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Project Cars Project Cars #319

Project Cars #319: um projeto Old School para meu Jeep Willys CJ5 1958

Era meados de abril, e o clima era agradável como sempre. O sol preenchia uma pequena porção daquele céu todo azul, o ar enchia meus pulmões de frescor e o vento completava a poesia que me atenta até hoje. Lembro do cheiro de poeira e dos pneus grandes que a faziam. Lembro da força G, que obrigava minhas costas a colarem no banco – que sequer um espaldar tinha. A alavanca do câmbio era imprecisa, e as marchas ficavam onde eu queria – e eram quantas eu quisesse! Fazia jogo entre os pedais, dava uma volta naquele enorme volante e cambiava com toda a delicadeza que a idade me permitia. Eu tinha cinco anos.

Prazer, meu nome é Leonardo. Por profissão eu sou designer (quer dizer, estudante…), mas por paixão eu sou o que dá vontade de ser. Já fiz poesia, já voei, já joguei, já escrevi, já vivi e deixei de viver, fui piloto (dos ruins) e também já fotografei. O fato é que quase tudo isso se fundamentou em uma coisa: o meu entusiasmo por essas máquinas de metal que fazem barulho e oprimem a sociedade. Minhas memórias mais antigas vem lá dos meus quatro anos de idade, com grandes máquinas agrícolas e caminhões passando pelas estradas durante as viagens que meus pais faziam (e ainda fazem).

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Histórico

Aprendi a dirigir com 16 anos, em um Toyota Bandeirante. Nessa época tudo o que eu queria era dirigir. Pensei em montar um simulador completo (no PC) e melhorar minhas habilidades. Mas o que eu gosto é do frio na barriga, do medo e da incerteza que a realidade traz – e isso nenhum simulador ia proporcionar… Foi por isso que passei meses do Ensino Médio desviando o dinheiro que meus pais davam pro lanche e comprei um kart velho, e então reformei até conseguir correr com ele. Foram mais de sete meses reformando ele e só dois treinos. Pela vontade da minha familia, tive que parar…

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Quem me mostrou o (pouco) que sei hoje, inclusive sobre direção defensiva (!) e pilotagem esportiva (!!!) foi um cara bem improvável: Dobló Adventure. Mas ele tem adesivos de Nurburgring nas portas, o que obviamente o torna um esportivo exótico. Quando chovia, eu fazia o caminho mais longo e deserto para voltar da faculdade, passando por um estacionamento abandonado. Foi nessas que eu passei a compreender de verdade o comportamento dinâmico e os princípios de transferência de peso de um carro. Ele é do meu pai, e eu sempre faço questão de contar detalhadamente tudo o que faço com o carro [risos].

Pode soar como rebeldia, mas sempre fui responsável com essas experiências, nunca as praticando em locais públicos e com transeuntes inocentes. Me orgulho de nunca ter tomado uma multa de velocidade e mais ainda por nunca ter me envolvido de um acidente – muito pelo contrário: modéstia a parte, já salvei minha pele, o carro e a integridade de muita gente inocente (e as vezes irresponsável).

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BECAUSE RACE CAR, brow

Agora, depois de longos anos trabalhados, o Dobló perdeu o posto de daily e deu lugar à algo mais adequado para o uso dos meus pais. Pelo menos eu consigo dirigir ele de vez em quando…

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É o da direita

 

Tá, mas e o seu carro?

Só tenho um, o que também foi e sempre será o primeiro. Meu carro é um Jeep Willys 1958. Carro não, um amigo. E dos melhores, daqueles que cresceram com você. Em janeiro de 2016 ele fará 58 anos de idade. Desses, os últimos 28 foram na família. Mas… eu ainda não consegui dirigir ele.

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Minha história com ele começou antes mesmo de eu nascer: no final dos anos 80 meu pai comprou um Jeep Willys, usou por um ou dois anos e logo o deixou parado em um galpão. Eu sempre, desde criança, tentava fazer com que meu pai o tirasse de lá e enfim começasse a reforma. Mas ele nunca animou. Aliás, o carro só continuou lá porque eu insisti. Do contrário, já teria sido vendido.

Finalmente, em dezembro de 2012 eu sai de férias e viajei até onde o Jeep estava (Paraná, sendo que moro em SP) e resolvi que ia ver se ele ainda funcionava… mas como? Tinha um caminhão Chevrolet D-60 com a carroceria em cima do capô, impendindo que eu o abrisse. Ué, então vamos tirar o caminhão! Só que o caminhão estava quebrado, sem bateria e com os pneus murchos. Um adolescente desnutrido empurrar várias toneladas na mão foi impossível. Sim, eu tentei.

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Nesse ponto, o Jeep já me olhava com seus faróis arregalados e os pneus murchos, clamando para que eu fizesse alguma coisa… Tinha que pensar em uma estratégia. Se eu apenas falasse para o meu pai me ajudar, eu sei que ele negaria. Então liguei pra ele e falei: “Pai, só estou ligando para avisar que vou pegar o seu trator e rebocar o caminhão pra poder mexer no Jeep”. Duas horas depois ele estava lá. Pois é, ameaças funcionam.

Então ele me ensinou. Viramos o motor na mão pra ver se não estava colado, desmontamos o carburador, limpamos o distribuidor e… tec tec tec tec tec BRWAAAAAAAARRRRRRR

Ele gritava como quem quisesse agradecer por tê-lo tirado da morte certa. Essa foi primeira ignição em todos os mais de 25 anos parado. A marcha lenta impecável surpreendeu. Fazia tempo que eu não ficava tão feliz. Só que parou por aí. Logo tive que voltar para SP pois as aulas recomeçariam… e assim se passaram 2 anos de uma expectativa que nunca se cumpria.

Elaborei vários projetos, várias projeções e infinitas combinações de acabamento. Tudo o que eu sabia é que queria manter o espirito Old School aceso, mas com um tempero a mais. E nesse meio tempo meu pai trocou de carro, que veio com pneus BF Goodrich MUD Terrain 285/75 R16. Por necessidade ele tirou esses pneus e colocou os originais de volta. Os MUD então ficaram sobrando… Perfeito! Só que eles eram muito largos para as rodas originais do Jeep. Elas tem 4,5 polegadas de tala, enquanto o ideal eram 8. Fui procurar um jogo de rodas da F1000, que usa a mesma furação da Willys (5×139,7) e tem tala 7. Encontrei por R$ 200,00. Estavam meio velhas, mas isso eu resolveria com facilidade.

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Os pneus de 285mm calçados nas todas de tala 7 iriam ficar do jeitinho que eu queria!

Agora, em janeiro de 2014, finalmente eu tinha condições para começar de verdade a empreitada. E lá fomos nós: enchi os pneus originais (que estavam absurdamente ressecados, mas sem vazar nada!), tiramos o D-60, puxamos o Jeep com o trator e fomos empurrando ele com a Toyota até chegar na porta de casa, onde eu dei um banho nele e então coloquei pra dentro da garagem.

 

O projeto

O Jeep foi originalmente criado para aplicações militares – numa época que ele sequer tinha esse nome. Você, mero mortal, não podia ter um, a não ser que você fosse o exército. Lá, ele nasceu com a sigla GP, de “General Purpose”, e então a pronúncia em inglês da sigla – fala-se GEE PEE – originou o nome que hoje conhecemos: Jeep. Era um carro tão versátil que podia ser enviado à terra por paraquedas ou então guardado dentro de uma compacta caixa de madeira. Fez tanto sucesso que até ganhou uma versão civil: os CJ (Civilian Jeep).

Aqui no Brasil o CJ5 chegou com um motor 6 cilindros, o famoso e modular BF-161. A base desse motor foi usada em vários carros, como o Itamaraty, o Aero-Willys, Rural, F-75 e até no Maverick. Era um bom motor, durável, econômico (pros padrões da época) e muito confiável, mas era um projeto já antigo e muito fraco para algumas aplicações. No Jeep era ideal, já que tinha muito torque em baixa. São 19kgfm a 2.000 rpm, que favorecem muito o serviço pesado.

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Trocar o motor é uma coisa que eu não quero fazer. Isso seria uma afronta à história que tenho com ele. Otimizá-lo é meio dificil. A admissão é fundida no cabeçote, o que me impede de trocar o carburador por um novo par. Comprar um cabeçote do Aero Willys – que tem entrada para dois carburadores – seria a melhor saída, aliás. Com carburação dupla, escape 6×2 e alguma alteração no ponto de ignição, o Aero Willys rendia até 110 HP e 19,5 kgfm de torque. Só que quem tem um desses pede um absurdo! Então descartei a idéia.

O que importa aqui é que o projeto está dividido em duas fases básicas: Restauração e Preparação. No meu cronograma de curto prazo (três meses), a prioridade é deixar o Jeep em condições plenas de rodagem e já encaminhado para as etapas seguintes. Nessa etapa, aliás, os pontos considerados foram (e estão sendo, em alguns pontos) os seguintes:

  • Revisar e atualizar o sistema de freios
  • Substituir jogo de pneus
  • Revisar mecânica
  • Revisar elétrica
  • Refazer assoalho dianteiro esquerdo
  • Fazer vistoria e regularizar o carro (estava com placas amarelas, mas já tenho as atuais)
  • Dar um trato superficial na pintura
  • Instalar bancos, cintos, Santo Antônio e tanque de combustível
  • Instalar os acabamentos

Isso tudo já está pronto, e vou falar mais precisamente nos próximos posts. Falta apenas montar o  tanque de combustível, os bancos e fixar os cintos de segurança. Vou fazer isso agora em Janeiro de 2016. Terminando, trarei o carro para São Paulo e o usarei em todas as situações. Vai ser meu período de adaptação, para conhecer o carro e saber exatamente o que melhorar na etapa seguinte, que virá um pouco mais pra frente, junto com minha maturidade.

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Como amante de quase tudo que tem rodas, motores e pode navegar, voar, andar ou correr, o que mais valorizo é um projeto bem elaborado e bem construído, independentemente da proposta. Meu Jeep não será específico de trilha, muito menos de passeio. Ele apenas deverá fazer aquilo que todo carro foi feito pra fazer: andar. Da melhor forma possível e em todos os lugares que puder alcançar, aliás. Não quero perder a originalidade pela qual me apaixonei, mas também quero o melhor que pode ser feito nele nessas condições.

É aqui que começa a preparação. Uma preparação leve, mas bem feita e ainda não totalmente definida. Meus planos são:

  • Sistema de exaustão redimensionado, partindo do coletor e terminando em um abafador Drawmaster (fiz todos os cálculos baseados nos posts do Flatout!)
  • Sistema de alimentação otimizado, o que inclui um novo carburador e novo sistema de admissão de ar (improvável de ser feito agora)
  • Sistema de ignição eletrônica (ainda estou em dúvida quanto a isso, para ser sincero)
  • Velas com ponta de irídio (não encontro em lugar nenhum…)
  • Freios a disco nas quatro rodas (na frente já tem discos de 300mm! Conto no próximo post)
  • Pneus 285/75 R16 montados em rodas “modulares”, com grafismo semelhante às Aero usadas na NASCAR
  • Aumentar bitola de ambos os eixos (ainda não defini o método)
  • Gaiola interna seguindo os parâmetros da FIA
  • Bancos de época (talvez eu ainda opte por conchas) com suporte que estou desenhado para acomodar cintos de 4 pontos
  • Volante Lotse pouco menor que o original (375mm, contra 400mm)
  • Dois faróis de neblina de lentes amareladas, fixados no parachoques dianteiro
  • Dois faróis de milha, fixados no alto do Santo Antônio
  • Pintar na cor Grabber Blue, a icônica tinta usada nos Mustangs de todas as gerações
  • Carroceria em fibra, mas idêntica à original, desde os vincos até a abertura da tampa traseira e caixa de roda redonda (WEIGHT REDUCTION, BRO!
  • Guincho elétrico com capacidade de 9000lbs.
  • Alargadores de paralamas, para deixar os pneus dentro do que rege a lei (vai ser a ultima coisa que vou fazer, porque não gosto deles)

Vale salientar que essa preparação não é o foco desta minha passagem pelo PC, mas estou aprontando tudo para facilitar mais pra frente. Além do mais, algumas soluções já foram aplicadas (freios, acabamento, interior completo, iluminação…), então vou detalhar tudo, pois na pior das hipóteses vou ajudar alguém que precisa da informação. Não há nada que não possa ser revertido e, no fim das contas, terei um Jeep com capacidades On e Off-road ampliadas, além de um equilíbrio dinâmico exponencialmente mais bem acertado que o original.

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Absolutamente tudo o que pode ser feito em casa, de fato está sendo feito. Sou estagiário e isso não permite que eu faça muita$ coisa$. E outra: ninguém mexe no meu carro sem que eu esteja olhando.

Assim como uma flor não nasce do dia para a noite, não vou liberar todo o projeto hoje… Mas já está plantada!

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Por Leonardo Porfirio, Project Cars #319

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