FlatOut!
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Sessão da manhã

É assim que se pilota uma clássica Ferrari 512 BBi: rápido e de lado

Carros foram feitos para serem dirigidos. Alguns deles, bem rápido. Acontece que, quando se trata de superesportivos e supercarros, existem certos modelos que, por mais velozes e bem acertados que sejam, não costumam ser levados ao limite por seus donos — por serem caros demais, raros demais, serem clássicos preservados ou simplesmente porque seus donos não os compraram para aproveitar seu desempenho, mas sim para desfilar por aí com um carrão.

Por sorte, este não é o caso desta Ferrari 512 BBi preta — não é sempre que vemos um clássico italiano sendo abusado na pista desse jeito. É uma experiência sensorial épica.

O vídeo tem legendas em inglês que podem ser traduzidas automaticamente

Fabricada em 1984, esta 512 faz parte da última leva a sair de Maranello. Apresentada em 1971 no Salão de Turim e lançada dois anos depois, no Salão de Paris de 1973, a Ferrari BB tinha um objetivo bem claro: encarar de frente um dos supercarros mais emblemáticos de sua era, o Lamborghini Miura, que foi produzido entre 1966 e 1973, e ainda fazer bonito diante de seu futuro concorrente, o Countach.

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Foto: Davide Cironi

Por sorte, o Miura — que, para muita gente, foi o carro que definiu o template do supercarro moderno, com sua carroceria em formato de cunha e um V12 central-traseiro — já estava de saída, mas ficou tempo o suficiente para destacar a modernidade da nova Ferrari, com suas linhas retas, seu perfil esguio e o ronco do flat-12 de 4,4 litros que, alimentado por quatro carburadores Weber 40 IF3C, entregava 344 cv. Era o bastante para chegar aos 100 km/h em 6,5 segundos, com máxima de 302 km/h.

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Derivado da Ferrari 312B, que competiu na Fórmula 1 de 1970 a 1975, o motor era um V12 com um ângulo de 180° entre as bancadas de cilindros. Com deslocamento de 4,4 litros, ou 365 cm³ por cilindro, o carro foi batizado como 365 GT4 Berlinetta Boxer, mesmo que o motor não fosse um boxer verdadeiro. O carro testado pelo italiano Davide Cironi neste vídeo é chamado de 512 BBi porque o motor tem cinco litros, 12 cilindros e era alimentado por um sistema de injeção Bosch K-Jetronic. Adotado a partir de 1981, foi o primeiro motor Ferrari a abrir mão dos carburadores em um carro de rua.

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O motor da 512 BBi é um pouco menos potente — são 340 cv a 6.000 rpm e 45,9 mkgf de torque a 4.200 rpm, com limite de giros em 6.600 rpm —, mas a força é entregue de forma mais linear e eficiente. Apesar disso, o modo de condução continua sendo totalmente old school, a começar pela caixa manual de cinco marchas com grelha metálica para a alavanca.

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Foto: Davide Cironi

Não há qualquer tipo de assistência ao motorista — nada de babás eletrônicas, ABS ou assistente de frenagem. É tudo orgânico, tudo mecânico, e você realmente precisa saber o que está fazendo para aproveitar o carro ao máximo — Cironi comenta que a 512 BBi acena de uma época em que, para comprar um supercarro, não bastava ter uma conta bancária gorda. Era preciso ter coragem.

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Saídas de frente e de traseira são constantes, e te obrigam a ficar no meio, equilibrando as duas coisas. Uma vez que você consegue encontrar o equilíbrio, você é agraciado com uma das experiências mais viscerais que se pode ter ao volante de um esportivo italiano: o ronco é único, a direção é comunicativa, a traseira desliza com facilidade graças ao peso do flat-12 e… já mencionamos o ronco?

Como bom italiano apaixonado, Cironi não economiza elogios ao se referir à 512BB — que ele chama de “a Brigitte Bardot dos supercarros”. De fato, a 365 GT4 Berlinetta Boxer foi feita por uma Ferrari que não aceitava a beleza do Lamborghini Miura. Para eles, a nova Ferrari deveria ser mais bonita, ou ao menos diferente. Se beleza é um conceito subjetivo, é indiscutível que a Ferrari fez um carro totalmente diferente — em vez das curvas e dos faróis redondos do Miura, a Berlinetta Boxer tem faróis escamoteáveis, linhas retas, perfil baixo e, quando a tampa traseira é aberta, nos fornece uma bela visão de suas entranhas.

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No fim das contas, a BB foi vendida por 11 anos, de 1973 a 1984. Enquanto isso, o Lamborghini Countach ficava cada vez mais famoso, veloz e emblemático, o que levou a Ferrari a, em 1985, apresentar a evolução da 512BB: a Testarossa, que aproveitava o motor flat-12, mas o colocava sob uma embalagem maior e ainda mais provocante, que também era a cara dos anos 1980. E Cironi deu uma volta nela, também:

Se temos inveja desse cara? Um pouco, talvez…