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Project Cars Project Cars #400

Project Cars #400: um Fiat Bravo Mk1 na garagem dos Alfa Romeo

Tem pessoas que realmente servem mesmo que apenas para servir de mau exemplo.  Eu, por exemplo. Como expliquei no primeiro texto, eu consegui comprar um carro que não conhecia só porque achava ele muito bonito, independentemente dele ser bom ou não.

Já com mais de 30 dias de carro comprado e sem ter terminado a obra, numa das idas a casa do meu amigo Cleiton ele me comentou sobre um Alfa 145 vermelho a venda por R$ 5.000. A minha reação foi de total descredito, como é possível um carro tão cool ser vendido tão barato? Não é possível, isso non ecziste! Claro, cheguei em casa e fui bisbilhotar no OLX. Pimba, existe sim, me lasquei. Peraí, além de tudo é um QV? E além de tudo é perto daqui onde estou! Tá, tá bom, vou ver.

Fui ver. E era legal, mas o motor zoado, batendo biela forte, do mesmo jeito que o Marea que eu tinha comprado pra minha esposa. Mas como agora eu já era íntimo dos Marea, já tinha dado uns tapas nos Alfas, e tinha um monte de coisas de Marea e Alfa sobrando, de novo nem me fiz de rogado, mandei o guincho ir buscar, já passando pelo Detran para fazer a vistoria de transferência de propriedade e depois disso levando direto para a oficina do meu amigo Nilson. Viu como é fácil se meter em encrenca? Assim de graça, do nada alguém fala uma besteira, você fica com tremedeira na mão do cheque, sai e compra mais uma imundície por nada. Ou quase nada.

É, não estava zerado, mas não era uma pilha de lixo também. O interior impecável, a pintura ainda usável mas com alguns detalhes e um ou outro amassadinho e faltando uma saia lateral. Além é claro de estar sem as belas rodas speedline.

Primeira providencia foi mandar remover o motor e ver o que estava acontecendo. Feito isso, descobri que uma biela tinha ido pro saco. Mas peraí, opa, tem três bielas ainda sobrando do 156, as que estavam no motor original e não quebraram. Bingo, pior problema resolvido. E de graça! Yes!

Comprei logo mais um jogo de pistões, do 2.4 e fiquei com dois pistões 0,4mm sobrando. Já tinha pistões extras para mais meio motor. Progressos. Mandei dar uma boa geral no cabeçote, retificamos o eixo e o bloco, trocamos os rolamentos mas um dos balanceadores estava com a bucha ruim, e acabamos optando por encher o eixo balanceador original e recolocar.

Enquanto fazia a fanfarra da mecânica, com direito a troca de quinta original 37/35 por outra 37/31, mais longa que a do 156, comprei um jogo de rodas no mercado livre, comprei pneus novos e deixei o carro em quase ponto de bala, faltando só a mecânica. Nas fotos abaixo o motor antes de desmontar e um detalhe super legal no porta malas o ex dono me mandou uma pasta com todos os manuais, chave reserva, chave mestra, e um virabrequim extra de brinde.

Repintar ele foi fácil e rápido, e como era um 96 que originalmente tem a faixa preta nos parachoques que eu não curto muito, mandei repintar como é nos 98, com os parachoques todos na mesma cor da carroceria. Junto vão as fotos do motor já devidamente montado e com detalhes da bela tampa de válvulas polida e com os filetes originais dela pintados. As rodas zetta, feitas no PR já instaladas com os pneuzinhos novos. Essas rodas aliás merecem um comentário, são muito bem feitas, balanceiam super fácil, são super bonitas e bem acabadas e a calotinha central é super bacana. Fiquei muito satisfeito com a compra. Mercado Livre rules!

Mas claro, o 156 ainda não tinha andado, e muito menos este. Quando fomos montar ele ainda acabamos revisando um monte de coisas, consertando e trocando muitos detalhes estragados ou faltantes e a guerra foi andando.

Como o 156 ainda não tinha andado e era anterior, tudo nesta fase do 145 foi feito sem muito envolvimento meu, as coisas andaram meio que com as próprias pernas sem muito o que fazer.

Até que o 156 ficou pronto, consegui finalmente andar com ele, e em uns poucos dias o 145 também saiu do forno. Na primeira ligada o enchimento do balanceador dianteiro expandiu, a folga deixada foi insufuciente e ele travou, fazendo o motor morrer. O pessoal na oficina tirou a correia auxiliar, e tentou ligar e ele funcionou. Como eu já expliquei no outro post, esses balanceadores não são imprescidinveis no funcionamento do motor, logo ficou assim, por enquanto. Algum dia num futuro não muito distante tiro tudo fora e investigo o que realmente ocorreu e tento outra solução. Na pior das hipóteses deixo ele sem os balanceadores funcionar definitivamente ou até mesmo troco o bloco por outro que tenho aqui do Alfa que subiu no telhado… que tem nota de leilão e inclusive o motor tem numero limpo, que eu posso transferir para qualquer carro que eu deseje e tenha potência compatível.

Alfa subindo no telhado!

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Depois dessa calça arriada, finalmente pude usar o carrinho. Tinham alguns mal contatos e falhas de elétrica que com o tempo acabei zerando, sendo que num dos primeiros test drive tive uma vela que simplesmente quebrou e saiu a cerâmica, e isso junto com a compressão vazando pelo corpo de vela e com a corrente da ignição pulando causaram um pequeno principio de incêndio que torrou a parte das bobinas e cabos. Hora de ligar pro guincho, e levar ele para casa de volta. Quebrado e sem funcionar.

Liguei para um pessoal de São Paulo que me fornecia peças, comprei um pacote de bobinas e cabos. Dias depois fui em um ferro velho que tinha tido em algum tempo passado dois Alfas. Lá chegando, acabei achando e comprei muita coisa perdida, inclusive mais dois conjuntos de bobinas boas e completas, tampas de válvulas, escapamentos completos e outras coisinhas mais. Isso me ajudou muito a continuar brincando com o carrinho.

Sanadas essas ocorrências desagradáveis, consegui finalmente usar e me divertir com o carrinho. Bom nessa altura eu já estava andando com o 156, e estava amando o carro. Claro, minha expectativa é que o 145 fosse bem diferente. E é, pelo menos deveria ser, já que são muito diferentes um do outro. O lance é que o 145 é bem similar a um Tipo, Brava, Bravo Mk1. Só que mais firme, mais duro. Perdoando nada as imperfeições do asfalto, com a mesma direção super direta, mas menor e mais leve.

Mesmo que o contagiros indique 500 rpm úteis a menos que o do 156, empurra muito legal, parece ser muito mais bem disposto e leve que o 156. Ou seja, mesmo com um cuore esportivo também, são carros completamente diferentes e o 145 aparenta ter muito mais potencia que o 156, ainda que tecnicamente tenha uns quatro cavalos a menos, ou coisa que o valha.  Abaixo fotos dele já completamente pronto e em uso.

A troca de relação da quinta é muito mais necessária que no 156, os pneus menores, (205/60R15 no 156 e 195/55R15 no 145 QV) deixam ele muito mais arisco e bem disposto, e a 37/31 trocada para ele veio fazer com que ele chegue próximo de 155km/h/1000 rpms o que ainda que seja algo curto, deixa ele muito a vontade em estrada e avenidas mais livres. Da mesma forma que eu fiz no 156, acabei comprando uns extras de acabamentos e carroceria, vidros laterais, lanternas e faróis etras, só por precaução.

Como muito do que eu tinha feito e descoberto pro 156 serviu para o motor do 145, muita da dificuldade e tempo perdido aprendendo no outro carro serviu muito para acelerar as coisas neste 145. Engraçadissimo ver como motores próximos, quase iguais, ficam com comportamentos tão diferentes em carros diversos. Outra coisa legal de comparar é o estilo do acabamento interno, o 156 elegance tem volante e apliques de madeira, no QV é tudo em couro, o visual é muito diferente e fica até difícil dizer quem é mais legal ou agradável.

Cabe uma explicação que o coletor de admissão dos 145 é antigo, rígido, feito em alumínio, como nos Mareas 2.0 20V e o dos 156 é de plástico, de comprimento variável acionado a vácuo, e cujo controle é feito por meio de uma válvula atuada pela central da injeção. A pegada do 145 é muito mais direta e perceptível, isso me agradou muito. Como eu não quero fuçar demais ou alterar a injeção original deles, não parti para trocar o coletor de admissão metálico do 145 e instalar no 156. O 145 na verdade tem pouco a ver no geral com o 156, sendo muito mais direto, reto, visceral ao passo que o 156 é muito mais elaborado, requintado, sofisticado. No 145 voce tem sempre a sensação de usar um carro muito mais feito para ser ralado, usado e abusado, enquanto que o 156 te passa o oposto, capaz, rápido, mas com uma boa dose de elegância.

Pela parte financeira, a compra foi muito bacana 5 mil, mais despesas de transferência e transporte (quase 600), retifica (próximo de 3 mil), pintura (mais 3 mil) mais pneus e rodas(quase 2500) vi tudo acabar somando algo próximo de 14 mil reais. Que pelo computo geral e pelo fato de sair com um carro sem detalhes e com um estado geral muito bom nem tem muito como reclamar.

Uma vez iniciada a bagunça e começando a usar o carro de forma mais intensiva, apareceram alguns detalhes extras, acerto do ajuste vertical da coluna de direção, apareceu do nada uma trinca na porta do motorista próximo da dobradiça e ajuste do alinhamento da mesma e um variador de fase barulhento que escapou da retifica e acabei abrindo o cabeçote e trocando em casa depois. Levei um comando de válvulas de admissão perfeito, revisamos o variador na retifica e em casa mesmo troquei o comando velho com variador barulhento pelo novo. Ficou muito bom, sem barulho, sem problemas. É infinitamente mais fácil de fazer que em um marea 5 cilindros, serviço que consegui realizar em coisa entre três e quatro horas de serviço.

Eu posso dizer que foi mais ou menos isso tudo aí em cima. O carro surpreendeu,  e ainda que aparentemente negligenciado acabou ficando pronto por um custo ainda dentro do previsto, na faixa de preço normal  que se acha 145 QV e venda nos classificados. A proposta de pegar o carro, recuperar ele e deixar funcionando direito foi cumprida.

Neste ponto aconteceu algo bem legal: eu tinha comprado na maior empolgação dois carros esportivos, super bacanas, belos, empolgantes e entusiasmantes, mas dois carros que não me deixavam com nenhuma vontade de sair e deixar na rua parados, estacionados enquanto trabalho ou tenho que fazer alguma compra por exemplo. E eu continuava sem nenhum carro “normal”, mundano para andar e eventualmente acaba ainda pegando um carro da esposa. Essa fuleragem tinha que acabar. Como eu tinha curtido um monte os Alfas e mais ainda brincar com hot htch, estava de bobeira um dia, um domingo a noite, surfando no classificados da OLX e achei algo estranho: eu tinha digitado uma busca para um Brava HGT. Como eu tinha o Marea e os Alfas, um HGT me parecia algo pertinente e interessante, mas o que veio não foi um Brava — o primeiro item da busca foi um Bravo HGT mk 1. Italianíssimo.

Este carro eu já tinha visto antes a coisa de uns seis meses, me lembro até de ter mandado um link pro amigo Cruvinel, o cara que me meteu nessa roubada de gostar de Fiat mas ele respondeu que por mais que fosse um Fiatman de carteirinha, não ia pagar 20 pilas num Bravo só porque tinha duas portas a menos que os comuns que temos aqui. Concordei que era caro e demos linha no assunto, caiu no esquecimento.

Quando eu vi o anúncio, lembrei na hora. Só que desta vez o telefone do vendedor era visível. O meu telefone estava ao meu lado na hora. Então pensei porque não ligar, porque ligar, porque… liga-lo-ei!  Liguei e me ferrei. Claro, tudo culpa do destino, foi um complô das forças da natureza e eu que sou só um ogro velho e fraco não consegui resistir e me opor ao terrível complô do destino. Hum rum….me engana que eu gosto. Só que não era mais 20, era só 12 mil. Como resistir? Aquele trocado que eu tinha recebido ainda estava no bolso, eu não resisti e combinei com o vendedor que eu ia mandar uma grana na conta dele e ele iria vir com o carro rodando de Uberlandia até Brasilia para eu ver e eventualmente fechar negocio se gostasse. Se não eu perdia a grana. R$ 200 não seriam a justificativa para eu não ver algo tão raro e legal.

Bom quando ele veio, uma semana depois e eu do alto do prédio onde trabalhava vi o carro pela janela, fui acometido de um violento treme treme na mão do cheque e já fui pagando sem nem dar muita ideia. Assim, do nada, tinham dois hot hatches juntos parados na garagem.

Quase nada a fazer de imediato, troquei rodas esportivas por um jogo original de Marea, uma revisão básica de itens simples já que tinha sido feita troca de correia dentada e outros itens muito recentemente e tava no jogo. Comecei a usar quase que imediatamente, sem muito mais a fazer. Estava com inacreditáveis 275 mil km rodados. Mas muito integro, firme, bom pacas de usar. Nas fotos abaixo detalhes do carrinho, que tem muita coisa diferente dos demais nacionais como painel de instrumentos, detalhes do interior e por fim, junto com o carro da esposa, assim tanto ela quanto eu temos carrinhos legais bem parecidos e por acaso ela dirige este Bravo de forma tão normal quanto dirige o dela, se sente absolutamente em casa, já que estranha muito dirigir qualquer carro que não seja o dela.

Mas claro, nem tudo foram flores. Depois de um tempo, digamos uns 5 mil km ele esquentou forte e ferveu. Estava com a junta do cabeçote, que não era a original, vazando compressão. Abrimos, mandei plainar o cabeçote e revisar ele que estava até muito bom e trocamos a junta por outra originalíssima Fiat e é isso. Tudo novo, bomba dagua, roletes, tensor e corria. Claro, estavam novos, mas eu já tinha comprado tudo novo. Paciencia.

Mas e aí, o outro hatch é hot também? Como fica o comparativo?

Bom primeiro o carro é 2.0 20V de 147 cv — cinco a mais que os nacionais. Só que os cinco só aparecem lá no fim da escala. Motor superquadrado, sem torque algum abaixo de 2.000 rpm. De 2.000 a 3.000 rpm ele começa a acordar preguiçosamente e de 4.500 em diante diz ao que veio. Fala bonito, ronca legal, vai a 7.000 rpm com uma facilidade irritante e é legal pacas. Mais liso impossível. Não vibra, não ressoa, maravilhoso. Comportamento diverso do 145, onde o motor tem uma pegada bem legal bem mais cedo e como está sem os balanceadores, é possível notar a aspereza dele.

As fotos que aparecem no primeiro post com a troca da quinta é dele. Ele veio com 37/35 e eu imediatamente troquei por 37/31, passei de 35/1000 para 40/1000 e o carro ficou mais legal de usar, mas quinta marcha mesmo só para cruzeiro ou acima de 140 se quiser ver andando e empurrando. O motor deixa uma sensação de quero mais, especialmente quando se tem um 2.4 na garagem e se conhece bem o torque tanto dos 2.4 quanto dos 2.0 Twin Spark 16V.

De forma geral, fiquei bem satisfeito, o carro dinamicamente é bacana, engraçado que parece que ele acaba o banco do motorista, por mais que tenha tentado, não consegui nem um sobresterço, independente do que se faça, a traseira não pendura e mais legal ainda, não é um porco subesterçante. Amei isso, é neutro pacas e não prega sustos na gente.

Tem a fazer alguma coisa de funilaria, na medida que os paralamas dianteiros e o parachoques já foram mexidos e estão muito longe de serem maravilhosos. Sendo assim, sai a cata e comprei num ferro velho dois paralamas e um capo saídos de um Brava (por acaso um HGT), sendo que o capô é o do turbo, com as peças de ventilação que eu acho muito bacaninhas.

Como o carro ainda que seja originalmente cinza – grigio sassi – esteja com azul no documento, vai acabar ganhando muito em breve um banho de tinta junto com a troca das peças da frente. Penso em pintar ele com o azul alegro do palio 96, que é um azul claro metálico bem suave e que vai ficar bem legalzinho nele, pelo menos no meu gosto.

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Na próxima, o Alfinha do vovô Gepeto! Até lá!

Por Alexandre Garcia, Project Cars #400

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