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Lancia Delta S4 ou Ford RS200: qual destes dois monstros do Grupo B você colocaria em sua garagem?

Sim, estamos de volta com um daqueles dilemas praticamente impossíveis de resolver, dando duas opções de carros dos sonhos para levar para casa, das quais você só pode escolher uma, sem choro. Como de costume, dinheiro não é problema, mas você simplesmente não pode ficar com os dois. E a disputa é dura, porque temos aqui dois monstros do lendário Grupo B do WRC — um Lancia Delta S4 e um Ford RS200. E, para piorar, não sabemos quanto custa cada um deles.

Honestamente, porém, se fôssemos uma concessionária que vende carros de rali aposentados, provavelmente também não falaríamos o preço das joias de nosso acervo. Quem até uma loja e diz “me mostra aí os ex-bólidos do Grupo B que vocês tem” certamente não está nem aí para a quantidade de zeros na etiqueta, mesmo.

Mas vamos dar uma olhada nos rivais de hoje.

 

Lancia Delta S4

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Se você é fã dos clássicos italianos, certamente conhece o Lancia Delta. O hatchback que compartilhava plataforma com o Fiat Ritmo ficou famoso quando venceu seis títulos consecutivos no WRC, de 1987 a 1992, tornando-se o maior campeão de todos os tempos na competição. No entanto, o nome Delta apareceu nos estágios de rali alguns anos antes, com o Delta S4 no Grupo B.

Como você deve saber, o Grupo B foi disputado entre 1982 e 1986 e foi a fase mais insana do WRC: desde que fossem produzidos pelo menos 200 exemplares para uso nas ruas, valia tudo nos carros de competição. Assim, a Lancia decidiu usar como base seu campeão de 1983, o 037, e transformá-lo em uma máquina ainda melhor.

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O 037 tinha uma estrutura tubular de cromo-molibdênio, carroceria inspirada no Lancia Montecarlo e um quatro-cilindros de 1,8 com comando duplo no cabeçote, compressor mecânico e 350 cv movendo as rodas traseiras. No entanto, em 1984, ficou claro que o conjunto estava ultrapassado diante do mais novo arquirrival, o Audi Quattro e seu sistema de tração nas quatro rodas.

Por isso, a Lancia pegou o 037, deu a ele uma nova carroceria, inspirada no Delta — que já era um grande sucesso comercial desde seu lançamento, em 1979 — e o batizou como Delta S4. Mais do que isto: além do compressor mecânico, o motor recebeu um turbo e passou a desenvolver, de acordo com relatos da época, até 800 cv.

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Seu sistema de tração integral trazia um diferencial central que distribuía o torque de forma variável, com algo entre 60% e 75% para o eixo traseiro dependendo da situação. O câmbio era manual de cinco marchas, fornecido pela ZF. A suspensão era independente nas quatro rodas, com braços triangulares sobrepostos e amortecedores telescópicos com molas helicoidais, além de barras estabilizadoras na dianteira e na traseira. Na prática, era assim:

O Lancia Delta S4 venceu logo em seu evento de estreia, o RAC Rally, no Reino Unido, em 1985. No ano seguinte Henri Toivonen, piloto principal da Lancia, venceu com o S4 — à frente do Peugeot 205 T16 e do Audi Sport Quattro S1, segundo e terceiro respectivamente. O Delta S4 ainda venceu outras quatro etapas naquele ano, com direito a dobradinha na Argentina e uma vitória tripla em Sanremo, na Itália.

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O carro em questão, à venda na concessionária Top Marques, que fica em Vicenza, na Itália, pertenceu à equipe de fábrica da Lancia. Foi o carro reserva de Miki Biasion e Tiziano Siviero quando a dupla venceu o Rali da Argentina em 1986, mas nunca participou de uma prova. Sendo assim, está em estado imaculado, mesmo que jamais tenha sido restaurado, passando apenas por serviços de manutenção de rotina. Por outro lado…

 

Ford RS200

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Como o Delta S4, o Ford RS200 jamais venceu um título no WRC, mas isto não significa que ele seja uma lenda. Ele também usava um motor de quatro cilindros e 2,1 litros que, desenvolvido pela Cosworth e sobrealimentado por um turbocompressor, entregava pelo menos 350 cv em configuração de competição. Quer dizer, oficialmente — na prática, a potência era bem superior a 600 cv com o turbo operando a 1,6 bar.

Diferentemente do Delta S4, que utilizou uma base consagrada, o RS200 foi feito do zero: a estrutura tubular preparada para receber o motor atrás dos bancos dianteiros, o sistema de suspensão independente (com braços duplo A sobrepostos na dianteira e na traseira) e a carroceria de plástico reforçado com fibra de carbono eram totalmente inéditos. A carroceria projetada pela Ghia não era o que se considerava bonito na época (e talvez nem mesmo hoje) e, exceto pelas lanternas traseiras, que aparentemente vieram do Ford Sierra, não trazia semelhanças com modelo algum comercializado pela Ford na época.

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De qualquer forma, o Ford RS200 era um grande carro e tinha tudo para ser um sucesso. No entanto, ele demorou demais para ficar pronto e por isso, assim como o Lancia, não teve tempo de demonstrar todo seu potencial. O carro ficou pronto no fim de 1985 para correr na temporada seguinte, e sua estreia aconteceu no Rali Monte Carlo, com Stig Blomqvist ao volante do carro principal da equipe. Seu primeiro resultado expressivo só veio nas mãos de Kalle Grundel, que foi o terceiro colocado em casa, na Suécia.

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Infelizmente, naquele ano, o Ford RS200 se envolveu em um dos acidentes que colocariam um ponto final no Grupo B. No Rali de Portugal, Joaquim Santos perdeu o controle de seu RS200 em uma curva e seu carro foi atirado contra a multidão, matando três espectadores e ferindo outros 30. E, veja só: este foi só o primeiro de uma sequência de acidentes  que culminou com a morte do finlandês Henri Toivonen e de seu navegador, Sergio Cresto, poucos meses depois, no rali Tour de Corse, na França. E, veja só, o carro era um Lancia Delta S4…

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O RS200 vendido pela Top Marques pertenceu à equipe Sport Belga, e foi pilotado por Robert Droogmans e Ronny Joosten na temporada de 1986 do WRC. A equipe tinha dois exemplars do RS200, e este era usado em treinos, tendo competido apenas uma única vez quando o carro principal sofreu um acidente. Assim como o Lancia, o carro jamais foi restaurado e está em excelentes condições.

A infeliz coincidência entre o Lancia Delta S4 e o Ford RS200 só torna a questão mais difícil, ainda mais sem saber o preço dos carros. Considerando os preços dos bólidos do Grupo B que foram vendidos nos últimos anos, porém, dá para apostar em algo entre € 300 mil e € 450 mil, o que dá cerca de R$ 1,3-1,9 milhão. Então, com qual dois dois você ficaria?