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Carros Antigos

Daytona “Alloy Body”: a Ferrari que “não existia” e foi encontrada depois de 40 anos

Nos últimos três ou quatro anos o mundo viu uma quantidade impressionante de barn finds, que trouxeram de volta à luz do dia carros que pareciam perdidos para sempre ou até mesmo cuja existência era questionada. Dois grandes exemplos são os protótipos do Pontiac Firebird, encontrado por Richard Hawlins, da Gas Monkey Garage (do programa “Dupla do Barulho”) e o Ford GT chassi 1067, um dos três Mk1 com a traseira do Mk2.

Essa quantidade insana de carros encontrados, às vezes nos leva ao questionamento: Ainda há clássicos raríssimos a serem descobertos, perdidos pelo mundo e esquecidos pela história?

Por incrível que pareça, a resposta é sim. Aparentemente sempre teremos algum proprietário que se foi e deixou um carro guardado em sua garagem, esperando uma reforma que nunca chegou.  Esta Ferrari 365 GTB/4 Daytona com carroceria de alumínio é mais uma prova disso.

A 365 “Daytona” foi a primeira Ferrari a ultrapassar a marca das 1.000 unidades produzidas, e é mais popular que modelos como a Dino 206 (feita somente para o mercado italiano) ou a 456M dos anos 1990, quando a Ferrari já produzia mais de 5.000 carros por ano. Por esse motivo, ela é uma das poucas Ferrari dos anos 1960 que ainda pode ser encontrada por menos de um milhão de dólares.

Mas como toda Ferrari, a Daytona também teve suas variações especiais e praticamente desconhecidas. Esta que foi encontrada no Japão é uma delas.

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Trata-se da única Ferrari 365 GTB/4 de rua com a carroceria de liga leve feita pela Scaglietti para os exemplares de corrida da Daytona. Um carro tão raro e esquecido há tanto tempo que muitos sequer acreditavam em sua existência.

Em 1969 a Ferrari produziu cinco carros com carroceria de alumínio feita pela Scaglietti para seu programa de competição. Eram as 365 GTB/4 Competizione, que além da carroceria mais leve, também tinham faróis fixos, com cobertura de plexiglass, e, claro, interior espartano como todo carro de competição.

Uma das carrocerias, contudo, foi parar em um modelo de rua, e recebeu interior completo e até vidros elétricos. Era o chassi 12653, uma das 30 primeiras Daytona construídas, e foi entregue ao seu comprador, Luciano Conti, amigo de Enzo Ferrari, fundador e publisher da revista Autosprint (bons tempos em que publishers compravam Ferraris, que recebeu o carro em junho de 1969.

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Curiosamente, Luciano usou o carro somente por 15 meses, até setembro de 1970, quando o vendeu a um cara chamado Guido Maran. Mais curioso ainda é que Guido ficou com o carro somente um mísero mês antes de vendê-lo ao terceiro proprietário do carro, um italiano chamado Carlo Ferruzzi.

O signore Ferruzzi ficou com o carro até julho de 1971 e o vendeu para uma concessionária japonesa. Naquele mesmo ano, uma sétima Ferrari Daytona de liga leve saiu da fábrica da Ferrari: também era um modelo com interior completo, porém o carro foi usado pela NART nas 24 Horas de Le Mans daquele ano.

Enquanto isso, no Japão, a Daytona de alumínio estampava as páginas da revista local Car Graphic, uma publicação voltada ao público entusiasta. No extremo Oriente o carro teve outros dois proprietários entre 1972 e 1979, antes de chegar a Makoto Takai, que guardou o carro até alguns meses atrás.

Durante estes últimos 37 anos, muitos duvidavam da existência do carro — até mesmo especialistas nos clássicos da marca. Desaparecido muito antes de sonharmos com a internet e a interação social que temos hoje em dia, o carro era tido mais como uma lenda do que um modelo real, muitas vezes confundido com os outros seis modelos que competiram ao longo dos anos 1970.

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O carro só voltou a ver a luz do dia novamente em julho deste ano, quando foi apresentado a Marcel Massimi, um dos especialistas em Ferrari clássicas, que foi até o Japão avaliar o carro. Ele confirmou que o exemplar tinha motor, câmbio e chassi com a mesma numeração (matching numbers, no jargão dos colecionadores) de acordo com os registros da fábrica.

A Ferrari Daytona que não existia estava ali, diante de seus olhos.

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Os proprietários japoneses fizeram algumas pequenas mudanças estéticas no carro, como o suporte de placas japonesas na traseira e os retrovisores nos dois lados, mas todo o restante está original — incluindo o interior, que apesar da sujeira está em ótimo estado, e até mesmo um estepe nunca usado.

O carro rodou 36.390 km antes de ser guardado por seu atual proprietário, e agora será vendido exatamente como se encontra. O carro será apenas limpo e leiloado pela RM Sotheby’s, que espera vendê-lo por entre US$ 1,6 milhão e US$ 2 milhões.