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Project Cars Project Cars #217

A transformação de um Fiat Palio em um carro de rali – conheça o Project Cars #217

Olá pessoal do Flatout! Meu chamo Geraldo Camara, tenho 26 anos e sou analista em telecomunicações (infelizmente não participo da Fórmula Uno/Celta escada!) e também ciclista em uma equipe familiar, a Girassol Sports. Este é o primeiro post sobre meu querido “Blacksun”, um Fiat Palio transformado em carro de rali, dizendo como surgiu o projeto, quais estágios serão e também como nasceu minha paixão pela marca! Brincadeiras a parte, o carro é um Palio Fire Celebration 2013/14, sem ABS nem airbag.

 

Como surgiu um gearhead

Bem toda paixão tem um início, certo? E nisso não existe um roteiro ou modo de acontecer.  A minha eu lembro bem: em 1996 estava indo para o primeiro dia de aula no ensino fundamental e na porta da escola tinha um Uno Turbo vermelho (que era de uma mãe de um aluno da escola). Aquela cor, o brilho, aquele bodykit exageradamente perfeito para o carro roubou minha atenção: eu tinha só seis anos de idade, mas lembro de ficar babando no carro. Vários dias eu via ele lá na porta da escola e isso me fez admirar o modelo. Até hoje admiro do mesmo modo.

O tempo passou e a paixão por carros aumentou e com isso (com 14 anos) participava de campeonatos de plastimodelismo e mini-tuning (modificação em miniaturas de carros), algo que também continua até hoje com meu automodelo.

Com 19 anos tirei a CNH e qual foi meu primeiro carro? Um Uno Turbo!? Não: uma Strada 1.4 fire 2008 que meus pais deixavam para eu usar. Passado uns anos, troquei a Strada por um Fiesta 1.0 também de meus pais e em 2013, mais precisamente em 15 de novembro de 2013 às 09:15 fuibuscar meu lindo Blacksun zero km na loja. Eu pensava que não teria problemas com carro novo. Pensava.

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A minha antiga Strada “Angel”, essa foto foi um dia depois que a tinha entregue para a concessionária

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Meu antigo Fiesta “Christine”, muitas histórias com este carro. O nome tem motivos!

 

O início da história do Blacksun e o nascimento do Palio Rally

Bem, como disse acima, o carro fui buscar em um feriado. Loja aberta, carro emplacado e documentação pronta, mas cadê o carro? Bem, ele estava lá, mas no pátio e sem lavar! A vendedora junto com seu colega de trabalho que me agüentaram dois meses indo lá todo dia negociar o carro para enfim conseguir baixar o valor (consegui um desconto de R$ 5.000) vendo a situação (nota: a ordem de limpeza do carro estava datada dois dias antes no painel) resolveram lavar o carro e limpar por inteiro (e muito bem feito!).

Consegui documentos bacanas do carro onde foi possível puxar sua história desde minutos depois de deixar a linha de produção como vaga de pátio, data que chegou a concessionária e tudo mais.

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No showroom ainda, antes de ser emplacado

Mas voltando ao dia de entrega: carro limpo, chave e documento na mão, hora de ir para casa com um carro que posso chamar de meu! Ao chegar em casa primeira coisa a se fazer? Instalar o sistema de som. Esse carro foi vendido sem pré-instalação para som (dizia a loja), mas ao tirar a tampa do painel estava tudo lá! Como também todos os chicotes para outros acessórios.

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Instalando o kit duas vias, com chicotes originais!

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Instalado e funcionando!

Mas nem tudo é perfeito. Ao sair de casa pela primeira vez peguei uma chuva forte, como tinha ido fazer compra do mês com minha mãe usei o porta-malas e ai vem à primeira descoberta desagradável: Uma infiltração grande na torre de suspensão traseira. A água jogada pela roda ao andar com o carro, parte entrava pela vedação e molhava todo o carpete do carro.

Ao levar o carro a concessionária, foi dito que para resolver esse problema teria que refazer toda a vedação e repintar a traseira toda do carro (com menos de 100 km) para resolver. Além do prazo de cinco dias para executar o serviço, assim resolvi por a mão na graxa e resolver, ou massa!

Em dez minutos o problema foi resolvido. Não tenho fotos de quando fiz, mas a torre traseira do Palio tem um reforço estrutural que pega desde a parte inferior do monobloco e vai até o ponto de fixação do amortecedor no topo da torre, a infiltração era bem nesta parte. Para resolver usei massa de calafetar (colocando em toda a extensão do reforço) e depois com um spray preto pintei. Assim quem olha hoje não vê nenhum reparo e nunca mais teve infiltração (até hoje).

Porém, agora começa a saga dele na lama. Acabei não comentando no começo do texto, porém sou ciclista tanto de MTB como speed. Uns dias depois que peguei o carro tive uma prova de endurance, seis horas de MTB. Chovia bastante e o estacionamento estava um lamaçal. Imagina minha alegria ir com o Blacksun lá e sair deslizando na lama! Ele tinha uma semana comigo e já foi.

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A “Moranguinho” da minha mãe e o Blacksun. Somente o meu estava sujo! Será de família a paixão pela Fiat?

Ainda nem imaginava que um sonho de criança poderia vir à tona com ele!

 

Mas porque um carro de rally?

Bem, voltando ao meu tempo de criança, aqui na minha cidade tinha a equipe Petrobras de Rally (irmãos Azevedo). E direto eram vistos os carros, motos e caminhões de rally na cidade. Os carros utilizados pela equipe eram Pajeros preparadas, caminhões 4×4 da Mercedes e motos igualmente modificadas. Nisso comecei a ter uma admiração por este mundo dos carros, que em um todo são completamente diferentes e chama a atenção de qualquer criança pelas cores, jeito do carro (acho que não só de crianças). Então imaginem como eu ficava quando via um desse na rua, melhor dizendo, acho que fico até hoje quando vejo um carro de rally andando na rua, só não fico mais puxando a saia da mãe (agora é da namorada).

Lembro também que há muito tempo tinha saído uma reportagem na revista  Quatro Rodas a respeito do Palio Rally Abarth, qual a Fiat disponibilizava a qualquer um que quisesse um carro de rally homologado e pronto para correr, valor bem mais elevado que o modelo comum, diga-se de passagem.

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Por muito tempo imaginava ter um carro de rally que pudesse correr e quando quisesse andar na rua com todo aquele conforto zero de um carro de competição, porém com um tremendo sorriso no rosto.

Porém com a correria do dia-a-dia, serviço, faculdade de engenharia e ciclismo acabou o projeto ficando um pouco de lado e até mesmo eu pensando em outros estilos de personalização e modificação.  Como a vida é uma caixinha de surpresas, a qualquer momento esta idéia voltaria à tona, de um jeito ou de outro.

 

Primeiros passos do projeto.

Inicialmente, o projeto não era um carro de rally, mas um OEM+, com rodas da Alfa Romeo, suspensão a ar, interior personalizado no estilo dos Abarth.

Porém, vendo na internet algumas referências de projetos (até de outros modelos da marca), acabei achando um anúncio de um Palio TR (carro fruto da parceria da Fiat com a equipe Ted Racing de rally). Naquele momento deu um estalo na minha mente e acabou pintando idéias novas e fazendo-me abandonar o projeto antigo (sim, fico feliz em dizer isso hahaha!).

Em janeiro de 2014, teve um evento na minha cidade (Garagem X Motor Show), no qual foi realizado no pavilhão de eventos de um shopping da cidade e que seguia os moldes do antigo Salão do Tuning (carros expostos e empresas com stands apresentando seus produtos). Fui convidado junto com o clube que fazia parte, definido os carros na diversas reuniões que tivemos com o organizador do evento. O meu estava no meio, porém apenas com as modificações em mente, pois o carro estava completamente original e assim não teria como, e agora?

Como já tinha definido o rumo do projeto, começo as primeiras modificações. Apenas uma semana para deixar o carro pronto para a exposição, precisava usar todo o meu tempo livre, ou seja, a noite, madrugada, horário do almoço e o único final de semana que tinha antes do evento. O carro tinha que estar pronto quinta-feira a tarde para ser entregue a noite aos organizadores, então o jeito era não perder um minuto sequer.

No espaço curto de tempo, aprimoramentos mecânicos não era prioridade, visto que seria apenas exposto, então foquei em rodas e estética para apresentar o conceito.

O primeiro acessório instalado no carro foi um conta-giros Cronomac de 100 mm. A marcação dele vai até 10.000 rpm (por enquanto parece estranho, mas no decorrer do projeto ele será funcional, minha namorada gearhead também estará no meio unindo a profissão dela à nossa paixão por carros!). Comprei-o usado de um amigo e o mesmo precisava de reparo. Infelizmente na época acabei não tirando fotos do conserto, mas por ser da área de eletrônica foi simples arrumar, bastando apenas refazer as soldas da placa e da bobina.
Com ele todo aberto, aproveitei para fazer a primeira personalização dele, imprimindo o brasão da Abarth e o da Fiat azul (usado na traseira dos Palio até 2004 se não me engano), assim ele ficou mais “original”, ficando mais próximo da proposta final dos mostradores que quero alcançar.

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Foto dele instalado e pronto

Os outros dois medidores que aparecem na foto acima foram presentes do Peterson. Ele na semana antes do evento deu uma força muito grande no projeto me cedeu os medidores (hallmeter e pressão do óleo). Esta configuração ficou por um tempo assim, depois acabei mudando de posição e deixando mais livre o campo de visão (mesmo deste modo não atrapalhava enquanto dirigia).

Logo em seguida comecei a fazer os mudflaps. Eu procurei na internet alguns para comprar, porém nada foi do meu gosto e bolso, além do prazo extremamente apertado, assim acabei decidindo em fazer os meus. Comprei sobras de borracha aqui na minha cidade na cor vermelha (seguindo o padrão dos Palios TR). O local onde consegui a borracha tem vários tipo, espessuras, cores e dureza das folhas. Se alguém daqui precisar de algo do tipo, eu passo o contato da loja.

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Folha de borracha comprada e já riscada para cortar

Minha mãe que não gostou da idéia, visto que roubei a tesoura dela e a acabei destruindo cortando (borracha tinha em torno de 5 mm de espessura!), porém consegui cortar todos, (nota: o afiador perto de casa que adorou isso também!).

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A tesoura e os mudflaps cortados

Mas ai vinha o problema, como fixá-los? Lembro então de umas pedaleiras que ganhei do meu amigo Heitor Regiane, ainda será citado aqui, e dos parafusos e porcas que vieram nelas. Foi como somar 2+2, casou perfeito por conta das garrinhas que faziam parte do kit de fixação das pedaleiras, as quais ainda estou para instalar, Heitor me mata ainda!

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Parafusos e garrinhas parecem que foram feitas pro projeto!

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As pedaleiras em questão, o que acham?

Juntando essas garrinhas com a fita dupla face 3M para exterior, ficou muito forte a fixação, ficando assim por um ano e meio até eu retirar (no próximo post irei dizer o porquê e para qual carro ele foi).

Fixado, o carro mudou a aparência, porém ainda tinha um problema. Ainda estava com as calotas, algo estranho num carro de competição, certo?

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Então no outro dia fui trabalhar com o carro assim, mas as rodas já estavam definidas. As rodas eram da Binno, modelo Califórnia 15” (Rafael, muito obrigado pela força!). Ele tirou as rodas do carro dele para passar pro meu. Mas pra montar no meu, que melhor hora que no almoço ao meio-dia? Sem anel centralizador, teve que centralizar manualmente, mas deu tudo certo (depois comprei o anel!).

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Falta pouco, imaginem a bagunça na hora

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Rodas montadas! Derretendo no sol, mas extremamente satisfeito

Na foto das rodas, repararam a faixa branca na lateral? Então foi feita por mim, pois além de montar um carro para rally, ele também é usado para apoio da equipe de ciclismo, então porque não unir minhas duas paixões? Foi feito as faixas e os logos da Girassol Sports para colocar no carro (no caso só as escritas mandei fazer). Foi nas madrugadas que fiz as faixas, medindo e indo no chão do meu quarto recortar (hoje entendo porque falam pros pais não deixarem as crianças usarem estilete!).


Corta daqui, mede dali e dá-lhe estilete no dedo!

Nisto, também desmontei uma pequena parte do interior do carro (na primeira vez, mais pra frente irão ver o porquê), para colocar os estepes na traseira do carro. Usando o carro sem nada na traseira era até certo ponto engraçado, pois nesta altura na rua todos olhavam e estranhavam (bem isso é até hoje, acabei me acostumando com o “ame ou odeie”). No dia a dia ele é montado com o banco traseiro e estepe no local original.

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Mas faltando algumas horas para entregar o carro, cadê os adesivos das escritas prontos? E foi um corre-corre cobrando a loja, telefonando, pressionando e tudo mais. Aos 48 do segundo tempo, eles avisaram que estavam prontos e podia levar o carro imediatamente para aplicar. Não preciso falar duas vezes. Adesivos aplicados, hora de levar o carro para expor! Abaixo seguem algumas fotos do evento:

 

Projeto iniciado, mas rally de velocidade ou rally de regularidade?

A modalidade mais conhecida por todos é o de velocidade, por conta do WRC, ERC… Porém para se ter um carro para tal modalidade, é preciso ser homologado, cursos e tudo mais.

Mas a “categoria base” é o rally de regularidade. Neste você pode usar um carro comum para participar e ter apenas a CNH e não precisa de experiência. Nesta modalidade, a velocidade alcançada na competição é bem menor da qual andamos na cidade, então assim os riscos de acidentes são praticamente nulos.

No rally de regularidade normalmente são duas categorias cruciais, 4×4 e 4×2. É aqui que separa tudo pelo carro. Excluindo as categorias por níveis de experiência, a separação por tração do carro vai dizer qual percurso irá fazer, sendo 4×4 tendo alguns atoleiros “leves” e no 4×2 acaba sendo praticamente estrada de chão e alguns “atoleiros” (entre aspas, pois acabam mais sendo poças de lama do que atoleiros). Com isso, um carro 100% original pode encarar sem nenhum risco (vide o Rally Universitário Fiat).
Sempre, como em qualquer competição, tem as categorias por níveis de conhecimento e experiência no rally, como explicado abaixo:

  • Novatos, amadores, iniciantes ou light: categoria de entrada nos rallies para equipes sem experiência em competições;
  • Turismo: para competidores com boa experiência em provas do gênero. Nesta categoria já devem ser filiados à CBA – Confederação Brasileira de Automobilismo;
  • Graduados ou master: para competidores com vasta experiência e bem pontuados em campeonatos nacionais e regionais. A CBA controla a categoria de cada competidor não permitindo a participação em categorias inferiores.

Com isso, quem deseja aprender na prática a usar a planilha de navegação ou mesmo equipamentos de navegação (Totem ou similares) pode participar sem problemas.

Esta modalidade acaba abrindo as portas para outras competições, como o rally de velocidade, pois com a experiência de navegação que se adquire (juntamente com cursos, tanto para piloto quanto navegador).

Caso de interessem em saber mais, leiam este artigo sobre o rally de regularidade. Irei comentar bastante a respeito desta modalidade no decorrer dos textos e dicas também para quem quiser iniciar na categoria, tanto sobre o carro em si (como estou preparando), como também em equipamentos de navegação (nota: sobre os equipamentos de navegação pode variar de competição para competição, então além dos que irei instalar no carro, vou falar a respeito do geral).

Bem pessoal, o post irei parando por aqui, porém no próximo a parte mecânica do carro terá uma atenção bem maior e irei mostrar os problemas em relação a isso e as brigas com o Blacksun, que é extremamente sentimental e não aceita desaforo!

Até o próximo capítulo!

Por Geraldo Câmara, Project Cars #217

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