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Car Culture

Singer: por dentro da oficina que faz os Porsche 911 mais incríveis do planeta

“Fábrica de sonhos” é um termo cansado, mas se aplica perfeitamente ao que os caras da californiana Singer fazem. Ele pegam o melhor do 911, dão seu toque pessoal e o transformam em um esportivo absurdamente bem feito, com visual clássico e acabamento, desempenho e construção modernos. Hoje você vai conhecer um pouco melhor o trabalho da Singer e, certamente, vai ficar com ainda mais vontade de ter um.

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O Porsche 911 é uma verdadeira instituição sobre rodas, mantendo sua essência intacta por debaixo dos inúmeros aperfeiçoamentos feitos ao longo de cinco décadas — algo visível em sua silhueta, praticamente inalterada em seis gerações. Contudo, o carro mudou bastante — ficou maior, mais potente e cheio de tecnologia. Mas e se a Porsche fosse realmente apegada às suas raízes, a ponto de manter a mesma carroceria, com para-choques de metal, o mesmo design no interior e até mesmo o motor refrigerado a ar?

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Em primeiro lugar, isto não seria possível — boa parte das mudanças em todos os carros, não só no 911, se devem às constantes atualizações nas normas de segurança para os automóveis. Além disso, existe a concorrência — e a Porsche não poderia simplesmente ignorar as tendências em favor do purismo. Isto acabaria com as vendas do 911, que  é comprado por muita gente que não dá a mínima para tradição, e o tornaria um carro de nicho.

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Mas, para boa parte dos fãs da Porsche, dane-se tudo isto. O 911 deveria ser ainda mais parecido com o que era em 1963 e, se a Porsche o fizesse assim, seria um sonho realizado para muita gente. E o carro certamente seria muito parecido com os carros que são feitos pela Singer. Só que os Singer são melhores — o que nos traz de volta a nossa “fábrica de sonhos”.

Um Singer 911 começa a vida como um Porsche 911 antigo — pode ser o modelo clássico, lançado em 1963, ou a segunda geração, o 964. Então, os artistas da preparadora pegam a estrutura básica, se livram do resto e refazem tudo do zero. Por esta razão, a Singer não é uma fabricante de automóveis (eles fabricam sonhos, lembra?), e sim uma customizadora e preparadora. Seus clientes compram carros e os levam para ser modificados, mantendo o número de chassi e toda a documentação como um Porsche 911.

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O primeiro protótipo da Singer foi um 911 laranja apresentado no Concours d’Elegance Pebble Beach, na Califórnia. O carro era simplesmente estonteante, e fez com que todo mundo ficasse de queixo caído — e os criadores recebessem inúmeras encomendas. Desde então, eles não pararam mais.

Ao olhar um Singer, o que chama a atenção logo de cara: o acabamento impecável e a impressão passageira de que aquele é um 911 original, mas com algo “estranho”. Mais largo, mais baixo, calçando rodas e pneus mais largos… esse stance matador é parte da identidade da Singer. Mas isso é só o começo.

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Todo 911 Singer tem a carroceria alargada nos para-lamas — serviço que usa primeiro modelagem em argila, e depois fibra de carbono — para acomodar melhor os gordos pneus e rodas com visual clássico das Fuchs, porém bem alargadas para acomodar toda a borracha extra. A largura extra também deixa o carro mais agressivo e com proporções mais atuais — sem destoar, contudo, um milímetro da proposta old school do design.

Então você começa a reparar nos detalhes: os grafismos temáticos, o bocal do tanque de combustível saindo pelo capô, os projetores modernos por trás das lentes dos faróis, o aerofólio traseiro acionado eletricamente, e vê que o carro não é mais o mesmo.

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Abrindo a porta, você depara com couro por todos os lados (incluindo no porta-malas e no compartimento do motor). Onde não há couro, há lata impecavelmente brilhante ou alguma textura encomendada pelo futuro dono do carro. Mais uma vez, se parece com o interior impecável de um 911 original, mas tudo foi refeito para dar exatamente esta impressão, porém com materiais mais refinados e acabamento obsessivamente impecável.

O couro dos bancos, painel, assoalho e painéis das portas pode ser liso, de couro entrelaçado ou costura com padrão de losangos. O sistema de som é moderno, com alto falantes de alta definição, porém com visual antigo — especialidade da Becker Autosound. Os bancos podem ser reformados aproveitando a estrutura dos originais , que recebem espuma e forração totalmente novos, ou feitos do zero, usando fibra de carbono. Em qualquer um dos casos, são extremamente confortáveis e apoiam muito bem. Arrematando tudo, uma discreta gaiola de proteção.

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Aliás, a estética de todo Singer segue um padrão, porém os detalhes são colocados à escolha de quem o encomendou — cor, adesivos, emblemas, acabamento no interior e especificações técnicas.

Falando nelas, obviamente a Singer não dá atenção apenas à estética do 911. Eles também modificam motor, suspensão e câmbio (sempre manual de seis marchas) para garantir que o dono de um Singer tenha a experiência orgânica de dirigir um carro antigo sem se preocupar com os, digamos… contratempos que um velhinho costuma trazer a tiracolo. Afinal, mesmo um Porsche 911 clássico totalmente original e impecável ainda é um carro feito há 30, 40 anos, quando o padrão era outro — a direção não é tão precisa, os freios não são tão eficientes, e a ergonomia exige contorcionismo e a dinâmica pode dar alguns sustos. Não é impossível de dirigir, mas está longe do que estamos acostumados.

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A Singer tira as partes ruins e amplifica as partes boas. Direção? Sem assistência ou, no máximo, hidráulica, mas com precisão invejável e muito feeling transmitido para o volante (geralmente um Momo). Freios? Brembo, com discos ventilados e perfurados. Os comandos podem ser atualizados para melhorar a ergonomia para o motorista, porém mantendo o visual tradicional.

E então chegamos ao conjunto de motor e câmbio. Os Singer não são carros de pista, não foram feitos para andar virar tempo em autódromo, mas são feitos para que, caso necessário, façam bonito no asfalto — reto ou sinuoso.

Sendo assim, a receita da Singer é consagrada: motor boxer refrigerado a ar — isto é mandatório — e preparação aspirada. Se eles quisessem, poderiam fazer um verdadeiro monstro turbinado de centenas de cavalos, mas preferem preparar algo à moda antiga, com cornetas de admissão e um número até conservador. As receitas variam nos detalhes e na escolha dos componentes, mas os boxer de seis cilindros preparados por ninguém menos que a Cosworth costumam entregar potência na casa dos 300 cv e torque de 30 mkgf. O carro azul acima, por exemplo: motor de 3,8 litros, virabrequim de 911 GT3 996, 360 cv e 38 mkgf de torque — o bastante para acelerar até os 100 km/h em 4 segundos.

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Para ajudar nas curvas, o sistema de suspensão é atualizado com amortecedores ajustáveis do tipo coilover da Öhlins no lugar das barras de torção — ainda que, como em todo o resto do carro, o cliente possa especificar o kit exato que ele quer.

No fim das contas, a Singer entrega a cada um de seus clientes um Porsche 911 com visual clássico e inconfundível, porém uma infinidade de elementos que tornam cada carro único e exclusivo. E não estamos falando isso por deslumbramento — afinal, a Singer já está por aí há quatro anos e gente do peso de Chris Harris e James May já declararam seu amor incondicional por suas criações — é só ver no vídeo acima, onde Harris elogia efusivamente cada um dos aspectos do Singer depois de dar um passeio pela fábrica, ou o vídeo abaixo, onde May chama os Singer de “uma carta de amor ao 911”.

Não temos dúvidas de que cada membro da obsessiva equipe de engenheiros da Singer realmente ame o Porsche 911 como poucas pessoas no mundo e, por isto mesmo, faça de tudo para que o carro atinja seu potencial máximo — não em termos de desempenho, mas de toda a experiência sensorial envolvida: visual, prazer de dirigir e, claro, o ronco do motor aircooled.

Precisa de mais provas? Na verdade, nós também. Nos recusamos a acreditar que exista um carro tão perfeito até comprovarmos nós mesmos, ao volante. Mas não é muito fácil conseguir um destes — quer dizer, fácil é: é só encomendar. Difícil é ter os pelo menos US$ 300 mil (R$ 660 mil) que um Singer custa — três vezes mais do que um Carrera S 2014. Preço digno de algo feito em uma fábrica de sonhos.

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