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Car Culture Projetos

Este cara fez um Corsa GSi com motor de Calibra, 650 cv e tração integral!

Existem vários adjetivos que poderiam descrever este carro, mas nós vamos de “animal” mais uma vez. Porque, francamente: fora as exclamações que são meio impublicáveis (que a gente também usa de vez em quando), o que você diz de um Opel Corsa B — para quem não sabe, o equivalente a nosso Chevrolet Corsa de 1994 — equipado com sistema de tração integral e o motor C20XE turbinado vindo de um Calibra? É, pois é. Animal!

É curioso como os carros europeus são adorados pelos entusiastas brasileiros. Claro, boa parte da galera aqui (nós, inclusive) adora um bom e velho muscle car americano, com um vê-oitão na dianteira, tração traseira e cara de mau. Mas o nosso mercado, por muito tempo, teve certa tendência a digerir melhor carros europeus, talvez por seu tamanho mais compacto e pelos motores menores e mais contidos na hora de degustar suco de dinossauro.

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Isto acabou desenvolvendo em muitos de nós um gosto especial pelos carros do velho mundo que eram vendidos aqui — algo que perdurou, talvez dê para dizer, até a virada da década de 2010. Até então, boa parte dos veículos vendidos pelas grandes fabricantes no Brasil eram versões de carros europeu.

Havia exceções, claro — como o VW Gol, que foi desenvolvido no Brasil —, mas elas eram exatamente isto: exceções. É só lembrar do Ford Fiesta, do Volkswagen Polo, do Fiat Uno e do próprio Chevrolet Corsa.

Aliás, foram os fãs da General Motors que mais sofreram, segundo eles próprios: depois de “congelar” a evolução de modelos como o Astra e o Vectra (que, na verdade, também é um Astra, porém de geração posterior), gradualmente a Chevrolet brasileira substituiu os consagrados Opel por veículos desenvolvidos na Ásia, como a minivan Spin, que substituiu a Meriva; o Sonic, que tomou o lugar do Astra; e o Cruze, que se tornou o sucessor do Vectra. Daquela que, para muitos, foi a melhor fase da Chevrolet no Brasil, só restou o Corsinha lá de 1994, na forma do sedã de baixo custo Classic.

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É justamente do Corsa que vamos falar hoje. Quer dizer, não apenas dele — e foi exatamente por isto que fizemos esta pequena retrospectiva. O fato é que tanta convivência com os Chevrolet europeus acabou dando origem a uma bela base de admiradores e entusiastas, que vem se expandindo e se popularizando nos últimos anos. Eles se inspiram na cultura europeia de modificação e preparação para fuçar em seus carros: aumentam o deslocamento dos motores, realizam engine swaps, utilizam peças importadas (para-choques, rodas, volante, cluster de instrumentos e até mesmo emblemas Opel e Vauxhall) e acabam criando belas máquinas.

Só que os europeus fazem isto há muito mais tempo — e com uma vantagem: carros que, por aqui, são considerados esportivos e são relativamente raros, por lá são bem mais comuns e baratos. Sendo assim, é muito mais fácil (ou melhor, menos trabalhoso) para um europeu fazer, por exemplo, um Corsa com motor de Calibra. Entendeu por que dissemos que ele está realizando o sonho de muita gente aqui?

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O cara se chama Mattias e, como seu nome denuncia, ele é sueco. O carro é um Opel Corsa GSi 1994 que foi o primeiro carro dele, comprado em 2005 — quando ele tinha 16 anos. Em 2009, ele decidiu que o motor original não era suficiente para suas necessidades.

Sua ideia inicial era colocar o motor de um Chevrolet Calibra aspirado — o famoso C20XE, quatro-cilindros de dois litros com comando duplo no cabeçote e 150 cv — exatamente aquele que, no Brasil, conhecemos graças ao Vectra GSi e ao próprio Calibra.

Acontece que, como dissemos, Mattias mora na Europa. E, para sua sorte, o Calibra aspirado não é a sua única opção por lá. Os europeus também tiveram uma versão ainda mais nervosa do cupê: o Calibra Turbo 4×4. Equipada com um motor bem parecido com o C20XE, porém dotado de um turbocompressor KKK e pistões forjados Mahle —  o C20LET —, a versão de topo do Calibra europeu dispunha de 204 cv e 28,5 mkgf de torque. Além, é claro, de um sistema de tração integral que incorporava o eixo traseiro do Opel Omega de primeira geração (sim, nosso famoso Absoluto), assim como seus sistema de suspensão traseira independente por braços semi-arrastados.

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Infelizmente, como a maioria das informações a respeito do projeto estão em sueco, não é muito fácil encontrar detalhes do que Mattias fez em seu carro. Sabemos que ele precisou reconstruir o assoalho a fim de incorporar um túnel central, além de modificar as caixas de roda e os para-lamas para acomodar as bitolas mais largas e a nova suspensão traseira, além de rodas maiores.

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O visual acabou ficando parecido com o Opel dos Corsa que disputam ralis na Europa. Dito isto, as modificações no cofre foram menos radicais: foi necessária apenas a fabricação de novos suportes para o câmbio e alguns pequenos cortes no cofre — no mais, as dimensões externas do motor do Calibra não diferem muito daquelas do motor 1.6 16v do Corsa GSi.

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No entanto o coletor de admissão posicionado à frente exigiu que o radiador principal fosse deslocado para o porta-malas, alimentado por um scoop no teto. Esta também é razão das aberturas na tampa. No cofre possível ver um intercooler de alumínio, que ajuda a resfriar o ar sugado pela turbina KKK K24 — esta, cedida por um Volvo S60R.

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O sistema de escape, por sua vez, percorre todo o túnel central, ao lado do eixo cardã, e desemboca em um abafador de fibra de carbono. A transmissão manual de cinco marchas original deu lugar a uma caixa de seis marchas da Getrag, oriunda de um Saab 9-3.

O interior do carro recebeu uma gaiola de proteção integral construída pelo próprio Mattias, que fez questão de manter o painel original, mesmo que todo o resto do interior seja totalmente racer — incluindo tanque de combustível selado atrás dos bancos e bateria deslocada para o porta-malas. O único conforto que restou foi o aquecedor de ar — afinal, estamos falando de um carro de rua… ainda que não pareça.

Foi um processo que levou mais de seis anos, contando com a compra do carro. O primeiro teste foi realizado em 2011 e documentado no vídeo abaixo.

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Não dá para dizer que o carro é lento — pelo contrário: com o turbo maior, novos coletores de admissão e escape, comandos de válvulas mais agressivos e um módulo de controle reprogramado sob medida (além de outros truques que não foram divulgados), a potência atual do Corsinha chega perto dos 650 cv no motor, e pouco mais de 540 cv nas rodas.

É mais do que o suficiente para garantir diversão e nos matar de inveja. A gente adoraria andar neste foguetinho!