista de forma rápida, segura e imediata. O que um motorista que passou os últimos 20 minutos distraído com o Facebook poderá fazer quando topar com uma situação emergencial? Ele estará totalmente sem noção do que está acontecendo lá fora e de repente precisa assumir o controle para evitar um acidente.

Um dos maiores desafios encontrados pelos pesquisadores e desenvolvedores de carros autônomos é essa transição do modo autônomo para o manual. Como alertar o motorista de que algo está errado e deixá-lo ciente de tudo o que está acontecendo lá fora e com o carro? Isso é algo que ainda está sendo pensado pelos pesquisadores, mas o Google simplesmente decidiu confiar 100% na tecnologia eliminando o modo manual.

Segundo Sergei Brin, o co-fundador do Google, a decisão de eliminar comandos foi feita há um ano, depois que os funcionários da empresa usaram os carros autônomos para ir ao trabalho sem relatos de acidentes. Contudo eles perceberam que a intervenção do motorista em emergências não funcionaria (em certos casos ela pode ser pior do que um acidente no autônomo) e assim, fizeram o novo carro sem nenhum tipo de comando manual.

Para manter o carro em segurança, contudo, eles instalaram sensores eletrônicos com alcance de 180 metros em 360 graus e a dianteira é feita de um tipo de espuma deformável para não machucar pedestres em caso de atropelamento. Além disso, o limite de velocidade é 40 km/h. Brin ainda disse que conhece os sistemas da Mercedes, BMW e Volvo, mas considera que eles são apenas “suplementares” e que isso não é suficiente para o Google, que tem o objetivo de criar tecnologias “transformadoras”, como a empresa tem feito até agora.

Mas você não precisa se preocupar: o novo carro autônomo do Google tem tudo para se tornar apenas mais um fetiche tecnológico da empresa mais ambiciosa do planeta. Ele nunca vai chegar às ruas. Ao menos não como o conhecemos ontem. Por quê?

Dois dias antes da apresentação do novo Google Self-Driving Car, o Departamento de Veículos Motorizados da Califórnia (o Detran de lá) publicou as primeiras leis estaduais sobre o tráfego e circulação de carros autônomos do Estado — uma exigência do Senado americano, que determina que cada estado faça suas leis até 1º de janeiro de 2015.

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A lei californiana determina que carros autônomos poderão circular somente se houver um motorista ao volante, que deve estar em plenas condições de dirigir — o que significa que ele não pode estar dormindo ou sob influência de álcool ou drogas, e deve ser habilitado. Além disso, ele precisa ser capaz de interferir na direção do veículo em casos de emergência, e não pode haver nenhum mecanismo ou sistema que impeça ou dificulte sua atuação. Em termos gerais, os legisladores ainda agem com prudência ao criar as leis para carros autônomos ou baseados em tecnologias que possam dificultar, atrapalhar ou impedir o controle dos carros em caso de emergência, o que impede a homologação e a circulação de carros como o coala robótico do Google.

A nova lei também determina que o motorista de carros autônomos precisará ter uma habilitação especial, obtida após treinamento específico feito pelo próprio fabricante do veículo. E os critérios para se candidatar à habilitação são mais rígidos do que qualquer um poderia imaginar: o motorista não poderá ter recebido multas nos últimos três anos, não poderá ter se envolvido em acidentes (mesmo como vítima) nos últimos três anos, e não pode ter se envolvido em nenhuma ocorrência relacionada ao uso de álcool ou drogas nos últimos dez anos (!).

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Além disso, o motorista que manchar este currículo impecável por causar um acidente com um carro autônomo, será responsabilizado pela conduta da máquina em modo automático — ou seja: quem opta por deixar o carro dirigir sozinho, está assumindo os riscos e a responsabilidade por qualquer eventualidade.

Sendo a primeira legislação desse tipo no mundo, a lei da Califórnia para os carros autônomos deve servir como referência para futuras legislações em todo o mundo, ao menos em um primeiro momento. Assim, seu próximo carro talvez até poderá saber dirigir sozinho, mas a palavra final ainda será do motorista operando um volante, pedais e alavancas.