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Car Culture Zero a 300

Em busca do Lada Niva perdido – Parte 1

Há algumas semanas conhecemos a história de João, um jovem de 19 anos que está procurando o Lada Niva que sua mãe, Jacqueline, comprou zero-quilômetro nos anos 1990. Ela adorava o carro, mas acabou o vendendo porque o SUV não era prático e seguro o bastante para transportar seu filho recém-nascido.

Como vocês sabem, nós não resistimos a uma caçada automotiva, muito menos às histórias de amor por um carro. Ela precisava ser contada no FlatOut.  

O problema é que a história ainda não terminou: João ainda está procurando o carro. E em vez de entrevistá-lo a cada nova etapa desta busca, decidimos que seria mais legal que ele mesmo contasse sua saga. Ela começa agora. 

A história

“É isso mesmo que você quer, Jacqueline?” Essa foi a primeira reação do meu avô ao ver o Lada Niva zero-quilômetro da minha mãe na garagem. Mas era o que Jacqueline, então com 37 anos, queria: um carro robusto, perfeito para atravessar os alagamentos nas chuvas de verão do Rio de Janeiro. O gosto dela por carros nunca foi muito ortodoxo. Gurgel BR-800 e Supermini estão na lista de carros que ela teve. Mas o Lada foi o primeiro xodó.

Foram três agitados anos com o carro. Ela andou com oito passageiros — tinha gente até no porta-malas, que foi com a tampa aberta — na areia fofa da praia de Gruçaí; teve pane seca na Rio-Teresópolis com direito a ajuda de um estranho que entregou um revólver na mão do meu pai; empurrou Veraneio da Polícia Militar com oito homens dentro; empurrou um carro de ré para fugir de um assalto; arrastou um cone por mais de 100 metros sem perceber; teve a buzina travada acionada na Av. Brasil.

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Aquele carro agitou a vida dos meus pais sem nunca deixá-los na mão. Acho que por isso eles sentem tanta saudade dele. E, por mais que só tenha convivido com o carro até meus cinco meses de idade, eu sinto bastante saudade também. E é estranho sentir saudade do que não lembra.

 

A busca

Todos os carros que minha mãe teve, foram vendidos por motivos inerentes ao carro, como o consumo elevado da Dobló, a perda total do BR-800 ou a falta de espaço do Sandero Stepway. Mas o Niva foi diferente. O motivo dela ter vendido o jipinho está agora escrevendo esse texto, na tentativa de reaver o carro.

Sim, ela vendeu o carro depois do episódio em que seu delicado banco de ferro quase me feriu. Ela vendeu para comprar um Ford Fiesta, daqueles que poderia ser pintado com temática Teletubbies que continuaria careta, mas que ao menos tinha quatro portas.

Dezenove anos depois, em 2016, eu resolvi que acharia o carro. Não estou falando de encontrar um Lada Niva em boas condições e parecido com o dela, mas sim de achar exatamente aquele que ela comprou, com a placa LAB-7090, na cor grená e que participou de todas as histórias. O carro no qual fiz a primeira viagem da minha vida, quando ele me trouxe da maternidade para casa.

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A busca foi tímida até que, no dia 21 de junho de 2017, resolvi mandar uma mensagem pelo Facebook para Roberto Santana, o Betão Grauçá, que tem um Niva, é entusiasta do carro no Brasil e tem um blog sobre o jipe. Eu sabia que ele poderia me ajudar.

Ele publicou minha história no dia 4 de julho e naquele mesmo momento a história cresceu. No meu inbox do Facebook não parava de pipocar informações sobre o carro. Até que o Betão me trouxe um nome, um número de CPF e um endereço. Era o nome que constava como dono do carro na base de dados do Detran de São Paulo. Conseguimos contato, e vamos chamá-lo de Sr. F, ok?

Aquele momento foi uma mistura de felicidade e tristeza. Felicidade porque ele também era um gearhead e tinha cuidado muito bem do carro. Tristeza porque ele tinha vendido o carro e o comprador não fez a transferência de titularidade. Pior: o Sr. F. também me contou que tinha visto o carro à venda fazia cerca de dois anos — e ele não estava em bom estado.

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Estaca zero novamente. Sr. F. — que foi muito solícito durante todo o processo — me passou o nome do comprador do carro e me deu a pista de que ele tinha uma empresa de transporte de carga em Bragança Paulista. Parti para internet e descobri o nome da empresa.

Depois de mais de duas semanas tentando contato pelos dois números de telefone que consegui, resolvi dar um tempo. Até que, no dia 14 de agosto de 2017, coincidentemente, aniversário de 60 anos da minha mãe, o Sr. F. me manda a foto de uma multa que o Lada recebeu no dia 10 de julho, na Zona Leste de São Paulo. Meu coração se aquece instantaneamente: o Niva ainda roda. O sonho não acabou.

Continua…