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Gordon Murray, o pai do McLaren F1 está fazendo um… Escort Mk1 com motor Cosworth!

Gordon Murray é um dos mais respeitados engenheiros automotivos do planeta. E é merecido: na virada dos ano 90, ele imaginou e tornou realidade um inacreditável superesportivo de três lugares que, por muitos anos, foi o carro mais rápido do mundo. Com certeza você já se ligou que estamos falando do McLaren F1, que para muitos é um dos maiores supercarros de todos os tempos. Não apenas por ser capaz de chegar aos 386 km/h, mas por fazê-lo com um V12 naturalmente aspirado de 636 cv há há quase duas décadas – na verdade o recorde completa 20 anos no próximo dia 31 de março.

O pai do McLaren F1 inovou ao utilizar um monocoque de fibra de carbono com subchassis na dianteira e na traseira em vez da estrutura tubular do tipo spaceframe, criando um carro muito mais rígido e leve e estabelecendo um novo padrão no segmento. Ele se inspirou no Honda NSX para fazer do McLaren F1 um superesportivo rápido, veloz e avançado, claro, mas também que fosse suficientemente espaçoso para três pessoas e sua bagagem, com ar-condicionado e rádio. O McLaren F1 só foi superado em velocidade máxima em 2005 – pelo Bugatti Veyron, movido por um W16 quadriturbo de oito litros com quase o dobro da potência.

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Gordon Murray, seu mullet e o McLaren F1

Anos depois, Gordon Murray decidiu revolucionar o modo de fabricar carros criando o método iStream, que automatiza boa parte do processo de construção de um carro para torná-lo mais rápido, barato e flexível. A preocupação de Murray com a mobilidade também o levou, em 2013, a criar o Ox, um caminhão modular com motor a diesel e carroceria de madeira compensada para ser um veículo resistente e de baixo custo para países emergentes.

E antes de tudo isto, de 1969 a 1981, Gordon Murray foi designer da Fórmula 1, sendo o projetista por trás de onze monopostos da Brabham e ainda contribuindo com os McLaren MP4/3 e MP4/4.

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Gordon Murray é, sem exagero, um dos grandes visionários da indústria automotiva. Mas ele também é um fã dos clássicos como qualquer um de nós. A diferença é que, em sua posição, Murray tem condições de convocar o time que quiser para fazer o carro que ele quiser. E ele escolheu um Ford Escort Mk1 com motor quatro-cilindros Cosworth. Uma bela escolha, por sinal – e tipicamente britânica (ainda que Gordon Murray seja sul-africano).

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Murray, já sem o Mullet, e seu Escort

A oficina escolhida por Murray para executar seu projeto foi a britânica Retropower, especializada em carros de corrida e esportivos clássicos europeus. Os caras certamente têm alguns projetos interessantes no currículo, como um Lancia Stratos com supercharger Volumex, um Vauxhall Chevette HSR preparado para rali e um Opel Ascona 400. Naturalmente os caras decidiram documentar todo o projeto, e estão produzindo um documentário dividido em vários episódios para isto.

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O carro antes de ser desmontado e jateado, e depois. Boa parte da estrutura estava mesmo íntegra, com algumas marcas de colisão na dianteira e na lateral traseira direita

No primeiro deles o proprietário da Retropower, Callum Seviour, conta como tudo começou. Ele diz que, em meados de 2017, recebeu uma mensagem de um número desconhecido dizendo que Gordon Murray iria dar uma passada na oficina para discutir um projeto. De início todos da equipe ficaram descrentes – seria mesmo “o” Gordon Murray? E eles não acreditaram até que o homem entrou pela porta da frente, dizendo que estava procurando referências para o projeto na Internet, topou com o trabalho deles, gostou do que viu e entrou em contato através de seu acessor.

Gordon Murray queria um Escort para usar regularmente nas ruas e de vez em quando ir para a pista. Um carro com visual bastante próximo do original e modificações escolhidas a dedo para torná-lo mais confiável, mais potente e mais rápido, sem alterar o caráter do clássico. Juntos, ele e a equipe chegaram à conclusão de que um quatro-cilindros moderno seria a melhor escolha – um Duratec com cabeçote e admissão Cosworth, naturalmente aspirado, com corpos de borboleta individuais e perto de 250 cv.

O motor será acoplado a uma caixa manual de seis marchas e, segundo Callum, só há uma opção: o câmbio do Mazda RX-7 de terceira geração, que já vem de fábrica com as cinco primeiras marchas mais próximas entre si e a sexta mais longa – bom para pegar velocidade na pista, mas também competente para rodar na cidade e ocasionais viagens. Além disso, ela é praticamente plug and play com o motor Duratec (que é um projeto desenvolvido pela Mazda sob encomenda da Ford.

Sabendo disto tudo, os caras foram buscar um carro para servir de base. Callum encontrou um Escort Mk1 com estrutura íntegra, ainda que com alguns pontos de corrosão, e totalmente original. Apenas a carroceria seria aproveitada – suspensão, mecânica, interior e detalhes de acabamento todos seriam feitos do zero. Novos painéis foram comprados para os para-lamas, enquanto capô e tampa do porta-malas sob medida já foram feitos em fibra de carbono.

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A tampa do porta malas, feita sob medida

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Painéis novos para a carroceria, cuja qualidade surpreendeu os responsáveis pelo projeto

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Murray foi bastante específico e exigente com os detalhes do interior: o carro deveria ter mais saídas de ar no painel (originalmente o Escort de primeira geração tem apenas duas) e ergonomia melhorada, com mais próximo das mãos e comandos acessíveis no painel, além de instrumentação mais completa e de fácil leitura. Com a consultoria de Murray, que está acompanhando tudo de perto, a equipe da Retropower já definiu diversos aspectos do projeto.

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Os bancos serão do tipo concha com revestimento parcial em tartan, o painel receberá quatro saídas de ar circulares e um cluster de instrumentos feito sob medida, com relógios auxiliares em um console central adaptado, e o banco traseiro dará lugar a um espaço para bagagem. Não haverá qualquer sistema de som ou multimídia: para Murray, o sistema de entretenimento do carro é mesmo conjunto mecânico.

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O carro terá suspensão independente do tipo McPherson nas quatro rodas, sendo que na traseira o diferencial será usado como componente estrutural do subchassi. Já os freios serão da AP Racing, e isto é tudo o que há para dizer do ponto de vista técnico até agora.

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Você tem noção do quanto isto é bacana? Ainda que tenha um currículo absurdo e sea Murray quer um carro simples, sem sobrealimentação, sem modificações em excesso, sem potência exagerada. É claro que Gordon Murray está ciente de todo o legado do Escort Mk1 e sabe que o mesmo é um dos project cars mais populares do Reino Unido, mas ele poderia muito bem mexer seus pauzinhos e simplesmente assinar um cheque e deixar os engenheiros cuidarem de tudo. Mas ele prefere acompanhar de perto, dar opiniões e conselhos e se envolver de verdade.