FlatOut!
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Car Culture Zero a 300

O que é melhor do que um Corsa com motor C20XE turbo? Um Corsa com DOIS motores C20XE turbo!

Coisas que (quase) todo carro tem: quatro rodas, um volante, um câmbio, um motor. No entanto, de vez em quando aparece alguém que acha que um motor só é pouco. Como o dono deste Opel Corsa B – segunda geração na Europa, primeira no Brasil, que não contente com um motor C20XE na dianteira, ele decidiu colocar um C20XE na traseira, também.

Não é a primeira vez que um carro com dois motores aparece aqui no FlatOut. Estranho seria se fosse, porque de cara consigo lembrar do Fusca de dois motores dos irmãos Fittipaldi e do Scirocco de dois motores da Volkswagen – sem falar nesta lista que fizemos em 2015 (vale a pena relembrar, aliás). Neste caso, contudo, há o fato de ser uma combinação de carro+motor já consagrada entre os “corseiros” no Brasil e lá fora, por unir a dinâmica naturalmente divertida do Corsa ao rendimento do motor C20XE da General Motors europeia, um dos quatro-cilindros mais legais já feitos.

O carro pertence ao britânico Adam Beard, do Reino Unido – ou seja, tecnicamente o Corsa é um Vauxhall – que já teve outros projetos bem ousados, como um Fiat Punto de primeira geração com motor de Suzuki Hayabusa em posição central-traseira, montado em uma estrutura tubular. Este, contudo, era o carro de um amigo de Adam.

Repare que o câmbio sequencial foi mantido, atuado por aletas atrás do volante

O Corsa, sucessor do Punto, foi fruto do desejo de Adam por um carro com tração nas quatro rodas e bastante potência. Com a experiência adquirida no projeto do Punto, ele não teve muitos problemas para executar o “swap duplo” no pequeno hatch de duas portas.

A verdade é que o Corsa, no qual Adam já está fuçando desde 2012, já seria bem divertido se tivesse apenas o motor dianteiro. Que na verdade é um C20LET, versão turbinada do motor C20XE. Este, por sua vez, é velho conhecido dos brasileiros por ter equipado o Chevrolet Vectra GSi nos anos 90, bem como seu irmão de plataforma, o cupê Calibra. Com comando duplo no cabeçote, excelente fluxo e disposição para girar, o motor fica ainda mais interessante na versão C20LET. Esta foi utilizada na Europa para equipar versões turbinadas do Vectra e do Calibra. Bastante semelhante ao C20XE, ele tem como principais diferenças um turbo KKK-16, pistões Mahles forjados, ECU Bosch Motronic M2.7, além de comandos de válvulas com menor tempo de levante (por questões de durabilidade). Ambos têm injeção eletrônica multiponto sequencial. Sem modificações, o C20XE entrega 150 cv e 20,7 mkgf de torque, enquanto o C20LET desenvolve 204 cv e 28,5 mkgf.

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Os dois motores são praticamente idênticos, e contam com coletores de admissão feitos sob medida com corpos de borboleta individuais

Pois então: na dianteira, o Corsa de Adam tem um C20LET bastante preparado, com comandos XE, um turbocompressor GT3071, cabeçote retrabalhado, injeção programável Go-Tech, injetores de maior vazão, além de todos os componentes internos forjados. É o suficiente para entregar 497 cv e 57,8 mkgf de torque – pensando bem, provavelmente seria demais para um pequeno hatchback de tração dianteira, a não ser que fosse um carro de arrancada.

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Para conseguir dobrar esta potência, Adam montou um segundo motor, com as mesmas especificações, e o instalou em uma estrutura tubular na traseira, com um pouco menos de potência e um pouco mais de torque – 488 cv e 61,5 mkgf, respectivamente. Ou seja: o Corsinha tem mais torque na traseira. Os dois motores são ligados a câmbios manuais idênticos, um par de Getrag F28 de seis marchas, com volante aliviado e diferencial Quaife de deslizamento limitado.

O pulo do gato está na alavanca de câmbio, que é ligada por cabos às duas transmissões. Os cabos podem ser conectados e desconectados facilmente e, com ignições separadas, os dois motores podem funcionar de maneira indendente. Assim, caso queria, Adam consegue conduzir o carro só com o motor dianteiro, ou só com o motor traseiro, ou com os dois. Nesse caso, a potência combinada é de 986 cv, com 119,3 mkgf de torque (!).

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A janela traseira de acrílico vazada ajuda a arrefecer o segundo motor, que tem seu próprio radiador

Em um teste no asfalto, calçando pneus de rua A048, o Corsa foi capaz de acelerar de zero a 100 km/h em 3,2 segundos e de 0 a 160 km/h em 3,6 segundos. O quarto-de-milha foi cumprido em 10,9 segundos a 231 km/h, e a velocidade máxima dé de 253 km/h. É desempenho de supercarro.

O Corsa tomou a maior parte do tempo livre de Adam, que é dono de uma oficina mecânica há pelo menos oito anos. O carro é usado em eventos de pista regionais na Inglaterra, track days e competições de time attack e, e uma das vantagens do Corsa é que bastam alguns minutos deitado embaixo do carro para transformá-lo em um carro com de tração dianteira, traseira ou nas quatro rodas, tornando-se apto a qualquer categoria (FWD, RWD ou AWD).

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Um detalhe interessante: apesar de todas as modificações, que também incluem suspensão ajustável, interior aliviado e gaiola de proteção, o Corsa passou na inspeção das autoridades de trânsito britânicas e é 100% legalizado para as ruas. No entanto, na maioria das vezes o Corsa vai para a pista de trailer.

Adam diz que vai se dedicar ao Corsa por mais alguns anos – todo mundo sabe que um project car nunca está pronto – mas já avisou em sua página no Facebook que, assim que completar 40, vai começar a dedicar-se a um projeto ainda mais impressionante: uma recriação do Audi Quattro S2 do Grupo B, com entre-eixos curto e tudo. Ele já tem um Audi Quattro de rua guardado na garagem, e há algum tempo está coletando peças para o carro, incluindo o motor cinco-cilindros turbo de 2,1 litros. É… nos parece uma boa maneira de superar um Corsa com dois motores e quase 1.000 cv.