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Projetos Zero a 300

Aumente o volume e ouça o berro deste BMW E36 com V8 Judd de Fórmula 1 em Goodwood

O Goodwood Festival of Speed é a maior celebração ao automobilismo do ano. Carros de competição de todas as eras e categorias são convidados a subir a colina da propriedade de Lord March, no Reino Unido, e a gente simplesmente não se cansa de acompanhar o espetáculo – mesmo que seja pela Internet. E é por isso que ainda estamos falando de Goodwood.

Na última edição, que aconteceu durante este fim de semana, város carros chamaram nossa atenção, naturalmente. E, entre eles, um se destacou ainda mais: o BMW E36 aí em cima, que provavelmente é um carro conhecido por vários leitores. Trata-se de um monstro de hillclimb feito por Georg Plasa, que era figurinha carimbada em eventos de subida de montanha por toda a Europa. Não apenas porque era um piloto de mão cheia, mas também porque seus carros roncavam muito, muito bonito.

Acima podemos ver o carro subindo a colina de Goodwood. O carro hoje está aos cuidados da equipe da KW e, como podemos ver, está em excelente forma: com Jörg Weidinger, duas vezes campeão no Campeonato Europeu de Hillclimb, o BMW Série 3 virou 46,43 segundos e foi o terceiro mais rápido desta edição e o mais rápido com motor a combustão interna.

Mais rápidos do que ele apenas o VW I.D. R de Romain Dumas, que virou 43,86 segundos (dias depois de a dupla dominar a subida de Pikes Peak); e o hipercarro NIO EP9, com Peter Dumbreck ao volante, que registrou 44,32 segundos colina acima. Não vemos problema em colocar os vídeos dos carros elétricos aqui, também. Ajuda a destacar o ronco do V8 Judd.

Não dá para não notar a especificidade do recorde no caso do NIO EP9: “o carro de rua com pneus slick mais rápido do Festival of Speed”

O Série 3 E36 era seu projeto mais antigo – há vídeos do carro datados de 2006 na Internet, e a receita não podia ser melhor, em retrospecto: um monobloco de BMW 320i E36 aliviado, pesando parcos 895 kg, que recebeu um V8 projetado pela Judd, companhia fundada em 1971 por Jack Brabham, que havia acabado de se aposentar como piloto depois de conquistar três títulos mundiais (um deles com um carro feito por ele mesmo), junto com o engenheiro John Judd.

Em 1988 a Judd começou a fornecer motores para a Fórmula 1, criando um rival para o consgrado Cosworth DFV: o Judd CV, V8 de 3,5 litros de acordo com as regras da F1 na época, tinha 608 cv e dava aos carros equipados com ele mais velocidade do que o Cossie. Tanto que a maior velocidade na temporada de 1988 foi atingida pelo brasileiro Maurício Gugelmin, que chegou aos 312 km/h no Grande Prêmio da Alemanha, em Hockenheim, com seu March movido por um V8 Judd.

Acima, com Sir Jackie Stewart no comando

A Judd continuou fornecendo motores para equipes de Fórmula 1 até 1997, para equipes como Williams, Lotus, Tyrrell e Arrows. A partir de 1991 os motores passaram a ser V10 em vez de V8, mantendo o mesmo deslocamento de 3,5 litros e chegando a espantosos 760 cv nas últimas versões. Nos anos 2000, os motores Judd também passaram a ser usados em protótipos esporte e carros de turismo, e atualmente a companhia oferece diferentes motores V8 e V10 para qualquer um que tenha um carro de corrida e esteja disposto a pagar por seus serviços.

Georg Plasa era um deles. O motor de seu Série 3 E36 com o qual competiu por muitos anos é um V8 de 3,4 litros naturalmente aspirado, com corpos de borboleta individuais. É capaz de entregar 550 cv a 10.200 rpm, sendo que o corte de injeção acontecia às 12.000 rpm. O carro tem um kit aerodinâmico Flossman, baseado nos Série 3 de competição, que feito de material compósito e compreende para-lamas, face dianteira e capô, além de novos para-choques; e a estrutura dianteira original foi trocada por um subchassi tubular.

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Fotos: Brz/Flickr

Em uma de suas últimas configurações conhecidas, o carro tinha transmissão sequencial Hewland de seis marchas, embreagem Sachs Carbos de três discos, diferencial Drexler com autoblocante, suspensão McPherson nas quatro rodas com amortecedores KW ajustáveis e braços de titânio e freios AP Racing com discos de 360 mm na dianteira e 305 mm na traseira. No mais, não há muitas informações – Plasa era do tipo que preferia correr com seus carros em vez de ficar postando fotos e fichas técnicas na Internet.

Seu outro projeto foi um BMW Série 1 cupê, conhecido como BMW 134 por causa do deslocamento do motor V8, que segundo consta era igual ao do Série 3, senão o mesmo. Plasa participou de provas de subida de montanha com o Série 1 com ele em 2011, e há alguns registros sensacionais do cupê com ronco de Fórmula 1 – como o vídeo abaixo, gravado na Subida da Falperra, em Portugal.

Infelizmente, porém, Plasa pode conduzir o BMW 134 por pouquíssimo tempo. O piloto morreu em julho de 2011, aos 51 anos, em um acidente durante uma prova na Itália, a Coppa Carotti, quando saiu da pista e atingiu o paredão ao lado do asfalto a 200 km/h. Acredita-se que a gaiola de proteção pode tê-lo atingido e causado sua morte. Optamos por não colocar imagens do acidente aqui porque elas podem ser fortes demais para algumas pessoas. E também porque preferimos lembrar do que Georg fazia quando estava vivo e fazendo o que mais gostava. E muito bem feito.

Sugestão do leitor Eli Carlos