Hatchback, fastback, cupê, sedã e cabriolet. Você certamente sabe o que significa cada um destes termos. Um carro com traseira curta, outro com a traseira em queda, outro com a traseira saliente, um modelo de duas portas, e um carro conversível.
Mas você faz ideia de onde vêm esses termos? Por que chamamos os hatchbacks por esse nome e não por “dois-volumes”? Por que os cupês são carros de duas portas e menos espaço interno que um sedã? Aliás, o que sedã tem a ver com a traseira longa?
Para descobrir as respostas à estas perguntas que ninguém fez, mergulhamos na história do automóvel e do transporte pessoal e em alguns dicionários etimológicos. O resultado é este pequeno guia com a origem dos termos automotivos.
Coupé
Essa é fácil, não? É um carro de duas portas que tem uma versão sedã. Não tão rápido, cara pálida!
Coupé é uma palavra francesa que significa literalmente “cortado”. A origem está nas carruagens do século 19 nas quais os bancos traseiros, voltados para a traseira do veículo, eram retirados — ou “cortados”.
Com o surgimento dos carros ela foi usada para designar um carro fechado de duas portas com teto fixo, com lugar para duas pessoas ou com espaço reduzido na traseira (os chamados 2+2), geralmente derivado de outro modelo maior.
O que caracteriza o cupê é o menor espaço interno em relação ao sedã, seja por entre-eixos mais curto ou pelo teto mais baixo. O fato de ter originalmente apenas duas portas leva muitos a confundir os sedãs de duas portas (como o Volkswagen Voyage, o Ford Corcel ou até mesmo o Fiat Tempra) com cupês.
Landau / Landaulet
Embora o nome seja associado à última evolução do Ford Galaxie no Brasil, landau também é um nome de um tipo de carro conversível. Na verdade, essa é também a origem do nome do carro da Ford.
Os landaus eram carruagens conversíveis daquelas que os ocupantes sentam-se frente à frente. Por isso, cada lado da carruagem tinha uma meia-capota independente que eram sustentadas por um braço dobrável em forma de “S”, como você vê na imagem abaixo:
No começo do século XX, alguns conversíveis usavam esse tipo de capota que manteve o nome landau, mas a variação que ficou mais famosa foi o landaulet, que eram carros de luxo com a capota conversível somente no banco traseiro — onde o rico proprietário viajava. O último landaulet produzido foi o Maybach Landaulet, que saiu de linha em 2012.
Contudo, o termo landau também identifica carros com teto de vinil ou “falsos conversíveis”, como são chamados em alguns países. Eles recebiam uma réplica dos braços em esse articuláveis nas colunas C.
O Ford Thunderbird era um desses, e o Galaxie LTD Landau é outro bom exemplo (Landau era o nome da versão inicialmente). Mais tarde, a Ford tirou o nome Galaxie e manteve apenas Landau.
Break / Shooting Brake
O termo break atualmente é usado para designar as peruas da Citroën, e vem de uma antiga carruagem que recebia carga ou pesos para treinar cavalos de força. O termo foi adotado no início da história do automóvel pelos encarroçadores que fabricavam wagons sobre veículos de carga, por isso o termo rapidamente se tornou sinônimo de perua ou station wagon.
Já as shooting-brakes também vêm desta época. Eram geralmente cupês transformados em wagons para que seus proprietários pudessem transportar com praticidade seu equipamento de caça e tiro (shooting). Até meados dos anos 2000 as shooting brakes denominavam essas peruas derivadas de cupês (ou GTs), mas sempre com duas portas, apenas.
Só recentemente, com a criação dos “cupês de quatro portas” ou “sedãs fastback” que o termo shooting brake passou a ser usado para designar as peruas derivadas destes carros, como o Mercedes CLS Shooting Brake.
Hatchback / Liftback
Embora o termo “hatchback” esteja associado fortemente a veículos com carroceria de dois volumes, com a traseira verticalizada, ele na verdade não tem nada a ver com a forma do carro, e sim com o modo de abertura da traseira. “Hatch” é a palavra inglesa para escotilha, por isso “hatchback” quer dizer algo como “traseira em escotilha” em uma tradução bem direta e um tanto inadequada.
Na verdade, o termo hatch serve como analogia ao modo de abertura da traseira do carro, que se abre totalmente para ter acesso ao interior do carro. Na prática, qualquer carro cuja tampa traseira se abra para cima e junto com o vidro traseiro pode ser chamado de hatchback. Por isso a primeira geração do Citroën C5 é considerada um hatchback, assim como o primeiro Renault Laguna, apesar de ambos terem silhueta de três volumes.
Entre os hatchbacks também estão os liftbacks, um termo que designa os hatchbacks cuja abertura traseira é mais horizontalizada, porém sem um terceiro volume pronunciado. Um bom exemplo são o Audi A5 e o BMW Série 3 e Série 5 GT.
Agora, talvez você esteja se perguntando: se hatchback é um carro cuja tampa do porta-malas se abre para cima junto com o vidro traseiro e oferece acesso ao habitáculo, qual a diferença para uma perua? A resposta é simples: a quarta coluna de sustentação do teto, ou coluna D.
Fastback
Os fastbacks por sua vez não tem nada a ver com tipo de abertura ou número de volumes da carroceria. Você pode ter sedãs fastback e coupés fastback. O termo serve para designar os carros cuja linha do teto tem uma queda acentuada a partir da traseira. O mais conhecido dos fastbacks é o Ford Mustang, mas o termo também se aplica à traseira em queda do Passat brasileiro. Ele também cai perfeitamente aos novos “cupês de quatro portas” como os Mercedes CLA e CLS e o BMW Gran Coupe.
Cabriolet
O outro nome dos conversíveis também tem origem nas antigas carruagens. As cabriolet eram um tipo de charretes de um eixo só, com lugar para o condutor e um passageiro. Elas não tinham portas e eram cobertas por uma capota retrátil, e receberam esse nome por seus movimentos leves e suaves, como um salto de balé chamado cabriolé.
Mais tarde, os cabriolet ganharam uma versão mais longa, para mais passageiros e passaram a ser usados como veículos de aluguel. Com o tempo, em vez de chamar um “cabriolet” as pessoas começaram a chamá-los de “cabs”, que até hoje é a forma que os ingleses chamam seus táxis.
Station Wagon / Wagon
Diz a história que quando as viagens de trem começaram a se tornar populares, as pessoas contratavam “wagons” — que era um tipo de carruagem de carga usada na época — para levar sua bagagem às estações. Estas wagons foram os primeiros veículos conhecidos como “Station Wagons”.
Mais tarde, quando os cavalos foram substituídos por motores, o nome continuou. No começo elas eram adaptadas a partir de veículos de carga, e por isso eram considerados veículos comerciais. A carroceria era fechada com um teto, mas não tinha vidros — geralmente usava-se lona para manter os passageiros e a carga protegidos da chuva e do frio.
Na década de 1920 começaram a surgir as primeiras station wagons feitas pelos próprios fabricantes do carro. Elas tinham carroceria de madeira, mas já eram fechadas com vidro e usavam teto de metal, e ficaram conhecidas como “woodies”.
Foi somente na década de 1940, quando a guerra terminou, que as station wagon começaram a ser fabricadas em metal. A primeira SW com carroceria metálica foi a Jeep Station Wagon de 1946.
Spider / Spyder
Com exceção dos Porsche Spyder (550, 718, 918 e Boxster), o termo “spider” geralmente designa modelos conversíveis de fabricantes italianos, como o Alfa Romeo Spider, ou a Ferrari F355 Spider. Embora os italianos digam que a origem está na palavra “speed” e no termo “speeder” (que é pronunciada “spider”), o nome vem de uma carruagem leve e aberta para duas pessoas chamada Spyder.
Essa carruagem era fabricada pela encarroçadora irlandesa Holmes, de Dublin, e recebeu esse nome por que suas rodas grandes e finas suspendem a carroceria leve entre elas como o corpo de uma aranha suspenso pelas patas. Ele batizou esse tipo de carruagem como Spyder, com “y” para diferenciar da palavra “spider”, que significa aranha.
Os italianos, contudo, usam “spider” por que em 1924 a Federação Nacional dos Fabricantes de Carrocerias registrou a palavra desta forma pois a letra “y” não fazia parte do alfabeto italiano.
Roadster
Origina-se da palavra road (estrada) com o sufixo – ster, que em inglês forma substantivos que designam especialidade, profissão, hábito ou associação. Por exemplo: gangster é o cara que faz parte de gangs, tipster é o cara especializado em informações e dicas (tips). Roadster, portanto, é um carro voltado ao uso em estradas.
Os primeiros roadsters eram carros feitos unicamente para curtir a estrada, sem portas, bagageiro ou lugar para passageiros (embora pudessem ter até dois lugares extra). Foram, de fato, os primeiros esportivos da história. Ao longo dos anos, o termo foi adaptado para designar modelos abertos de dois lugares, como o Mercedes SLK, o BMW Z3, e a versão conversível do Lamborghini Murciélago.
Sedã
O nome dado atualmente aos carros de três volumes não tem origem certa. Uma das possibilidades é que o termo sedã venha da palavra “sedia”, ou cadeira em um antigo dialeto napolitano. Sedias era como os napolitanos chamavam aquelas cadeiras carregadas por empregados que as mulheres nobres usavam até o fim do século XIX , e por isso também são conhecidas como “sedan chairs”.
Com a invenção dos carros, os primeiros modelos fechados passaram a ser chamados de sedãs. O primeiro a usar esta configuração “fechada” foi o Renault Voiturette Type B, mas o nome sedã só seria adotado oficialmente em 1911 pelo Speedwell Sedan. Nessa época os carros de passageiros ainda eram chamados de limousine ou saloon.
Renault Voiturette Type B: o primeiro sedã do mundo
Limousine
O termo limousine originalmente designa um veículo fechado com o posto do condutor aberto. A origem também é incerta, mas tudo indica que tenha a ver com a província de Limousin, na França.
Uma hipótese é que, como os carros tinham capota somente para os passageiros, sua silhueta lembrava o capuz usado pelos habitantes de Limousin. Outra teoria diz que, por ter seu posto desprotegido, os condutores usavam um capuz para se proteger do vento e da chuva, também semelhante ao usado pelos habitantes da província francesa.
O fato é que ainda hoje os motoristas de limousine têm seu posto de condução segregado do restante do carro e usam quepes em serviço.
Saloon
Se você acompanha Top Gear, já notou que não existem sedãs na Inglaterra, e sim “saloons”. A origem do termo está nas pequenas salas de convivência dos trens e navios, onde os passageiros podiam passar o tempo interagindo com os demais sem precisar compartilhar a privacidade de suas cabines. É o mesmo nome que designa as “salas de estar” dos iates.
Perua
O nome que os brasileiros dão às station wagon não tem origem clara. A versão mais aceita é que o nome surgiu em São Paulo nos anos 1920 e se espalhou pelo país. Segundo a lenda, esse foi o nome dado ao camburão que passava pelas ruas no fim das noites recolhendo o pessoal que exagerava nas doses da noitada e acabava jogado na rua “bêbados como perus”. Se você estranhou a foto da Kombi, é por que em São Paulo ela também é chamada de “perua”.
Van
Embora pareça derivar de caravan — aquelas carroças cobertas que as caravanas de viajantes usavam no passado —, o termo van deriva das carroças que transportavam equipamentos de tropas militares. Elas iam à frente do pelotão, junto com a guarda avançada — chamada de “avantgarde” ou “vanguard”. Com o tempo, a palavra passou a ser usada para designar veículos exclusivos de carga e atualmente qualquer veículo monovolume com espaço para carga e passageiros.