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Car Culture Eventos

Parati EDP do Salão de 1996: o reencontro após 20 anos (e mais: Bonus Track BGT 8)

Não poderia ser outra pessoa senão ele a remover a capa que cobria a Parati EDP, de 1996, um dos conceitos mais famosos da Volkswagen: o designer Luiz Alberto Veiga (63), pai de todas as gerações do Gol exceto a primeira, do Fox, do Polo Sedan, fundador do prêmio de Design da VW do Brasil e, claro, criador da EDP. Músico, pintor e fã de trabalhos manuais com madeira, Veiga se aposentou há apenas três meses – estava leve e à vontade, de camiseta e boné, sem mais a necessidade de terno, gravata e protocolos tradicionais à indústria.

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Este momento no Bubble Gun Treffen 8 (veja aqui nossa cobertura principal do evento) foi um rito de passagem com timing perfeito: duas décadas de Parati EDP, 40 anos de carreira de Veiga e logo ao lado, o conceito criado pelo seu sucessor na chefia de design da Volkswagen, José Carlos Pavone: o Gol GT. Já iremos chegar nele. Antes, a Parati Engineering Design Prototype (EDP).

Para entender o que ela representa, é preciso evitar o erro clássico e básico do olhar anacrônico. Não é um carro ano-modelo 1997 customizado em 2016, camarada. Este automóvel foi feito em 1996, nada menos que cinco anos antes do primeiro Velozes e Furiosos e seis anos após a liberação da importação de veículos no País. Nesta época, a indústria ainda estava engatinhando em sua internacionalização de portfólio – e as séries especiais e conceitos tinham enorme destaque. Um deles falamos recentemente: o VW Santana Tecno II, com motor de Golf GTI e tração integral.

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Então, quando você olha esse jogo de rodas BBS aro 17 e tudo parece normal e previsível, lembre-se de que aro 17 era coisa de esportivo de gente grande em 1996 – era item de BMW M3, Porsche 911 Carrera, McLaren F1. Pneus 215 com perfil 40? Hoje, você não consegue visualizar o que foi essa transgressão na época – o que dizer então dos para-choques embutidos, das minissaias, dos extratores traseiros e, principalmente, dos para-lamas alargados (funcionais: as bitolas foram alargadas e a lata foi sim cortada) e parafusados à carroceria? Detalhe: vários destes elementos são de fibra de carbono!

É exatamente isso que confunde: ela acabou adiantando algumas tendências no mundo da personalização que só surgiram muitos anos depois – mas aos olhos de hoje, pertence ao mesmo balaio. Dizer que é uma Parati a la Rocket Bunny ou Amemiya da época ainda não é suficiente, pois era uma época na qual a internet ainda engatinhava no Brasil – ou seja, não havia este bombardeio de cultura automotiva de todo o mundo em dose diária – e este tipo de modificação radical era coisa quase exclusiva de alemães.

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Por isso, é preciso olhar para a Parati EDP com reverência. Não há dúvidas de que, vista sob a estética atual, ela é extremamente datada e algo brega, mas você não pode vê-la como se fosse algo feito agora – embora isso seja tentador, justamente por ela ter adiantado tantas soluções estéticas no mundo da personalização. Ela representa o futuro do pretérito.

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Sob o capô, a Parati não era nada ingênua: trazia um AP 2000 16V com cabeçote exaustivamente retrabalhado no fluxo e equipado com duplo comando bravo da Crane, sistema de escape redimensionado sem catalisador e remapeamento na injeção e ignição. Com 200 cv, sua máxima era de 230 km/h, com aceleração de zero a 100 km/h em 7,4 s. O conjunto de suspensão teve carga redimensionada e os freios passaram a ser a disco ventilado nas quatro rodas, com ABS.

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Abaixo, perspectiva da traseira e da dianteira. Note o capô com bolha, conhecido dos GTI 2000 16V.

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O interior da Parati EDP apresenta um volante da Momo, pedais de alumínio e apenas dois bancos dianteiros – Recaro Style –, revestidos de couro preto e creme, mesmo padrão utilizado nas forrações de porta. O painel foi acabado com tinta soft-touch, tirando o toque áspero da peça original da Volkswagen. O acabamento do assoalho em chapa de alumínio lavrada adiantou uma tendência que ficou quase insuportável alguns anos após o primeiro Velozes e Furiosos e que hoje é visto como Xuning. Mas em 1996…

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O compartimento traseiro virou uma área destinada para carga e som. Módulos Clarion gerando 1000 w, dois subwoofers, dois woofers, oito falantes do tipo mid-range, quatro tweeters e, claro um magazine de CDs com capacidade para 18 discos (!).

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Reencontrar a Parati EDP foi um belo momento nostálgico para muitos. Mas era bem visível que isso só tinha representatividade para quem viveu aquela época. Para os mais jovens, era um carro de personalização antiquada e que não fazia sentido. Por outro lado, em volta do Gol GT (acredite: há um carro no meio deste mar de gente)…

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Como falamos no início desta matéria, esta dupla de conceitos representou um rito de passagem. O Gol GT Concept é o primeiro trabalho de José Carlos Pavone como Chefe de Design da Volkswagen da América do Sul. Em vez de optar pelo caminho contemporâneo (GTI ou R-Line), Pavone decidiu voltar seus olhos para o passado e fazer uma interpretação do Gol GT de acordo com a escola atual de design do VAG.

Nós falamos longamente sobre o Gol GT Concept em nosso post feito durante o Salão do Automóvel, então aqui ficam os registros fotográficos para você apreciá-lo em detalhes – e finalizamos a série com um belíssimo Gol GT original. Não se esqueça de clicar nas fotos para ampliar.

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Bonus Track

Para encerrar nossa cobertura do BGT 8, algumas coisas bem interessantes que surgiram ao longo do sábado: uma bela e curiosíssima Parati VR6 – com radiador instalado atrás do eixo traseiro e suspensão a ar, aliviando um pouco a proximidade do cárter com o solo –, uma Kombi personalizada com o livery da Rothmans (cuidado para não confundir com os Williams: a homenagem aqui são os Porsche 956/962 esporte-protótipo de Le Mans!), um raríssimo Scirocco R de importação privada, um belíssimo Audi S4 preparado e o Gol de Track Day de Tiago Régis, um monstro capaz de registrar voltas abaixo de 1:50 em Interlagos. Estes dois últimos estarão conosco lá no FlatOut Sunset Meet, o nosso primeiro encontro oficial!

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