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Project Cars Project Cars #109

Project Cars #109: a história do raríssimo Honda CRX de Leandro Garcia

Fala, galera! Mome é Leandro Garcia e sou analista de sistemas há 14 anos. O mais engraçado é que essa nunca foi a minha ideia de profissão quando fosse adulto. Sempre adorei carros e desenhar, por isso meu sonho era ser um desenhista projetista em alguma empresa automotiva, mas infelizmente nem sempre a vida segue o caminho que desejamos né?

Apesar de a minha profissão ser atrás de um computador, sentado o dia todo em uma cadeira, sempre aproveitei os meus fins de semana e madrugadas para aprender sobre o mundo automotivo e de alguns anos para cá eu mesmo faço as manutenções e restaurações nos meus carros. Isso está servindo de aprendizado para daqui alguns anos abrir a minha oficina especializada em restauração de carros antigos.

E é exatamente aqui que começa a história deste Project Car.

Como amante incondicional dos modelos Honda, queria escolher um carro que precisasse de muito trabalho, para que eu possa adquirir conhecimento suficiente em restauração e preparação antes de entrar de cabeça neste novo ramo de atividade.

Em 2010 eu vi em um site de venda de carros o anúncio de um Honda CRX 1989 prata. O carro estava bem judiado, mas funcionava e não era tão caro (R$9.000 na época). Mas infelizmente (ou felizmente dependendo do ponto de vista) eu estava me casando e não tinha dinheiro para comprar o carro. Até enviei um e-mail para o vendedor oferecendo R$ 5.000,00, mas não tive resposta.

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Neste ponto eu desencanei e foquei em aprender mais sobre funilaria, pintura e mecânica. Já em 2013 eu decidi que teria um Honda CRX e comecei a busca. Durante um bom período ficou a venda um CRX Si branco, mas o carro parecia muito inteiro para o meu propósito e também custava muito caro para o meu bolso.

Enquanto eu não encontrava o carro comecei o processo de aprendizado sobre o mesmo. Nesta descobri coisas maravilhosas e mesmo como “Hondeiro” não sabia. O Honda CRX foi criado pela Honda para conquistar os mercados fora do Japão. Era um carro muito leve e extremamente econômico.

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A primeira versão surgiu em 1983 com motores 1.3 de 58 cv e motores 1.5 de 76 cv. Pode parecer muito fraco, mas para época eram motores relativamente bons, e esse motor 1.3 fazia 22 km/l. Imagine isso na época dos motores V8, em um período pós crise do petróleo? Isso abriu as portas para a Honda na América, mas a marca só ganhou grande escala com o lançamento da segunda geração (1988-1991).

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Foi exatamente nesta segunda geração que surgiu o famoso motor B16 utilizado nos Civic VTi. Mas esta versão (conhecida como EF8 ou SiR) não foi disponibilizada nos EUA — os americanos tiveram apenas as versões HF, DX e Si. A versão HF era equipada com um motor 1.5 e que fazia “apenas” 19 km/l.

Depois de aprender tudo isso, me foquei em qual seria o projeto e foi aí que conheci o “CRX2000”.

Este CRX juntava os meus dois sonhos, Honda CRX + Motor do S2000. Isso mesmo, colocaram um motor F20C do S2000 no CRX e adaptaram o carro para tração traseira. Além disso, instalaram uma turbina para elevar a potência dos 240 para 474 cv.

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A base do projeto já estava na cabeça: Honda CRX, com tração traseira, motor F20C e turbo beirando os 700 cv. O problema é descobrir onde arrumar um Honda CRX e, pior ainda, um motor F20C?

No fim de 2013 estava acessando o Facebook, vendo aquele monte de post dos amigos e de repente deparo com a foto de um cachorro sobre o teto de um carro prata.

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Na hora o tico e o teco começaram a discutir…

“Ei, eu conheço esse carro…

É sim, é um CRX…”

Comecei a ler os comentários e o pessoal falando “até que enfim ele saiu da garagem”. Na hora mandei uma mensagem para o meu amigo: “Quando tiver interesse em vender me avise”. Ele respondeu que queria vender e me passou um valor irrecusável.

Com apenas aquela foto comprei o carro dele e começou a novela para trazer o carro de Cachoeiras de Macacu (RJ) para SP. O carro não era ligado havia muitos anos e por isso teria que vir de reboque. Achei uma transportadora que buscaria o carro com guincho e o traria para SP em uma cegonha. O valor ficou meio salgado por não estar no centro do RJ (R$ 800,00), mas seria retirado no local e entregue na minha porta.

Quando o carro chega na casa dos meus pais, minha mãe imediatamente me ligou. Jamais esquecerei as palavras dela:

Meu Deus, você falou que o carro era velho, mas não que era um monte de lixo. Você vai fazer o que com isso? Desmontar e vender as peças? Acho que não dá para vender peça nenhuma, isso é só ferrugem. Você é louco comprar isso, nem um ferro-velho vai querer isso

Lógico que enquanto ela falava isso eu ficava rindo a toa e muito feliz. Pedi para minha irmã tirar umas fotos e me mandar. Lembra que eu comprei o carro só com a foto do cachorro no teto? Pois é, essa parecia ser a parte boa no carro. Foi isso que chegou na casa dos meus pais.

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Entenderam agora o porquê do nome Tranqueira?

Depois da empolgação e do susto com a foto, começou a hora de listar tudo e definir os caminhos possíveis para o projeto.

A estrutura do carro estava boa, mas ele tem vários pontos de ferrugem que precisam de muito trabalho. Preciso trocar o para-brisa e praticamente toda a frente do carro.

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Com essas informações comecei a desenhar o projeto e comecei pela estética, pois será é o item mais fácil do projeto. A frente precisa ser praticamente toda substituída e como não vou achar as peças aqui no Brasil, decidi que usarei fibra de carbono nos para-lamas e capo. Queria o para-choque também em CF (Carbon Fiber), mas eu não acho essa peça em lugar nenhum do mundo, por isso provavelmente será um original mesmo.

O interior será uma mistura de Racing com original. Pretendo manter o painel, forrações e demais peças de acabamento, mas com velocímetro do S2000, bancos concha, cinto de quatro ou cinco pontos e uma gaiola para proteção, afinal estamos falando de muita potência para um carro com 25 anos de idade.

A mecânica será a melhor parte, porém a mais demorada, pois terei que trazer tudo de fora. Motor, câmbio, cardã, diferencial, subframes etc. Muita coisa terá que ser construída, como os suportes para apoio do motor que não será mais transversal e passará a ser longitudinal, vou precisar alterar a parede corta fogo, reposicionar os pedais e construir um novo túnel, pois ele terá que ser bem mais alto para permitir a passagem do cardã.

Já o diferencial eu ainda estou estudando se utilizado o do Honda S2000 mesmo, ou se parto para outra opção como o do Silvia ou da BMW. Esta dúvida é por que dizem que o diferencial do S2000 não aguenta muita potência/torque e como vou subir consideravelmente a potência do motor tenho dúvidas se ele aguentará muito tempo.

Quanto a alimentação do motor ainda preciso avaliar melhor qual será o custo benefício para bomba de combustível, turbina e central para reprogramação. Conforme o projeto for andando eu detalho mais cada item com o por que decidi pela peça X, quanto custou e como montei no carro.

Como tem muita coisa nessa lista, primeiro irei focar em deixar o carro funcional e “apresentável” e só depois focar no F20C Turbo.

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Agora que vocês já conhecem o “Tranqueira” e já tem noção do tamanho da roubada que eu me meti, no próximo post falarei sobre os pontos de ferrugens e da primeira partida após quatro anos desligado. Até lá!

Por Leandro Garcia, Project Cars #109

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