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McLaren M12 Coupe: o supercarro de rua que veio antes do F1

Quando a McLaren decidiu fabricar seu primeiro carro de rua, o resultado foi o F1, superesportivo com um V12 de 6,1 litros e 627 cv que, acoplado a uma caixa manual de seis marchas, era capaz de levar o supercarro aos 100 km/h em 3,2 segundos, com máxima de 391 km/h — fazendo dele o carro mais veloz do mundo e marcando para sempre a história da indústria automotiva.

O F1 foi lançado em 1992 e, vinte anos depois, a McLaren resolveu voltar a investir em carros de rua. Desde 2012, foram apresentados o McLaren MP4-12C (depois, só 12C), seus irmãos 650S e 675LT e, claro, o insano P1 e seu conjunto híbrido de 916 cv — todos descendentes do McLaren F1, o primogênito.

Acontece que se, de forma oficial, o McLaren F1 foi o primeiro carro de rua fabricado pela companhia de Woking, no Reino Unido, extra-oficialmente a história é um tanto mais antiga. Quanto? Tente 1969.

Claro, tudo o que você sabe continua valendo e o F1 continua sendo o primeiro carro de rua da McLaren feito especialmente para este fim. No entanto, há mais de 45 anos, os britânicos transformaram um de seus protótipos de corrida em um superesportivo de rua — nada muito diferente do que a Porsche já fez (ou mandou fazer) com o 962, por exemplo, transformando-o no Dauer 962 Le Mans.

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No entanto, o carro em questão não era um protótipo de Le Mans, e sim um bólido de cockpit aberto feito para competir nos EUA. A McLaren, que na época ainda se chamava Bruce McLaren Motor Racing, era uma grande força da categoria CanAm na época. E isto era animal, porque a CanAm, disputada entre 1966 e 1967, era uma das categorias mais liberais do automobilismo: não havia limite de deslocamento, pouquíssimas restrições aerodinâmicas e eram permitidos turbos e compressores. Só era preciso que os carros tivessem cockpit aberto (ou seja, fossem do tipo spider). Não é o sonho de todo projetista de carros de corrida.

De qualquer forma, a McLaren realmente foi muito bem na CanAm. Entre 1967 e 1971, os ingleses venceram cinco títulos consecutivos, com o próprio Danny Hulme e Bruce McLaren revezando ano a ano — com exceção de 1971, primeiro ano depois da morte de McLaren ao volante de um de seus protótipos. Naquele ano, o campeão foi Peter Revson.

O caso é que, no ano anterior a sua morte, Bruce McLaren decidiu que a equipe poderia angariar fundos extras ao desenvolver um carro de corrida especialmente para equipes particulares que quisessem comprá-lo e modificá-lo. A ideia fazia sentido, visto que os bólidos da McLaren eram os melhores do grid. Foi assim que surgiu o McLaren M12, baseado no M8A — este, o vencedor da temporada de 1968 (que, aliás, só largou o osso depois que a Porsche apareceu com seu 917 turbinado).

Não dá para dizer qual foi o motor que a McLaren escolheu para o M12, e por uma razão simples: o carro não tinha motor. Claro, seu cofre fora projetado para acomodar um V8 Chevrolet big block e, de fato, era este o motor escolhido pela maioria dos clientes.

Ao todo, 13 ou 14 exemplares (não se sabe ao certo) do M12 foram fabricados, dos quais oito foram transformados no M12 GT Coupe em 1970. No início, a ideia era produzir 50 exemplares e homologar o M12 para as 24 Horas de Le Mans. No entanto, uma vez iniciada a fabricação destes protótipos, Bruce McLaren viu que sua equipe ainda não tinha condições financeiras de seguir em frente com o projeto. Sendo assim, são automóveis extremamente raros e pouca gente sabe que, tecnicamente, eles estão entre os primeiros McLaren de rua feitos no mundo.

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Estamos falando disso tudo porque um deles está à venda — algo que, honestamente, achávamos que jamais iria acontecer. E estamos falando de um exemplar especial: trata-se do último exemplar fabricado pela Lambretta-Trojan (sim, a mesma empresa que fabricava as famosas scooters urbanas) sob encomenda da McLaren. E este carro pertenceu a ninguém menos que Carroll Shelby!

O texano criador de galinhas comprou o carro em 1969, sem motor ou câmbio, mas a verdade é que não ficou muito tempo com ele. Shelby vendeu o carro à equipe Holman Moody, equipe que ficou famosa nos anos 50 por ser a responsável pelos carros que a Ford colocava para correr na Nascar. A Holman Moody, por sua vez, vendeu o carro em 1971 a um cara chamado Vic Franseze, de Nova York, que finalmente colocou um motor V8 big block noMcLaren e o colocou para correr.

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O carro passou por mais alguns anos antes de, em 1976, ir parar nas mãos de Larry Crossan e, finalmente, ser transformado em um carro de rua. Crossan pediu para que John Collins, ex-funcionário de Carroll Shelby, o transformasse em um cupê para rodar nas ruas.

No entanto, estamos falando de um superesportivo que nasceu como carro de corrida no fim da década de 60, período em que os protótipos de competição eram famosos por não serem exatamente estáveis e fáceis de pilotar. Pergunte a qualquer um que já tenha guiado um Porsche 917K, ou ao engenheiro da McLaren Gordon Coppuck — que uma vez descreveu o M12 GT como “um carro de corrida semi-civilizado e um carro de rua ridiculamente rápido, que pesava o mesmo que um Mini mas tinha dez vezes a potência”.

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Aparemente o M12 trocou de dono tantas vezes (foram mais de dez) porque quem quer que o acelerasse temia por sua vida: a dianteira levantava com facilidade, a traseira espalhava em qualquer curva e o interior não era exatamente confortável. No entanto, o M12 é um carro muito interessante e historicamente importante. Sendo assim, o preço não deve ser exatamente amigável. Na verdade, deve até assustar.

Tanto que a concessionária especializada em clássicos que anunciou o carro não dá preço algum, deixando claro que, se você está interessado, vai ter que falar com eles. De qualquer forma, o que temos aqui é um carro que quase não competiu, rodou nas ruas menos ainda e, recentemente, foi restaurado por seu atual dono (que comprou o carro em 2011), afim de ser exibido em eventos como o Goodwood Festival of Speed. Talvez o melhor nem seja saber o preço deste que pode ser considerado o antecessor do McLaren F1.

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