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Por que o Ford Focus de três volumes passou a se chamar Focus Fastback?

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Como vocês sabem, a recente reestilização da carroceria de três volumes do Ford Focus trouxe, além de novidades como borboletas atrás do volante para trocas manuais no câmbio de dupla embreagem, uma mudança em seu sobrenome, que passou a se chamar Focus Fastback – algo que deixou muitos puristas com o pé atrás. Afinal, este nome está historicamente ligado aos pony e muscle cars mais icônicos da Ford, nunca foi adotado no Focus antes e, no sentido mais estrito do termo, sua carroceria não apresenta esta configuração, não é mesmo?

Trouxemos estes questionamentos para a turma de design e de marketing da Ford, que reconhecem estes pontos. Para eles, tudo começa com a diferença do perfil do público que compra o Focus. “Nós notamos que, quando comparamos nosso produto com os mais vendidos do segmento, nitidamente temos um que é diferente. E que é voltado a um público diferente. É muito mais direcionado à esportividade que ao espaço interno. Toda a parte técnica de dirigibilidade é diferente. Os demais são focados em conforto; o nosso, em prazer de dirigir. Não adianta vender do mesmo jeito”, diz Oswaldo Ramos, gerente de marketing da Ford.

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De acordo com Ramos, a decisão do uso deste nome foi orientada por uma identidade de atitude, não pelo uso descritivo do termo. “Existe esse público entusiasta no mercado de sedãs? Existe! São novos entrantes. Gente que gosta de carros, mas que casou e ampliou a família. A gente precisava de uma linha de comunicação para falar com esses caras. Como, se eu continuar a chamar o carro de Focus Sedan? Era preciso chamá-lo de uma forma diferente. Pesquisamos uma série de nomes e veio Fastback. E realmente nosso carro tem um design com queda de traseira diferente dos tradicionais, numa linha com queda contínua e mais suave. É um nome que vem com Fast – rápido – no meio. Mas não foi para travestir nosso três-volumes de algo que ele não é. Foi, sim, para dizer o que ele é. Quem quer carro espaçoso certamente vai para a concorrência. Quem quiser algo bom de dirigir vem com a gente”, completa o executivo.

“Usamos Fastback como licença poética. Foi um posicionamento de marketing. É um nome carregado de significado esportivo; não precisamos investir em comunicação para dizer o que é. Poderíamos ter criado um nome, como a Audi fez com o Sportback, que é patenteado, mas não vimos necessidade. Fastback já fala ao entusiasta. Queiram ou não, teve efeito: viramos assunto. Vários sedãs de luxo estão vindo para essa linha, mas estão sendo chamados de cupê de quatro portas. E cupê lá tem quatro portas?”, questiona.

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Conectar a coluna “C” com o volume do porta-malas por um caimento suave e fluido da linha de teto é uma tendência de design muito forte nos sedãs de luxo de grande porte, com comprimento na casa dos cinco metros – um dos primeiros representantes desta escola foi o Mercedes-Benz CLS, nascido em 2004, e que é identificado oficialmente pela própria marca de “cupê de quatro portas” e de “sedã fastback”. Mas entre os sedãs médios, categoria do Focus Fastback (ele tem 4,53 m de comprimento), é mais comum a silhueta do sedã clássico.

“Quando você é criança e te pedem para desenhar um carro, o modelo que nasce é um sedã, com três quadrados bem distintos: um para o capô, um para a cabine e um para o porta-malas. Aí são desenhadas as rodas e os vidros, mas os faróis podem ser colocados em qualquer ponta. E muitos sedãs têm hoje essa distinção muito clara entre os volumes, especialmente no porta-malas. No caso do Focus Fastback, isso não acontece”, diz Fabio Sandrin, supervisor de Design da Ford América do Sul.

Sandrin nos mostra as silhuetas estilizadas do sedã e explica: “Note como a coluna C do Focus Fastback fica bem para trás, quase se confundindo com a extremidade traseira do carro. É como se ele tivesse um volume só. Ou dois, como os fastbacks históricos da marca”. Mas não é apenas o perfil do carro que mostra que ele se distancia do conceito mais tradicional de sedã. “Toda a linguagem de superfícies do Focus Fastback remete a um modelo mais esportivo. Veja como, nestas imagens (abaixo), e sob essa perspectiva, o carro parece não ter um porta-malas alongado”, diz Sandrin.

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Fastback também embute um resgate histórico, de acordo com o gerente de marketing da Ford, lembrando ao dono do carro que o que ele tem nas mãos não é apenas um sedã, formato de carroceria tido como um dos mais caretas do universo automotivo. É um Focus, carro que sempre foi exaltado por suas qualidades dinâmicas, desde sua primeira geração, e que foram exploradas tanto em modelos de rua apimentados como os nervosos ST e RS, quanto em participações vitoriosas em diversos campeonatos de automobilismo em todo o mundo: no argentino TC 2000, no britânico de turismo BTCC, no mundial da FIA (WTC) e no épico campeonato mundial de rali (WRC), por exemplo.

No WRC o Focus foi agraciado com alguns dos maiores pilotos da história – Colin McRae, Carlos Sainz, Marcus Grönholm, Mikko Hirvonen – e encerrou um jejum de 27 anos da Ford, conquistando não apenas o título de construtores de 2006, mas também o de 2007. Leia a história do Focus no WRC aqui.

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Três leitores do FlatOut também estão explorando essas qualidades dinâmicas do Focus: Gustavo Loeffler e seu épico projeto-tributo ao Colin McRae (foto acima) para disputar provas de subida de montanha, e os projetos para track days de João Pensa (aspirado) e o de João Paulo Falcão (turbo).

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A precisão do sistema de direção (com boa sensibilidade, mesmo com assistência elétrica), a estabilidade da geometria de suspensão, uma boa relação entre bitolas e entre-eixos e uma calibragem bem acertada de amortecedores, molas e barras estabilizadoras resultaram em uma dinâmica neutra e ágil, com pouca rolagem de carroceria e bastante aderência. Ele é um dos únicos modelos médios a contar com suspensão traseira independente até hoje.

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Curiosamente, foi só na terceira geração que o sedã ganhou um tratamento estilístico mais arrojado, ficando mais condizente com a proposta visual que o hatchback oferecia. Como se o irmão mais sisudo da família tivesse relaxado, colocado uma bermuda e resolvido curtir a praia. Veja as imagens das três gerações do três volumes, de perfil:

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Note como, na primeira geração, o compartimento do porta-malas segue o desenho clássico dos sedãs, com uma distinção nítida do compartimento de carga em relação à cabine. Na segunda geração, os vincos ficaram um pouco mais suaves e a janela da coluna “C” ficou ascendente, suavizando essa percepção, mas ainda bastante conservadora. Foi apenas na terceira geração, que foi apresentada no Brasil em setembro de 2013, que o arrojo chegou de forma definitiva em sua silhueta. O caimento de teto suave combinado ao avanço das colunas “C” em direção à tampa traseira resultou em uma percepção de terceiro volume curto e fluido.

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Você, acertadamente, deve estar se perguntando: se esta carroceria da atual geração está entre nós há quase dois anos (a recente reestilização não mudou a sua silhueta), por que só chamar de Fastback agora? Trouxemos este questionamento e a Ford fez seu mea culpa. Segundo o gerente de marketing da Ford, isso aconteceu porque o foco, no lançamento da terceira geração, era o hatch.

“O aspiracional do mercado é o hatchback médio. Ele é o verdadeiro carro do gearhead. E o Focus, por muitos anos, teve a fama de injustiçado. As pessoas diziam que ele vendia muito menos do que merecia. Precisávamos consolidar o hatch e investimos pesado nele em publicidade nos últimos três anos. Não dá para investir em tudo ao mesmo tempo: o cobertor é curto. Agora, já estou com a linha madura. O Focus é líder do segmento. Chegou a hora do Fastback”, afirma.

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A renovação visual combinada ao novo sobrenome pode ajudar na tarefa de reapresentar o sedã ao mercado, já ressaltando alguns diferenciais. Ele foi o primeiro modelo médio abaixo dos R$ 100 mil a oferecer motor com injeção direta de combustível e assistência de estacionamento, por exemplo, fora itens mais comuns, mas que boa parte dos concorrentes não oferece, como transmissão automatizada de dupla embreagem e controle de estabilidade.

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“O entusiasta que tem família pergunta: existe vida feliz depois de casamento e filhos? Sim, existe! E era preciso mostrar a esse entusiasta qual carro poderia oferecer essa vida feliz ao volante. Faltava investimento publicitário no carro, algo que resolvemos agora, mas continuamos com um problema: o hatch e o sedã são Focus, mas é mais fácil comunicar dois carros diferentes se eles tiverem nomes diferentes. Se você fala em Focus, você pensa em hatch. Era preciso distinguir os dois de uma forma muito contundente”, diz Ramos.

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De acordo com o gerente de marketing da Ford, o nome Fastback veio para resolver essas questões, uma tarefa que foi muito facilitada por dois sucessos que a marca já tinha no quintal de casa. “A gente tem uma linha global de carros. Com o sucesso do Focus hatch em seu segmento, ganhamos um pilar de sustentação do Fastback. E ele já tem uma associação natural com o Fusion, que é líder de seu segmento, bomba de vender. O Fastback é visto como uma versão média do Fusion. Em outras palavras, ele é um Focus, no sentido de dinâmica e prazer ao dirigir, e um Fusion menorzinho, um carro associado a status e a sucesso profissional. Ao cara que venceu na vida.”

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Com essa ajuda familiar, a nova campanha da Ford estaria dando bons resultados. “Conseguimos colocar o Focus Fastback na mira dos compradores. Todo segmento tem três ou quatro carros que o comprador considera, independentemente de quantas opções ele ofereça. E o Fastback entrou no radar dos clientes, algo que não acontecia com o Sedan. Se o cara não quiser um carro careta e só houver carros caretas no segmento que ele anda paquerando, ele abandona o segmento. E os sedãs médios têm expressão e têm volume. Quem quer prazer ao dirigir nos sedãs médios encontra isso no Fastback”, diz Ramos.

Resumindo, não leve o nome Fastback tão ao pé da letra. Ele é licença poética para o que o Focus de três volumes busca oferecer como produto de pegada mais esportiva, preservando a assinatura dinâmica do hatchback, mesmo em uma carroceria maior.

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