FlatOut!
Image default
Sessão da manhã

A mágica ensurdecedora de um V8 americano girador

Eles não nasceram para girar alto. Componentes pesados, capacidade de lubrificação limitada com forças de aceleração lateral e longitudinal, e para completar, aquele sistema de comando no bloco com acionamento de válvulas por varetas que não ajuda em muita coisa – pelo contrário. Mas se há uma coisa na qual os americanos se especializaram é tirar uísque de pedra com os V8 small block. O resultado é um berro de arrepiar todos os pelos do corpo. A brincadeira começa a partir de 7.500 rotações por minuto, e pode atingir até – pasmem – 12.000 giros.

O segredo para fazer o elefante voar e dar loopings começa na escolha dos componentes corretos. Se eles não existem, que sejam fabricados. Bielas e pistões peso-pena de ligas especiais de alumínio, conjunto balanceado a uma tolerância insana, lubrificação aprimorada com o uso de bombas externas (ou cárter seco), defletores no cárter para evitar que os colos do virabrequim fiquem “batendo” na piscina de óleo, comandos roletados com graduações estratosféricas, varetas de balanceiros curtas (são mais resistentes, mas exigem que o comando seja instalado mais alto fisicamente), válvulas de titânio, óleo sintético fino, mas capaz de deixar um filme extremamente aderente, muito trabalho de fluxo… e uma montagem com o cuidado, limpeza e precisão dignos de um laboratório da NASA.

O resultado desta lista seriamente longa – o parágrafo acima é a ponta do iceberg – é um motor aspirado, com 5,8 litros ou menos, capaz de gerar potências de até 750 cv a 9.500 rotações por minuto.

Mas o que realmente importa são os berros massivos, roucos e agudos. Não têm nada da elegância e o afino de um V12 de três litros europeu – Ferrari, Maserati, dê o nome que for —, mas são bestiais, viscerais, carnívoros. Eles também roncam de forma diferente dos V8 com virabrequim de um plano só, como os da Ferrari – que também possuem seu próprio encanto no ronco.

Empresas como a Arrington (abaixo) montam motores nas especificações da NASCAR, para competição. Mas também vendem para lunáticos endinheirados, como…

…Leif Nilsen, que conseguiu enfartar americanos e alemães ao mesmo tempo, instalando um V8 de Nascar em seu BMW. Os abafadores deixaram o ronco um pouco estranho, mas estranho mesmo sou eu — de não poder acelerar este brinquedo.

Quando as 9.500 rpm da NASCAR parecem demais, você descobre que há motores de arrancada girando quase 12 mil rotações por minuto.

Australian V8 Supercar. Limitados a 7.500 rotações, potência acima dos 600 cv – e os melhores pilotos de turismo do mundo. Alguém duvida? OBS: os V8 aussies possuem duplo comando no cabeçote.

Isso é ridículo. Um big block Chevy girando quase 10.000 rotações. Onde esse mundo vai parar?

Certamente não é o motor mais forte deste post, mas sem dúvida, o mais valente. Um V8 Ford 289 (com bloco Boss 302) girando 8.400 vezes por minuto é coisa de louco. Ouça a segunda passagem no dinamômetro, quando o piloto espeta as marchas, uma atrás da outra.

Para encerrar, fica a menção honrosa ao BMW 320 E36 do finado George Plasa, equipado com um V8 Judd de 3,5 litros, capaz de chegar a… 10.000rpm! É outra concepção de motor, com virabrequim de plano simples e uma arquitetura bem diferente dos exemplos acima – mas se tem combustão, meu caro, estamos dentro.