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Project Cars Project Cars #124

Project Cars #124: as dificuldades e percalços na restauração de um clássico

Fala, galera! Beleza? Bem, faz quase um ano que não escrevo nada aqui e antes que perguntem, não, o Santa Matilde não está pronto ainda. É a pergunta que mais ouço: quando seu carro estará pronto? Como você aguenta tanto tempo de reforma? Ah, eu não conseguiria. Hoje vou falar sobre os percalços de uma recuperação de carro antigo com dicas que valem pra qualquer tipo de projeto.

Quando se faz uma restauração de um carro, principalmente na condição que o meu estava, considerando que as peças tem que ser feitas, pois simplesmente não existem, tem que ter sangue frio e paciência. Lembro do meu primeiro carro, um Maverick SL 1976 (4 cilindros que virou V8) numa época que nem estágio eu fazia. O carro era lindão e roncava bonito, só que não dava pra deixar do jeito que eu queria. Ele amava morrer em cruzamentos movimentados e tinha baixíssima confiabilidade. Depois pulei pra um Diplomata 88 4.1 que era bem confiável mas pra deixar ele bonito do jeito que queria, precisaria de grana (e olha que já estagiava, ganhava R$ 241,00 , mas com o álcool a R$ 1,00, dava pra dar uns rolês).

Então quando decidi de fazer o Santa Matilde eu coloquei na cabeça. Quero algo que seja realmente bom, para que eu não tenha dor de cabeça e que seja realmente bonito e bem acabado e que quando eu for sair, não fique dando problema ou falhando. Até porque em tempos de combustível caro, não é todo dia que dá para andar a 1,00R$/km.

Como uma reforma de um carro antigo é um projeto, vou fazer uma analogia a gerenciamento de projetos, pós graduação que fiz nesse meio tempo.

Uma das coisas existentes em gerenciamento de projetos, é a teoria da tripla restrição, na qual podemos escolher das três palavras somente duas (bom, barato e rápido), conforme o gráfico abaixo. O meu se encontra entre o barato e com qualidade, logo não pode ser rápido.

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Tripla Restrição Rápido x Barato x Qualidade

Outra coisa essencial em um projeto é a definição do escopo (o que realmente você quer fazer). Se você não tem um escopo definido e claramente delimitado, fatalmente irá atrasar e gastar mais dinheiro do que devia.

Outro dia, conversando no grupo de Whatsapp dos Santa Matilde ( já somos 78, ou seja mais de 8% de toda a produção) me perguntaram quanto que já gastei. Tenho tudo planilhado desde o início. Passando o olho eu vi quanto que eu joguei dinheiro fora por falta de experiência, fazendo coisas desnecessárias, mudando o escopo. Entre elas posso destacar:

– Custos com o motor que não vou usar mais. Ele era 4.1 e passei para 4.8 quando mudei de ideia e pulei pro 4.8 (alteração de escopo)

Embreagem, câmbio e diferencial. Como não verifiquei antes o câmbio que iria utilizar (Dodge três marchas manual) gastei grana com novo cambio, nova embreagem e uma capa seca que não vou usar neste momento. Tive que comprar um diferencial novo (experiência – verificar sempre as coisas de contar com elas)

Máquina de vidro. Comprei duas do mesmo lado (sem comentários…)

Mão de obra de baixa qualidade, o famoso barato que sai caro. Antes de levar num profissional de qualidade, levei num “mexânico” e num “fibreiro” que tinham boas referencias. O cara da fibra estragou as linhas originais do carro, sendo necessário refazer. E o mecânico levou 350 reais atrasando a reforma em 3 meses e até hoje estou esperando ele fazer algo…

Documentação. Já falei sobre isso detalhado num post e vi uma grana também quando não se ve isso antes. Com a burocracia existente no Brasil, isso pode matar o carro.

Resumindo, se você não tem grana pra bancar um Overhaulin, Louco por Carros, PhantomWorks e outros programas, não se organizar, tem que esperar.

Então, chega de firula e vamos falar da última visita que fiz, no dia 30/01 e os motivos do atraso.

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Motor 292 em fase final de acerto no cofre do motor

O motor na Santa Matilde, apesar de utilizar o agregado de suspensão do opala fica em posição diferente, logo o cárter do opala não serve nele, tendo a necessidade de se fabricar um exclusivo (toma tempo isso). Infelizmente, antes mesmo de iniciar a reforma, me roubaram o cárter original. Outro detalhe importante para quem for encarar o 292 4.8 é o suporte. Notem que tem uma chapa parafusada no bloco deslocando para o centro do motor. Isso é para permitir a montagem no agregado original. Meu restaurador está jogando ao máximo o motor para baixo devido a altura maior que este motor tem em relação ao 250 4.1(e com isso vários entra e sai no motor de forma cuidadosa para não ferrar o carro). Notem a altura do buraco da bomba de água até o topo do bloco, assim como as tampas de tucho. A tampa de válvulas original da Silverado foi rebaixada na ponta para ganhar espaço no capô. Ainda tenho esperança de fechar o original.

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Novidade boa que eu tive foi quase a finalização do chicote elétrico, que foi refeito desde o zero conforme padrão original. Quem tem carro antigo sabe que elétrica ruim é um caminho para paradas imprevistas, dor de cabeça e até mesmo incêndio. Nesta última visita já comprei um motor de arranque e uma bateria também.

Outro item que vou ter que fabricar é o volante. Devido a raridade, quando se encontra um o preço é absurdo. Como quem está fazendo meu carro fabricou ele, comprei alumínio para fazer a base conforme padrão original. Levei até um Walrod que tinha em casa, mas como o carro é apertado, ficaria bem ruim para dirigir.

Novidade ruim foi que eu iria utilizar a polia damper do ômega, pois já é microV, e particularmente acho melhor e mais bonito. Só que o custo do jogo de polias é mais caro que uma polia damper zerada com roda fônica. Então lá vai uma grana aonde eu não esperava (faz parte). São acessórios que vale a pena colocar no planejamento antes de se iniciar uma reforma, pois vão agregando um custo e podem estourar o seu orçamento!

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Polia Damper com dois canais e roda fônica

Falando em roda fônica, para quem não conhece, é simples. De forma resumida é uma roda dentada aonde com dentes, sendo que em um determinado local existe um vazio para marcar uma referencia no virabrequim. Com isso, um sensor indutivo lê o ângulo e indica para injeção eletrônica, permitindo assim então controlar a ignição e a curva de avanço pelo modulo auxiliar. Desta forma, elimina-se o distribuidor e se ganha em ajuste e confiabilidade. Sobre ajuste de ignição, fica a dica para o Flatout escrever uma matéria técnica sobre isso (Nota do Editor: sugestão anotada!).

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Detalhe de funcionamento de uma roda fônica x sensor

Pelo menos, nessa ultima visita, eu saí pela primeira vez com a sensação de que está acabando. Tive já o retorno de que a elétrica já está toda testada. E comprei vários acessórios para o carro para a finalização, tais como polia dupla para o ar condicionado e o pescoço de entrada de água do cabeçote. Segue também umas fotos do carro, que não mudou muito da última vez, mas vale a pena sempre ver.

Toda essa experiência vai valer muito nos próximos projetos que pretendo fazer na minha vida. Já tenho umas maluquices em mente mas quando tiver estruturado eu escrevo e conto mais para vocês.

No mais um abraço e torçam por mim para que na próxima vez eu mande um vídeo do 292 roncando forte.

Por André Bringhenti, Project Cars #124

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