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Como um piloto tetraplégico voltou às pistas graças à tecnologia

Todos os dias, milhares de pessoas com deficiência dirigem seus carros adaptados usando apenas as mãos (ou pés). Contudo, ninguém havia colocado uma pessoa tetraplégica (sem movimentos do pescoço para baixo) com sucesso — até agora. Sam Schmidt, de 49 anos, foi o primeiro tetraplégico no mundo a pilotar um carro de corrida usando a cabeça.

Há 14 anos, Schmidt perdeu os movimentos do corpo depois de se chocar contra o muro durante uma corrida no Disney World Speedway, em Orlando, Flórida. Desde então, voltou às pistas como dono de equipe — a Sam Schmidt Motorsport —, mas considerava fora de questão pilotar um carro de corrida (ou qualquer carro, diga-se) novamente. Nos últimos anos, o avanço da tecnologia permitiu que os deficientes voltassem a ter liberdade para muitas coisas, mas dirigir não era uma delas.

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Contudo, a Arrow Electronics tinha uma ideia que podia servir muito bem para Schmidt. A empresa especializada em componentes eletrônicos dedica-se também a carros adaptados para pessoas com deficiência, e há algum tempo trabalhavam em pesquisas para colocar uma pessoa tetraplégica ao volante. Então, há sete meses, eles entraram em contato com Sam Schmidt que, segundo o Wired Autopia, aceitou a proposta “sem hesitar”.

A ideia era colocá-lo para pilotar um Chevrolet Corvette adaptado no Circuito de Indianapolis durante o Pole Day, segunda etapa da classificação para a Indy 500. Em 2014, os treinos de classificação para a Indy aconteceram durante toda a semana passada. No domingo, o Pole Day, os nove pilotos mais rápidos na classificação geral disputam o primeiro lugar na largada. Schmidt pilotaria o carro antes do início das disputas.

E foi o que ele fez, usando um sistema criado pela Arrow, chamado Semi-Autonomous Motorcar (ou SAM). Consiste, essencialmente, em quatro câmeras de luz infra-vermelha que monitoram os movimentos da cabeça de Schmidt, acionando o acelerador e o sistema de direção do carro de acordo com estes movimentos. Os freios são acionados por um sensor de na boca do piloto — basta que ele dê uma mordida.

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Para evitar qualquer tipo de acidente, foram tomadas algumas medidas. Primeiro, o sistema analisa os movimentos por alguns milissegundos, o suficiente para determinar se foram movimentos intencionais ou não — causados por um espirro, por exemplo, ou por alguma irregularidade na pista. O carro também é monitorado e controlado por um sistema de GPS, cujas informações são atualizadas 100 vezes por segundo para impedir que o fique a menos de um metro do muro do circuito oval —, e o banco do carona leva uma pessoa que pode intervir e tomar o controle do carro no caso de algum imprevisto. Por fim, o Corvette pode ser desligado remotamente pela equipe de apoio nos boxes.

Depois de uma bateria de testes em um simulador e na pista, Sam disse que, no início, se sentiu bem empolgado, e não demorou muito para que dirigir com a cabeça e a boca se tornasse uma ação “bem natural, como algo que as pessoas fazem todos os dias”. E foi com esta confiança que ele estreou o Corvette de 460 cv em Indianapolis, dando quatro voltas de demonstração a uma velocidade média de 118 km/h.

Ainda que isto não signifique que Sam possa voltar a pilotar pra valer — ainda —, é difícil medir a importância deste feito. Nenhuma tecnologia inédita foi usada — detecção de movimento por câmeras, GPS para controlar o carro, sensores de pressão — tudo isso já existe. O mais incrível é o fato de esta ser a primeira vez que as tecnologias são usadas juntas para este propósito. E, como o próprio Schmidt disse, abrindo o caminho para uma revolução na mobilidade de pessoas tetraplégicas.

Como se não bastasse, Alex Tagliani, piloto da Sam Schmidt Motorsports, foi o piloto mais rápido do dia (e durante toda a semana), e será o primeiro da fila na largada da Indy 500. Foi uma conquista dupla, comemorada efusivamente pelos dois. Sam Schmidt merece.

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[ Fotos: AP, Arrow Electronics, Motorsport.com ]