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Automobilismo Zero a 300

Por que o vencedor das 500 Milhas de Indianapolis bebe leite e não champanhe?

Você consegue imaginar uma corrida sem banho de champanhe? Essa comemoração é tão universal que praticamente todas as categorias de todo o mundo a repetem corrida após corrida. Pode ser na Indy, em Le Mans, na Fórmula 1, em um torneio regional de kart ou em um arrancadão improvisado em uma pista de aeroporto. Só não pode ser nas 500 Milhas de Indianapolis.

Na maior das corridas americanas, o vencedor não ganha champanhe. Ele ganha uma garrafa de leite. E por mais estranho que possa parecer a quem não acompanha regularmente a Indy 500, a origem desta tradição é mais antiga que a do champanhe.

A história começa em 1933, quando o piloto americano Louis Meyer venceu a 500 Milhas pela segunda vez em sua carreira. Naquela época, os pilotos vencedores se dirigiam à victory lane, onde recebiam uma coroa de louro e um troféu pela vitória. Nada de garrafas ou bebidas oficiais: os pilotos que tivessem sede descolavam qualquer bebida que estivesse à mão e continuavam a comemoração.

Meyer, contudo, tinha o hábito beber leitelho (que é um tipo de leite coalhado retirado da produção da manteiga) gelado nos dias quentes para se manter hidratado — dizem que era um conselho de sua mãe que ele levou à risca durante toda a sua vida. Ao vencer a Indy 500, depois de 200 voltas e quase cinco horas ao volante, Meyer estava sedento, pediu um copo de leitelho e foi atendido.

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Nos dois anos seguintes Meyer voltou a Indianapolis mas não conseguiu nada melhor que um 12º lugar. Em 1936 ele venceu pela terceira vez, tornando-se o primeiro piloto a conquistar três vitórias nas 500 Milhas. Novamente depois de 200 voltas e quatro horas e meia ao volante sob o sol do final da primavera, Meyer comemorou bebendo leitelho mais uma vez. Mas desta vez, como estava tomando diretamente da garrafa, ele foi fotografado e filmado com o leite na mão. Imagine só: o homem que acabara de se tornar o maior vencedor da história da Indy estava tomando leite!

Meyer aparece segurando a histórica garrafa aos 0:32 

“Vencedores bebem leite”, soa como um ótimo slogan não? Pois os produtores de leite americanos também acharam isso e passaram a patrocinar a vitória da Indy nos anos seguintes, embora não de forma contínua. Foi somente em 1956 que Tony Hulman, proprietário do Indianapolis Motor Speedway na época, decidiu transformar a garrafa de leite na comemoração oficial da Indy 500 — especialmente com patrocinadores pagando para promover o leite americano no pódio.

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Wilbur Shaw bebe o leite em 1940… 

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… e George Robson em 1946.

Desde então todos os vencedores da Indy 500 comemoram a vitória com um gole de leite. Todos mesmo, incluindo Emerson Fitipaldi, que ao vencer em 1993 decidiu deliberadamente trocar a garrafa de leite pelo suco de laranja que sua família produzia… e quase foi do céu ao inferno de Indy por isso. Antes que fosse tarde, Roger Penske chamou Emmo em um canto, avisou o brasileiro sobre a pequena gafe que cometera e sugeriu que ele bebesse um gole de leite para não quebrar a tradição nem sair vaiado do circuito.

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A tradição do champanhe, por sua vez, só começou no GP da França de Fórmula 1 de 1950, a sexta e penúltima corrida da temporada inaugural da categoria. Com a corrida realizada em Reims, na região de Champanhe, os produtores do vinho espumante local decidiram presentear os vencedores com garrafas do seu produto. Àquela altura a Indy já comemorava a vitória com leite havia quase 15 anos. Toma essa!