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Afinal… o que significavam os enigmas do Dodge Challenger SRT Demon?

Não ficamos nem um pouco decepcionados com o Dodge Challenger SRT Demon, finalmente revelado nesta semana. Ficamos preocupados com esta possibilidade, pois a campanha pré-lançamento, que contou com aproximadamente 1.302 teasers em vídeo, aumentou demais as nossas expectativas. E todo mundo sabe que quanto mais altas, mais frágeis as expectativas são.

Claro que, com um motor V8 Hemi 6.2 supercharged capaz de entregar insanos 808 cv e 98,9 mkgf em condições normais e mais insanos ainda 852 cv e 106,2 mkgf de torque, não havia como a gente se decepcionar. Na pista de arrancada, com pneus drag radial, queimando combustível de competição, o Demon vai até os 100 km/h em 2,3 segundos e cumpre o quarto-de-milha em 9,65 segundos, a uma velocidade superior a 225 km/h com gasolina de 100 octanas.

Falando em números, boa parte da campanha de teasers do Demon contou com a presença deles. Eram números aparentemente aleatórios, alguns como parte de pequenas equações que, à primeira vista, pareciam não fazer sentido algum. Outros até possibilitavam alguns exercícios de dedução que acabaram confirmados no lançamento. Todos, no entanto, nos fizeram quebrar a cabeça ao menos por alguns minutos.

Agora que o carro já foi revelado e apresentado, a Dodge decidiu dar as respostas para os enigmas da campanha de lançamento. Compilamos todas elas a seguir!

 

“Cage”

O primeiro vídeo da campanha foi Cage (“jaula”), lançado no dia 12 de janeiro. Foi o primeiro “pronunciamento” oficial por parte da Dodge a respeito do Demon. O vídeo, com todo jeito de trailer de filme B de ação, trazia um felino robótico preso em uma gaiola. Ao escapar (e esmagar alguns ratos de laboratório sobre o asfalto, que podemos interpretar como a concorrência), o robô felinóide encontra um galão do que certamente é combustível de competição e, com uma explosão, se transforma em um andróide demoníaco.

Interpretamos o gato autômato como uma referência ao Hellcat e certamente não estamos errados, embora a Dodge se recuse a dizer que o motor do SRT Demon é uma versão preparada do V8 do Hellcat e diga que algo entre 25% e 50% de seus componentes são novos.

 

“Body”

Um dos teasers mais misteriosos foi apresentado no dia 26 de janeiro. O vídeo mostrava o Demon fazendo um burnout e suas marcas de pneus no asfalto, terminando com uma imagem da traseira do carro, na qual a placa do carro apresenta a inscrição “#2576@35”. O que significaria este número?

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Segundo a Dodge, apenas quem tivesse “40 anos ou mais” seria capaz de entender a charada. O “#” não é uma hashtag, e sim o símbolo usado no passado para libras (a unidade de peso do sistema imperial, não a moeda britânica). Ou seja: são 2.576 libras, ou 1.168 kg. No entanto, não se trata da massa do carro, evidentemente, e sim da transferência de peso necessária para levantar as rodas dianteiras na hora da arrancada. O “35” é a distância percorrida pelas rodas dianteiras no ar em polegadas, equivalente a 89 centímetros – um recorde reconhecido pelo Guinness.

“Crate”

O teaser lançado no dia 2 de fevereiro dizia respeito à Demon Crate, o baú opcional que inclui todos os componentes necessários para fazer com que o SRT Demon seja capaz de queimar combustível de competição de alta octanagem (100 octanas), entregar 852 cv e cumprir o quarto-de-milha em 9,65 segundos.

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O vídeo incluía uma imagem estática da plaqueta com o número de série do carro e o nome do proprietário, que acompanha o baú. “Tom Coddington” é o nome de um dos membros do Ramchargers original, um grupo de engenheiros que, no fim da década de 1960, trabalhou depois do expediente para transformar os Dodge em carros vencedores na arrancada.

 

“Third Law”

O nome do teaser revelado dia 23 de fevereiro é uma referência à Terceira Lei de Newton, o cientista que descobriu a gravidade e, no século XVII, formulou as três leis que nos possibilitam compreender um dos princípios básicos da física: o comportamento estático e dinâmico de um corpo material.

A Primeira Lei de Newton diz que “um corpo estático permanecerá em estático até que uma força seja aplicada sobre”. A Segunda Lei afirma que “a mudança de movimento é proporcional à força motora imprimida, e é produzida na direção de linha reta na qual aquela força é aplicada”. A Terceira Lei diz que “toda ação tem uma reação oposta e de igual intensidade”.

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O enigma aqui são os números meio escondidos na fumaça do pneu: 13,5=575@500. Muita gente se atreveu a tentar adivinhar, ninguém acertou. Quer dizer que a 13,5 mph (21,7 km/h), o Challenger SRT Demon atinge seu pico de aceleração, 57,5 pés por segundo (17,5 metros por segundo), .500 segundo (ou 0,5 segundo) depois de arrancar.

Havia ainda uma série de equações relacionadas ao “software”:

Rear = F/F and Front = F/S
F/F — F/S mantained @ wide open throttle (WOT)
F/F — F/F < WOT
Traction disabled / ESC mantained

O que isso tudo significa? A programação dos amortecedores adaptativos. O “Rear = F/F” significa que o rebound e a compressão dos amortecedores traseiros está no modo firme (firm). “Front = F/S” é compressão firme e retorno mais macio (soft). Essa configuração é mantida sob aceleração total (mantained @ WOT). Quando o acelerador é aliviado (<WOT) o amortecedor dianteiro altera a configuração do retorno para firme. Controle de tração desativado e controle de estabilidade ativado.

 

“Performance Pages”

No dia 9 de março, foi revelado o teaser “Performance Pages”, nome do sistema de data log da SRT, presente também nos veículos equipados com o V8 Hellcat. O sistema exibe diversos dados relativos ao desempenho do carro na pista, incluindo velocidade em tempo real, rotações do motor, aceleração lateral e a temperatura do fluido de aquecimento – mostrada, aqui, caindo vertiginosamente depois de uma puxada no dinamômetro, a fim de demonstrar o sistema After-Run Chiller, usado para resfriar o motor e o supercharged depois de um período de atividade intensa.

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A puxada, porém, não revelou a potência. No entanto, a hora mostrada no relógio era “7:57”. Era a segunda vez que o número aparecia (a primeira foi na plaqueta da Demon Crate) e, de acordo com a Dodge, a ideia era dar a dica de que o Demon teria mais de 750 cv e 700 lb-ft (96,8 mkgf) de torque. Os caras foram modestos, na verdade.

 

“No Pills”

O teaser do dia 16 de março veio acompanhado de um press relase que explicava o sistema de reserva de torque do Demon, que fecha a válvula do compressor e o “enche” antes da arrancada; otimiza a ignição, avançando ou retardando o ponto para melhorar a queima de acordo com a aceleração e o torque disponível no momento; e melhora o fluxo de ar frio do motor. Assim, quando o carro inicia sua arrancada a pressão de trabalho estará mais elevada, resultando em mais potência e torque logo no início da faixa de rotações e atingindo a pressão máxima em menos tempo, resultando em um aumento de até 120% do torque disponível assim que o carro começa a se movimentar.

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A fórmula que aparece na placa do carro, “3.9+221=405”, dá mais detalhes do funcionamento do sistema de reserva de torque. Quando o mesmo atua, o supercharger consegue acumular uma pressão de até 3,9 psi (0,26 bar), resultando em um aumento de 221 lb-ft (30,5 mkgf) em sobre torque de um Hellcat original no momento da arrancada, totalizando 56 mkgf.

 

“Lock ‘n’ Load”

O último teaser numérico veio no dia 23 de março, e também dizia respeito ao torque. “Lock & Load” é uma referência ao sistema de trans brake (ou TransBrake, como escreve a Dodge), que bloqueia a transmissão para manter o carro parado com o motor engrenado, sem a necessidade de pisar no pedal dos freios; permitindo também que se use a borboleta atrás do volante como um “gatilho” para a largada, desbloqueando a transmissão e lançando o carro, o que melhora o tempo de reação em até 30%.

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O que quer dizer, então, a fórmula “8.3+317=534”? Que, trabalhando em conjunto com a reserva de torque, o TransBrake permite que o supercharger acumule até 8,3 psi (0,57 bar) de pressão para um aumento de 317 lb-ft (43,8 mkgf) de torque, totalizando 73,8 mkgf disponíveis no momento da arrancada.

Com isto, quase acabamos de solucionar todos os mistérios. “Quase” porque…

 

1.023 hp?

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Há um último detalhe que chamou a atenção de muita gente — nós, inclusive: o número “1.023” colocado displicentemente em uma das telas do Performance Pages divulgadas antes do lançamento. O número estava apagado, sob a palavra “Power” e o ícone de uma bomba de combustível na qual se lia “HO” (de High Octane). Pensamos então: 1.023 cv com combustível de alta octanagem? Será possível?

O pessoal da revista Hot Rod foi investigar mais a fundo durante o evento de lançamento, e ouviu dos engenheiros da SRT uma resposta bastante evasiva: o número era a resposta do sistema de data logging quando não há dados para exibir. E por que não havia dados? Porque os testes em dinamômetro ainda não haviam sido realizados e, por isto, não havia como exibir a potência naquele momento. Na prática: “1023” era como uma mensagem de erro.

A história, contudo, ainda nos soa suspeita. É como se os engenheiros, então, não fossem capazes de estimar a potência do motor, mesmo depois de trabalhar nele por meses – algo que achamos um tanto improvável.

Under the hood of the 2018 Dodge Challenger SRT Demon is a 6.2-l

Nosso palpite: a Dodge não trocou tantos componentes do motor (pistões, bielas, comandos e válvulas, além do supercharger) para conseguir apenas 140 cv a mais que o motor original do Hellcat, não é? Portanto, o motor talvez seja preparado para suportar mais de 1.000 cv, e aquele número (1.023 hp, ou 1.037 cv) foi obtido em testes para descobrir os limites do V8 Hemi 6.2. Os caras sabem que muitos donos vão preparar o motor, trocando polias, aumentando a pressão do supercharger e reprogramando a injeção, e entregaram um motor “amansado” de fábrica – como as fabricantes japonesas faziam com seus esportivos da década de 1990, famosos por entregarem 280 cv de fábrica, porém ser capazes de suportar até 600 cv sem alterações dos componentes internos.

Esta, claro, é nossa opinião. O que você acha?