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Técnica

Este motor Toyota foi todo impresso em 3D – e mostra como a tecnologia irá ajudar os gearheads

Imagine que você precisa desesperadamente de uma peça para o seu carro e não consegue encontrá-la em lugar algum. Não estamos falando de algo que você pode mandar trazer de fora pagando um pouco mais, mas de algo realmente impossível de encontrar. O que você faz? Em um futuro próximo, você poderá simplesmente mandar imprimir em 3D um componente idêntico ao original, e talvez até de melhor qualidade. Mas o quão perto estamos disso?

Talvez esta réplica totalmente impressa em 3D de um motor Toyota 22RE acoplado a uma transmissão manual de cinco marchas nos dê uma pista. O conjunto é totalmente funcional, e o nível de fidelidade é realmente impressionante. Assista ao vídeo abaixo e você verá que não estamos exagerando:

O criador desta pequena obra prima é o engenheiro mecânico Eric Harrell, que publicou sua criação no site Thingiverse, que funciona como uma grande comunidade global onde os usuários compartilham suas criações em impressão 3D e as disponibilizam para download.

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Um Toyota 22RE de verdade

Ele conta que tirou todas as medidas usando o motor e a transmissão reais como referência. O Toyota 22RE é um quatro-cilindros que de 2,2 litros que foi fabricado entre 1983 e 1997 e usado em diversos modelos da Toyota, da picape Hilux ao esportivo Celica, passando pelos sedãs Cressida e Corona. Nas palavras do próprio Harrell: “não é o motor mais empolgante do mundo, mas era o único que eu tinha na garagem”.

E, de fato, só porque o motor de verdade é um quatro-cilindros de 105 cv (114 cv a partir de 1985, com modificações no cabeçote, no bloco e nos pistões) não o torna menos interessante quando reproduzido em escala reduzida (o motor tem 35% do tamanho do original), com plástico impresso em 3D.

Harrell conta que o processo de impressão de todos os componentes levou mais de três dias, sendo que o bloco sozinho levou 34 horas para ser impresso. É um trabalho minucioso e perfeccionista, que depende também de uma impressora confiável e precisa.

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Harrell observa, contudo, que alguns componentes não são impressos em 3D – mais especificamente, suportes e parafusos, que foram comprados prontos e, alguns deles, adaptados para serem compatíveis com o motor.

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A transmissão, que tem cinco marchas e ré, todas funcionais, foi feita por Harrell por causa da boa recepção de seu motor entre a comunidade. O processo foi o mesmo: depois de escanear os componentes reais, ele os imprimiu, um a um, em escala reduzida a 35% do tamanho, em um processo que pode levar até 48 horas. Novamente, alguns parafusos e suportes, além da alavanca de câmbio, foram comprados prontos.

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Motor e transmissão são totalmente compatíveis e funcionam com a ajuda de um pequeno motor elétrico acoplado onde ficaria o motor de partida. E tem mais: a transmissão usada como referência veio de um veículo de tração integral e, por isso, tem os encaixes para uma caixa de transferência. Esta será a próxima criação de Harrell.

É realmente impressionante, mas mais do que isto: é só uma amostra do potencial que a impressão em 3D representa para a indústria automotiva.

Potencial este que já vem sendo explorado há alguns anos. Em 2009, Jay Leno escreveu um artigo para a Popular Mechanic dizendo como já utilizava técnicas de impressão em 3D na produção de peças para os carros de sua coleção.

No artigo, ele explica melhor o processo de criação de uma réplica perfeita impressa em 3D: a partir do arquivo da peça escaneada, a impressora cria uma réplica exata em plástico – que pode ter qualquer imperfeição corrigida com um software dedicado. Esta réplica servirá como molde para a fabricação, em metal, da peça que será usada no carro. Com todas as informações necessárias, é possível até imprimir um carro inteiro em 3D. Como dizia o artigo:

Se tivesse um motor Ferrari único no mundo, você poderia escanear cada uma das peças e recriar o motor inteiro. Agora mesmo, estamos escaneando a carroceria de um Duesenberg. É um exemplo clássico de tecnologia nova e tecnologia antiga trabalhando juntas. Há carros em garagens pelo país todo, e eles não rodam há anos por falta de alguma peça impossível de obter. Agora eles podem cair na estrada mais uma vez, graças a esta tecnologia.”

Àquela altura, a impressão 3D ainda engatinhava no uso automotivo. Quatro anos depois, porém, em 2013, a Chevrolet anunciava ser uma das primeiras fabricantes de automóveis a empregar a impressão em 3D para produzir peças no mercado de massa. E não apenas para aumentar o volume de produção, mas também para poder, por exemplo, promover atualizações rápidas em itens de acabamento interno – como demonstrado no vídeo abaixo, usando como exemplo o console centra do Chevrolet Malibu.

Não demorou para que oficinas especializadas aderissem à técnica – as que tinham condições de fazê-lo, claro. Também começaram a surgir fabricantes de impressoras especiais para a fabricação de componentes automotivos, como a Stratasys, que é capaz de fabricar impressoras que imprimam em acrílico e borracha.

Carros inteiros já podem ser baixados da internet e impressos em 3D, como o Local Motors Strati. O bugue elétrico foi apresentado no Salão de Nova York em janeiro passado. O carro todo leva 44 horas para ser impresso, e usa componentes mecânicos do Renault Twizy – como o motor de 5 cv capaz de levar o Strati aos 50 km/h.

A tecnologia nos dias de hoje avança muito rápido e, obviamente, o aperfeiçoamento da impressão em 3D não é exceção. Assim, não está tão distante o dia em que você encontrará, na internet, os arquivos para imprimir exatamente a peça que você precisa para seguir em frente com seu project car, ou até mesmo uma réplica completa de um clássico.

Enquanto isto, porém, ficaríamos bastante satisfeitos em poder imprimir as peças escaneadas por Eric para construir nosso próprio conjunto de motor e transmissão. E isto não é um problema: como já dissemos, o Thingiverse é uma comunidade de compartilhamento de arquivos para impressão em 3D, e você pode baixar tudo direto no perfil de Eric. Ele fornece os diagramas e se dispõe a esclarecer quaisquer dúvidas e responder a perguntas de quem quer que se aventure a montar uma de suas criações.

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“Quem montar meu motor ou minha transmissão poderá ter uma boa noção de como montar um motor de verdade, porque as peças foram todas escaneadas de componentes reais”, ele contou ao site 3DPrint. “O que é ótimo, porque a maioria das pessoas que se interessam por impressão em 3D jamais teriam a oportunidade de montar um motor ou uma transmissão de verdade”.