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Project Cars Project Cars #481

Opala Standard 1982: funilaria, pintura e o câmbio de volta à coluna do PC #481

Depois da compra “por acaso” do Opala e as pequenas manutenções iniciais descritas no primeiro post, passei a utilizar o carro com relativa frequência.

 

Foi bastante interessante conhecer pessoas nos encontros, virar o “carinha do Opala” para alguns colegas de trabalho e afins, andar e ver as pessoas na rua reparando no carro, parar no posto e alguns frentistas não encontrarem o bocal de abastecimento, curiosos me perguntando se eu estou vendendo (mesmo que eles nunca fossem comprar), e as clássicas “esse é 4 ou 6 canecos?“, “bebe muito?“…

Tão logo quanto à parte bacana que todo carro antigo oferece, os problemas também começaram. Não posso reclamar muito porque meu Opala nunca precisou de um guincho (e deve continuar assim), mas o primeiro problema realmente chato e perigoso foi no famigerado carburador.

 

Início do “faça você mesmo”

Levei o carro para um mecânico perto de casa que já havia realizado alguns serviços no Chevette e no Corsa (sempre com resultados satisfatórios). Ele fez a limpeza e regulagem do DFV228, incluindo a troca do kit de reparos. A princípio o serviço ficou bom, mas após alguns dias o carro começou a “morrer” sem motivo aparente, independente de tempo em funcionamento ou temperatura. Quando “morria”, ficava alguns minutos sem ligar, até que depois dava partida e funcionava normalmente por mais um período aleatório. Identifiquei que quando isso ocorria, o carburador não injetava combustível, e ao abrir a tampa, a cuba encontrava-se totalmente vazia.

Expliquei para o mecânico, então o nível da boia foi regulado por ele, sem resultado positivo. A bomba e filtro de combustível foram trocados, o tanque retirado para limpeza, tudo isso também sem resultado positivo… Aconteceram duas situações onde o carro “morreu” bem tarde da noite e eu tive que pegar um pouco de gasolina da garrafa no porta malas para encher a cuba e seguir o caminho (a noite e sozinho, não é uma situação muito legal…).

Foi nesse momento que decidi aprender o máximo possível sobre mecânica, e assim conseguir resolver grande parte dos problemas sozinho.

Após muita pesquisa, cheguei ao vídeo do Opala Na Veia onde o Caio orienta quanto ao nível da cuba cheia ser de 37 ml de combustível.

O ONV tem sido um canal muito importante para meu aprendizado sobre manutenção

Li muito e assisti a diversos vídeos sobre desmontagem e funcionamento do carburador para ter certeza de que não faria besteira, principalmente por meu pai dizer que “carburador é muito complicado de mexer… só mecânico que manja… etc”. Desmontei, regulei nível de cuba, montei, acertei a mistura e nunca mais o carro apresentou o problema de “morrer” do nada.

Confesso que foi uma grande satisfação conseguir resolver o problema com minhas próprias mãos.

FOTO 1

Depois deste episódio, passei a fazer mais coisas no carro sozinho. Dois pontos que deram um “tcham” a mais no visual foram trocar os frisos cromados do para-brisa e vigia traseiro, e pintar a grade dianteira.

Vídeo “tutorial” sobre a troca dos frisos.

FOTO 2 FOTO 3 FOTO 4

Com muita paciência e calma, pintei com tinta spray “Colorgin Decor – Alumínio”. Quanto à parte azul da gravata, preferi manter original.

Continuei usando o carro, mas percebi que o ponteiro de temperatura demorava muito para subir, e depois ficava muito acima do normal. Típico sintoma de ausência da válvula termostática e obstrução no radiador. Aproveitei o embalo e já fiz uma revisão geral no arrefecimento, incluindo:

– Troca da colmeia e limpeza do radiador;
– Troca da bomba d’água;
– Troca da carcaça/tampa da válvula termostática;
– Instalação de válvula termostática;
– Troca de mangueiras;
– Troca da tampa do radiador;
– Troca da hélice/ventoinha;
– Uso de aditivo e água desmineralizada.

Mais um “tutorial” básico.

Foi realizado mais um enorme número de reparos entre a data de compra (Fev/2015) até encostar o carro para funilaria e pintura geral (Set/2016). Não vou listar todos, pois o número beira algo em torno de 50 itens… Desde reparo de alternador e conserto de limpador de para-brisa, passando por peças de acabamento como emblema Chevrolet do volante, até revisão na suspensão e regulagem de válvulas.

 

Funilaria e pintura

O carro já apresentava um estado gera bacana e com estrutura bastante íntegra antes da compra. Mas era um carro realmente usado, não um enfeite de garagem, portanto apresentava uma série de problemas na carroceria que me incomodavam. E para agravar a situação, houve um pequeno acidente numa das idas ao auto-elétrico  que resultou num pequeno amassado na porta do lado direito.

Vários riscos e pontos de corrosão espalhados pela carroceria, desalinhamento da saia dianteira e para-choques, infiltração de água no porta malas, etc

Nesse momento eu não possuía condições para fazer uma restauração de verdade no carro, então decidi somente dar aquela revitalizada, sanar as corrosões e repintar o carro todo. Agora o ponto era a escolha do funileiro/pintor.

Meu pai descobriu que um antigo colega de trabalho dele (o Renato) havia aberto uma oficina na rua de casa, então levamos o carro para ele fazer um orçamento. Confesso que o ponto principal para fechar com ele foi um serviço realizado em uma Caravan que regularmente aparece aqui no bairro, assim pude ter uma boa noção da qualidade.  Previsão de conclusão do serviço foi de três meses, mas como sempre vi o pessoal reclamando que funileiro é sempre muito enrolado e etc., já esperava ficar mais tempo sem o Opala.

Fui acompanhando o andamento do serviço, mas não tive nenhuma dor de cabeça grave com o funileiro. Durante o processo, meus problemas foram os custos não esperados, como a correria para comprar algumas peças, uma máquina de vidro que quebrou e o escapamento que quebrou no dia em que fui levar o carro para resolver o problema da máquina de vidro (tem momentos que esses carros testam sua paciência).

O carro me foi entregue com apenas 15 dias de atraso, então ok. Fiquei bastante satisfeito com o resultado.

Durante o processo

Carro pronto

 

Interior

Depois da pintura decidi higienizar o interior do carro. Mesmo que eu já tivesse planos sobre a substituição dos bancos dianteiros e mudança da tapeçaria, concluí que seria um bom investimento para já curtir o carro em um melhor estado possível.

A higienização foi feita pelo Victor Manzano, também de Guarulhos-SP. Lembram-se daquele Opala 82 Silverstar que eu vi em 2014 em Águas de Lindóia? (fotos no post 1) Então, é dos pais do Victor. Depois de comprar o meu, os conheci em encontros, e só após bastante tempo que percebi se tratar do mesmo carro (Mundo pequeno, não?).

Ele faz o serviço manualmente, utilizando Cadillac APC com esponja de melamina. O serviço ficou muito bom, especialmente nos forros de porta e teto.

FOTO 84

Somente uma mancha preta não saiu do banco motorista, provavelmente alguma graxa ou sujeira anormal. Dá pra ver legal o antes e depois comparando os quebra sóis (ao fundo, o Diplomata do Victor).

 

Primeiro passeio pós-revitalização

Carro bonito por dentro e por fora, não havia melhor maneira de curtir se não indo assistir a final da Old Stock Race de 2016, com o bônus de desfilar pela pista antes da corrida (Agradeço ao Clube do Opala de Guarulhos por terem cedido uma das vagas do desfile para mim).

Apesar de não poder acelerar muito (afinal, era só desfile) foi uma experiência sensacional andar em Interlagos. Minha namorada filmou o feito:

William Moreira “largando” na minha frente com sua Caravan e a malinha no teto

 

Mais manutenções

No início de 2017 foi realizdo o recondicionamento da caixa de direção (estava com quase 1/4 de folga), o resultado foi bom e melhorou bastante a dirigibilidade. Então comecei a ensinar minha namorada a dirigir o carro, mas depois da terceira “aula“, eis que piso no freio e o motor oscilava a marcha lenta  junto a um som “uuíííiiuuuuuu” perto do pedal. Servo freio furado.

Desempregado, contei as moedas e comprei um servo freio novo. Decidi trocar sozinho (era isso ou ficar sem andar até arrumar outro emprego). Depois de muita pesquisa, consegui, e o resultado ficou excelente.


Vídeo “tutorial” sobre a troca do servo freio.

Até aí, tudo muito legal. Mas vocês devem estar se perguntando: “Mas e o bendito câmbio na coluna?

Câmbio na coluna e outras melhorias

Empregado novamente, planejei a substituição do miolo de ignição, instalação de faróis de milha cromados e faixas brancas nos pneus (levemente inspirado pelos Chevrolet Impala do fim da década de 70 e início de 80).

FOTO 87

Dando uma olhada nos grupos de WhatsApp de Opaleiros, vejo um anúncio de Opala 80 sendo desmanchado. Era também bege, bem detonado. Entrei em contato com o vendedor para ver o que havia disponível, e para minha surpresa, a caixa de câmbio três marchas com as varetas de acionamento. Fechamos negócio, e já levei a caixa para o mecânico revisar.

Tudo revisado e pronto para ser montado no carro. Comprei uma alavanca de câmbio nova e o kit de reparo das varetas, levei para o mecânico e aproveitei para que fossem realizados mais alguns serviços como a troca de pivôs, terminais de direção, flexíveis de freio, embreagem, e retífica do volante do motor.

FOTO 93

Agora é só trocar a caixa de câmbio sem dificuldade nenhuma, certo? Errado…

Com a caixa tudo ok, suportes ok, mas as varetas não. Uma das varetas após montada na caixa, não chegava até à coluna. Por sorte, um colega do mecânico que tem um Opala 79 três marchas foi até a oficina, e comparando, as varetas que eu havia comprado não eram iguais. Surgiram duas opções: procurar outra vareta correta, ou, o mecânico se dispôs a cortar e soldar a que eu já tinha para possibilitar a montagem.

Gostaria de poder ter comprado outra vareta, mas já estava com o orçamento apertado, então o mecânico fez o “ajuste técnico” necessário e pronto (depois de alguns meses, comprei essa tal vareta “correta”, mas ela também apresentou o mesmo problema da anterior. Até agora ninguém soube explicar a razão. Mas o carro ainda roda com umas das varetas soldadas sem problemas.).

Agora sim! Carro pronto, saí do serviço e fui direto para a oficina. Dei uma volta e a experiência foi muito legal, bem diferente de dirigir o câmbio “normal” no assoalho. Pensei que teria mais dificuldade para me adaptar, mas até que foi bem rápido. É interessante como nas ruas de bairro, se não houver necessidade de parar o carro totalmente, basta engatar a segunda marcha e esquecer o câmbio.

Porém, não ficou perfeito. Os engates da ré, segunda e terceira marcha estavam bons, mas a primeira estava muito problemática. Só engatava com o carro completamente parado, e mesmo parado, não era sempre que engatava. Quase sempre eu ia engatar a primeira, mas a alavanca não chegava à posição, então eu tinha que jogar a segunda, depois tentar a primeira novamente. Às vezes dava certo, se não desse, tentava engatar a terceira e depois a primeira. E também não era garantia de funcionar. Resumindo: andar com o carro na cidade, principalmente durante a semana e trânsito intenso ficou um saco.

 

O mecânico disse que a causa do problema estava dentro da coluna de direção (lembrando que quando comprei o carro, a coluna de direção para câmbio três marchas já estava lá). Como teoricamente todo o resto do sistema de transmissão estava revisado, e pela falta de outro mecânico que entendesse deste tipo de câmbio, aceitei e continuei usando o carro naquela situação mesmo.

 

Mais algumas melhorias

Comprei dois pneus 195/70 para a traseira (o carro veio do antigo dono com os quatro pneus 185/70), levei as rodas para pintura em Alumínio Opalescente, depois para um balanceamento das rodas, e por fim pintei o motor na cor original Azul Xingu.

Tapeçaria

Desde que o câmbio voltou a ser na coluna, me incomodava razoavelmente com o fato de permanecerem os bancos separados e o buraco no carpete.

FOTO 99

Então me mantive atento aos anúncios de banco inteiriço na internet, mas sempre eram preços absurdos por bancos em estado deplorável. Até que certo dia aparece um por um preço pagável em Mogi das Cruzes/SP.

Levei o carro para o Auto Capas Tio aqui em Guarulhos para troca do carpete, e reforma dos bancos (Fev/2018). O resultado ficou muito bom, esse banco dianteiro tem o assento bem alto, excelente para minha estatura, e muito macio. Virou outro carro.

FOTO 105

 

Voltando ao câmbio

Carro “quase pronto”, conversando com um amigo sobre o câmbio e minha dificuldade para engatar a primeira marcha, ele comentou sobre outro mecânico que talvez pudesse me ajudar. Entrei em contato e fui à sua oficina.  Ele deu uma volta no carro e me disse que o problema não era trambulador ou algo dentro da coluna, mas sim dentro da caixa de câmbio.

Apesar de o câmbio ter sido totalmente desmontado e revisado, confiei na opinião dele. Combinamos que depois eu levaria o carro para ele desmontar a caixa e verificar. Eis que para meu azar (ou sorte), neste mesmo dia um pouco mais tarde, engatei a ré, e quando solto o pé da embreagem… tráá! Desengato o carro, engato novamente a ré, e quando tiro o pé da embreagem, aquele barulho de engrenagens raspando e nada de o carro se movimentar para trás. 

Sei que numa situação dessas o correto seria chamar um guincho, pois se realmente algo quebra dentro da caixa, ao andar com o carro, as partículas oriundas quebra podem danificar o restante das peças. Mas fiquei injuriado, testei as marchas para frente que funcionaram normalmente. Até o momento o Opala nunca tinha andado de guincho, não seria diferente naquele dia. Então fui para casa assim mesmo. 

Carros velhos testam a paciência de seus donos constantemente. Tem horas que dá vontade de fazer igual ao cidadão do vídeo:

“Toco fogo mêêrrmo. Mim deu trabalho eu toco fogo”

Mas a resolução deste problema e mais algumas histórias vão ficar para o próximo post. Muito obrigado pela leitura e até mais! 

Por Felipe Leonardo da Silva, Project Cars #481

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