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Project Cars Project Cars #23

Project Cars #23: a restauração e transformação de um Chevrolet Sedan 1934 em hot rod

Olá, pessoal! Meu nome é Cezar Bressan, tenho 37 anos e moro em Curitiba PR, como grande parte dos demais aqui, sempre gostei muito de carros, principalmente aqueles com motores fortes e capazes de nos proporcionar um pouco de diversão. Gosto, e muito de carros modernos e confortáveis, mas foi em um carro antigo que identifiquei a oportunidade de juntar diversão, segurança e um estilo diferenciado que considerei ideal para o meu projeto. E ali começou minha imersão no universo dos Hot Rods.

Primeiro gostaria de agradecer a oportunidade de compartilhar meu projeto com vocês, e com isto ajudar a divulgar a cultura dos hot rods. Pretendo compartilhar com vocês as etapas da construção do meu carro, as dificuldades e erros enfrentados e também as alegrias que tive até agora, e quem sabe com isso poder ajudar alguém a evitar ao menos alguns problemas que poderiam enfrentar ao encarar um projeto como este.

Sempre simpatizei com veículos antigos, principalmente das décadas de 1930 a 1950. Eu tinha vontade de ter um carro como o meu, não conhecia os hot rods, não tinha a exata noção do que queria, mas sabia que não era um veículo placa preta o que eu procurava.

Vou sintetizar a história de meu projeto desde a compra do carro até a situação atual, e nos posts seguintes contarei em detalhes cada parte/etapa do projeto.

 

Escolhendo e comprando o carro

Na época da compra do carro, em 2007, eu morava em Cascavel (PR). Um dia meu cunhado Rafael, que mora em Curitiba, me contou que havia comprado um Ford 1935 e que iria transformá-lo em um hot rod. Adorei a ideia e também me assustei quando vi o carro. Apesar de estar em bom estado, imaginei o trabalho que seria para transformar aquele carro antigo em um carro pronto para rodar. Em uma visita a Curitiba fui a um encontro do Clube Curitiba Roadsters, que acontecia todas as quintas-feiras, era uma noite muito fria, havia poucos carros, mas foi a fagulha que precisava para despertar em mim a vontade de ser dono de um carro como aqueles.

Voltando para casa comecei a pesquisar sobre o que era um hot rod e também sobre os modelos de carros, estilos e opções disponíveis à venda.

Comecei a busca por um modelo que me agradasse — gostei muito dos Ford Tudor, principalmente dos anos de 1931 e 1932, e também do Ford 1934. Cogitei ainda um Ford Mercury 1951 (neste caso mudaria completamente meu projeto, pois seria um custom), e por fim o escolhido Chevy 1934.

Usualmente os hot rods são construídos sobre veículos duas portas (o meu tem quatro), mas no fundo o que mais importa é você gostar do seu carro. O restante são meras convenções.

Na época ainda conhecia muito pouco deste hobby e não sabia exatamente das implicações de uma escolha ou de outra. Localizei um Chevrolet Sedan 1935 duas portas em Curitiba, que aparentava estar muito bem conservado. Quase fechei negócio, mas minhas condições financeiras e o juízo que ainda tinha na época me fizeram desistir do negócio. Acabei me arrependendo.

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Continuei namorando as fotos daquele Chevy, mas infelizmente demorei demais para decidir e ele acabou sendo vendido. Continuei minha busca e localizei o meu Chevy, ano 1934 e quatro portas. Ele estava em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Vi fotos apenas pela internet, conversei com o vendedor, e àquela altura o juizo que eu tinha no parágrafo anterior já havia me abandonado. Sem ver o carro pessoalmente, depositei o dinheiro para o vendedor e fiquei aguardando a chegada do carro em Cascavel (PR). Um ato de coragem ou de insanidade, como preferirem!!

Na época não conhecia fibras de boa qualidade como as que existem atualmente. Hoje talvez partisse para um projeto em fibra, o que além de facilitar o trabalho (desde que com uma fibra de boa qualidade), poderia baratear o custo final do projeto. Há ainda que se levar em consideração o modelo, que influencia tanto em custo, quanto em peso — e por consequência performance —, mas este é um assunto sobre o qual falaremos mais tarde.

Depois de uma semana chegou o guincho trazendo meu carro. Não conhecia um Chevy quatro portas pessoalmente e por isso senti um misto de alegria, entusiasmo e susto, pois o Chevrolet de duas portas me parecia um pouco mais curto. De fato há uma diferença de duas polegadas no entre-eixos entre os modelos Standard e Master Sedan.

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Neste momento caiu a ficha: eu tinha o carro e também um compromisso comigo mesmo de levar aquele projeto adiante. Sabia que seria trabalhoso, mas não tinha idéia do que me esperava..

O carro tinha um cheiro muito forte de paiol, galinheiro, óleo e muitos outros odores misturados que não há como descrever. Começaram os comentários, as pessoas olhavam o carro, alguns elogiavam e achavam legal, outros me chamavam de louco. Acho que talvez estivessem certos.

Guardei o carro na garagem, mas o cheiro era tão forte que não teve jeito, comprei alguns produtos de limpeza para o carro e com uma lavadora de pressão comecei a operação.  O interior estava muito sujo, mas nada comparado a parte de baixo, chassi e motor continham grossas camadas de graxa e sujeira incrustradas, com certeza resultado de muitos anos… Após muita água, melhorou, mas somente o tempo foi quem conseguiu acabar com aquele odor.

Bom e o carro, como estava? Como vocês podem ver nas fotos, parecia muito bom. Porém descobri que os Chevrolet até 1935 tinham a estrutura interior em madeira (colunas, assoalho, estrutura das portas) ou seja, o chassi era metálico e a carroceria também, mas a forma da carroceria era estruturada com madeira. Isso me daria muito trabalho e preocupação mais para frente. Os carros da Ford dessa época já utilizavam metal na estrutura interna, o que torna mais fácil o trabalho de restauração.

Observem que toda a estrutura interna, inclusive colunas e portas, é madeira, somente a folha externa é metal

Agora eu já tinha o carro, imaginava que já tinha superado a principal etapa, mas estava enganado, é muito difícil encontrar boa mão de obra com um preço justo, e quando falo justo, é um preço que realmente seja adequado para ambas as partes e sempre respeitando aquele conceito:

Se é bom e barato, não é rápido. Se é barato e rápido, não é bom. Se é rápido e bom, não é barato. 

 

Os hot rods

Gostaria de fazer um parêntese sobre a escolha do carro e falar um pouco sobre o que é um hot rod. Porém gostaria de deixar claro desde já que vou escrever sobre a minha visão do que é um hot rod, pois este assunto sozinho seria mais que suficiente para uma tese de mestrado, definição muito polêmica e de difícil consenso, mas vamos lá:

Em poucas palavras, para mim, hot rods são veículos principalmente das décadas de 1930 a 1950 que são modificados buscando um visual diferenciado e usualmente performance maior do que a oferecida pelos veículos originais da época. Existem diversas categorias entre os hots, partindo dos hot rods tradicionais, mais puristas, que utilizam principalmente peças disponíveis nos primeiros anos após a Segunda Guerra Mundial (diria que estes são os verdadeiros hot rods, que representam o início desta cultura), os street rods (meu carro se enquadrará nesta categoria), que utilizam peças e acessórios mais modernos, se diferenciando um pouco no visual, principalmente em relação a rodas, e os rat rods com seu charme e visual mais bruto, ou despojado, um convite para a diversão. Mencionaria ainda os Woodies, com sua carroceria em madeira e os carros estilo Custom, estes principalmente da década de 1950 e alguns do início dos anos 1960, que dão um show ao desfilar pelas ruas. Não vou entrar na discussão quanto aos muscle cars e outros veículos. Fica para o fórum adequado.

Em relação a escolha do carro, é muito importante que o carro esteja em bom estado, pois isto lhe garantirá um grande ganho de tempo e dinheiro. Mais uma vez fica clara a vantagem da fibra — já vi carros de fibra montados sobre o chassi e rodando sem qualquer tipo de pintura e com um visual bem interessante. Outras vantagens são o baixo peso, que ajuda na performance e o fato de não enferrujar.

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Poderia falar um pouco mais sobre os hots e também sobre os modelos de carros, mas imagino que vocês ficariam bravos comigo neste momento, então, fica para outra hora, vamos retornar ao projeto.

 

A Restauração

Após ter o carro, iniciei a busca pelo motor que utilizaria e também por alguém que poderia executar ou acompanhar o meu projeto. Encontrei uma oficina em Cascavel (PR), cujo proprietário já havia realizado alguns projetos de restauração, e já havia feito alguns carros de fibra também. Ele tem grande experiência em preparação e trabalha com carros de corrida, arrancada, de rua e superesportivos da região, além disso, é uma pessoa muito honesta. Me pareceu a escolha certa, e foi para onde mandei meu carro.

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Lá o carro foi desmontado e teve grandes evoluções. Contudo existe uma grande dificuldade em relação a mão-de-obra especializada na região, o que levou a alguns resultados não terem ficado da forma que eu esperava — apesar de que acho que isto teria grandes chances de acontecer em qualquer lugar.

Em 2011 me mudei para Curitiba (PR), onde existe uma considerável quantidade de hot rods e tambem oficinas especializadas. Em 2012 meu carro veio para Curitiba, e por aqui a história continua.

Nos próximos posts vou relatar parte por parte do que foi feito desde a compra do carro, lataria, conjunto mecânico, freios, rodas etc, a situação atual e o que ainda pretendo fazer.

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Para encerrar, deixo vocês com uma foto mais recente do projeto (não é a atual — passei o feriado de 7 de setembro com a mão na lata) e também outra foto que se aproxima do resultado que pretendo obter.

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Como podem ver, há um longo caminho, mas tenho convicção de que chegarei lá. Até breve.

Por Cezar Bressan, Project Cars #23

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