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Project Cars Project Cars #520

Project Cars #520: a história do Mancorsa, meu Chevrolet Corsa C 1.4

Por Raphael Lima, Project Cars #520

Olá Gearhead’s e Flatouter’s, é com imenso prazer que venho por meio deste grande nome na cultura automotiva brasileira contar um pouco do mim e este Project Car, meu nome é Raphael Lima, tenho 26 anos e moro em Telêmaco Borba-PR. Sou estudante de engenharia mecânica (o que por si só demonstra parte da paixão pelas maquinas), porém dentro do meu coração sou um apaixonado pervertido por qualquer coisa relacionado quatro rodas e motores (uma paixão incompreendida pela sociedade dita “normal”).

E antes de iniciar a jornada, gostaria de agradecer a equipe do FlatOut por disponibilizar este espaço, sendo leitor assíduo desde os tempos do Jalopnik, é de extrema honra poder estar aqui (o qual nunca imaginei), tentarei retribuir isso da melhor forma possível com textos com o máximo de detalhamento, compartilhamento de informações e fotos, muuitas IBAGENS!! Nesta época de compartilhamento em redes sociais com projetos em tempo real, este Project Car alguns da comunidade automobilística já conhecem o mesmo do Instagram como @Mancorsa_ . O espaço aqui será muito maior e consequentemente detalhes mais abrangente.

 

Paixão pelos carros

Todo gearhead tem uma história de como passou a gostar da área automobilística, seja pai, avós, tios, primos, vizinhos, mas há uma parcela que esta paixão simplesmente nasce com eles de forma inexplicável, eu sou um desses. Uma paixão que desde que me entendo como gente sem ter influência de quaisquer familiares ou amigos, que adorava viajar olhando pela janela outros carros sabendo de cor e salteado nome de cada modelo, mesmo sem conseguir pronunciar direito.

Uma memória muito forte que tenho é dos aniversários na infância, adorava ganhar miniaturas, mas quando ganhava alguma peça de vestuário ou qualquer coisa que não fosse um carrinho, ficava chateado (muitos se identificarão), as primeiras leituras de criança foram nas saudosas revistas Quatro Rodas o qual ainda mantenho a coleção, já na adolescência era visto como o super-trunfo ambulante ou até mesmo como a barsa automobilística da família sabendo dados técnicos de uma infinidade de carros, detalhes que as vezes nem os donos sabiam (momentos que renderam boas risadas).

Sempre que possível estava “alisando” o carro de meu pai que vale uma menção, sempre comprava carros com um temperinho a mais (como Chevette 1.6 82, Gol “swapado” 1.8 86, Monza SLE 2.0 89, Fusca 1600 84, Passat Village, Gol MI 98 entre outros) e não como mera locomoção, porem prioriza a originalidade do carro que motivou algumas discussões (muitos se identificarão). Nunca tive fanatismo por marca ou modelo, até mesmo vertentes de personalização, sendo eclético e apreciador de carros, isso se reflete até hoje.

Conforme o tempo foi passando, a época de conseguir a habilitação e fantasiar o momento de possuir a liberdade com seu caro foi crescendo mais e mais, meu pai sempre foi enfático que só poderia dirigir com a CNH, nada de dirigir antes dos 18 e/ou sem CNH o que não impediu de aprender em carros alheios (irresponsabilidade de adolescente), por volta dos 15~16 anos comecei a trabalhar de freelance em eventos como casamentos, jantares e afins. A meta era juntar dinheiro para minha tão sonhada CNH e talvez ter grana suficiente para comprar o carro da casa na época, um VW Gol 1.6 Power 2003 cinza chumbo (doce ilusão jovem, risada maléfica de lucífer).

Única foto que sobrou do Gol, ficamos com ele em casa por 8 anos.

Ao completar 18 anos, infelizmente não pude dar entrada na CNH, estava me recuperando de uma recente cirurgia na retira de um cisto na cabeça, e neste tempo meu pai se desfez do tão amado Gol (deixou saudades, carro que nunca deu dor de cabeça), mas a vontade de poder dirigir ainda era grande e com o tempo passando só crescia.

Aos 20 já recuperado e com CNH nas mãos, vamos à procura do primeiro e sonhado carro. Se todos aqui praticam diariamente o esporte de procurar lasanhas em classificados, imagina um jovem sedento por um volante e com uma quantia razoável na poupança, filtros nas pesquisas para que te quero, preço, antigos, raridades, enfim todo dia era um carro diferente que estava sonhando. Com o valor que sobrou após tirar a CNH, comecei a negociar o carro dos sonhos, carros incríveis como… um VW Fusca 73.

 

Mas meu pai “aconselhou” a procurar algo mais novo, o que levou a… um Ford Escort XR3 84 (11 anos mais novo, afinal).  

Imagina um recém universitário entrando nesse mundo de carros antigos sem grana e conhecimento para dar tratamento digno a esse carro, rir pra não chorar.

E as buscas continuavam, cada vez mais procurando por alguma coisa interessante e que saísse do comum nas escolhas, perceba que não tinha um padrão por marca ou algum tipo de carroceria, apenas tinha que ser fora do normal.

Cada ida às lojas particulares, era uma volta no carro. Se algo me desagradava, desistia. Um exemplo claro disto é estes dois carros por exatamente o mesmo valor, um VW Gol GL 1.8 93 e um GM Corsa GL 1.4 95, o primeiro estava com multas atrasadas e documentação a fazer (uma pena pois era o sonho dos iniciantes a apzeiros com bancos Recaro e motor 1.8) e o segundo vendedor garantia que estava impecável, mas o bairro que ele residia não tinha mosquito algum de tanto que aquele Corsa fumava (e realmente o carro era impecável em lataria e interna).

E nesta epopeia, meu maior arrependimento, GM Chevette Hatch 80 com swap para 1.6 e cambio 5 marchas (aos leitores assíduos do FlatOut e da época do Jalop talvez lembraram de dois Chevette hatch com preparação de época que apareceu no finado Jalop, um preto e um vermelho). Não era um carro original de tudo, mas estava incrível e chamava muita atenção além de já ter um conjunto mecânico muito interessante para traquinagens (o qual meu fiel companheiro Mateus soube bem), mas lembram do que meu pai “aconselhou”:

 – Rapha não fique olhando esses carros mais velhos, eles sempre vão ter algo pra fazer e você não vai poder bancar quando ele quebrar, vai ser imprevisível!

E isso me martelou na cabeça, porque ao sentar a bunda naquele carro e girar a chave e ligar de primeira para fazer o test drive tudo estava perfeito, mas foi sair na rua que na primeira esquina tomei um susto, preferencial, pé no freio, mas pera lá, cadê o freio? E com isso em questão, ao falar com o vendedor o mesmo não queria entregar “consertado”. Negócio desfeito com muita dor no coração.

E aqui chegamos ao ponto crucial nessa busca pelo primeiro carro, a tão sonhada aquisição. As negociações sempre foram simultâneas, tendo em vista que se não desse certo um, já tinha algo em vista. E com o Chevette indo embora das minhas mãos o outro carro que estava na mira era um VW Gol 1.6i 96, detalhe era ser de único dono e com módicos 52.800 km rodados com as manutenções em concessionaria carimbadas no manual, totalmente original e integro, até hoje nunca vi um Gol “bolinha” naquelas condições.

O senhor um viúvo e advogado aposentado, não usava o carro a pelo menos dois anos já que pouco sai de casa. A casa onde morava ficava de frente ao Clube aonde passei a trabalhar fixo o qual ele frequentava religiosamente todos os dias. Para comprar o carro foi uma negociação intensa e acalorada de 15 minutos.  Sério! Ele sabia que eu estava atrás de um carro e o próprio ofertou para mim, pois não estava dirigindo mais e queria passar a alguém que cuidasse do carro. 

Em uma sexta-feira e aquele mantra de ir ao cartório, ir ao banco fazer TED, ao final da tarde a chave estava nas mãos, o carro era meu, vamos levar o possante para casa, mas aqui é Brasil, e como bom brasileiro que sou, tem que se lascar.

Aquele momento emocionante do seu primeiro carro, sua primeira conquista, a sua liberdade materializada em forma de carro, a sua cabeça a mil do que já poderia fazer naquele carro, vamos para casa… VAMOS PARA NOSSA LIBERDADE, SEM DESTINO E…    não andei nem 500m e o carro parou. Brochante amigos!

O marcador de combustível estava me pregando uma peça e sendo bem otimista (marcava quase ½ tanque), mas estava mais seco que garganta em verão de 45°C! Ligação para os parceiros socorrer, carro ligado, vamos para casa. No outro dia, um sabadão de sol, carro “novo”, vamos lavar o possante para mostrar aos amigos né, quando estava chegando perto do carro com os apetrechos para a seção de beleza, BUUUUUUUM, o vidro traseiro estilhaçou sozinho (sem explicação nenhuma, até pensei que jogaram uma pedra, mas não foi o caso). 

Em pleno sábado, vamos correr atrás de um vidro traseiro. Sorte que peça para Gol se acha fácil (imagine se tivesse sido um GM Tigra)! Vidro localizado, vamos levar o carro para trocar, e quem disse que o bendito ligava?

Porém dessa vez não dava sinal do característico zunido da bomba injetando antes da partida. Pensei “agora eu me ferrei de vez, bem que meu pai aconselhava em pegar um carro mais novo”. Pedi para oficina de vidros vir até minha casa para instalar o vidro, expliquei a situação que o carro não ligava e eles se prontificaram, ao domingo tomei a decisão “vou devolvê-lo amanhã, só pode ter macumba nesse carro”!

Então meu primeiro carro foi por longoooos três dias. De certa forma decidi ouvir meu pai e esperar para pegar um carro mais novo que não me daria nenhuma dor de cabeça.

 

A segunda saga

“Tá Raphael, mas onde entra o Corsa nessa história toda?”. Calma jovem…

Com o “leve” aprendizado, resolvi juntar mais uma grana e partir para um seminovo, os eventos anteriores ocorreram entre junho/14 a março/15. Foi uma decisão difícil porem com motivação racional para um estudante que tinha orçamento apertado na época e não poderia ter grandes custos de manutenção. Isso me fez mudar os planos nas buscas, e defini um carro especifico, para que eu não ficasse de galho em galho procurando, assim facilitaria a comparação entre um mesmo modelo para saber seus prós e contras com mais afinco além de eleger o melhor para a escolha.

Vocês devem lembrar de uma serie aqui do Flatout o qual elegia os melhores carros de uma determinada faixa de preço, bem como o carro 0km mais “entusiasta” em determinadas faixas de preço. Dentro dessas escolhas zero-km estava o… VW Gol G6 duas-portas. “PO*#@ RAPHAEL, CADE O CORSA CARA?” Calma estamos quase lá.

Se a escolha tinha que ser racional, mas poderíamos colocar uma pitadinha de emocional né, motor 1.0 de 76 cv coerentemente econômico, plataforma com dinâmica mais do que correta, peso leve, visual muito agradável ainda mais na carroceria duas-portas, valores na faixa de R$ 20.000 na época. Ao final de 2015 as buscas iniciaram. Porém é um carro difícil de achar em bom estado, a maioria era muito rodado proveniente de frota. Foram inúmeros carros visitados até chegar no carinha aí embaixo que estava em uma revenda.

O carro era completo (Direção hidráulica, ar-condicionado, airbag e ABS, vidros/travas/retrovisores elétricos e com 62.000 km rodados), entrava no meu orçamento praticamente no limite. Porém estava em Araucária-PR (240 km de onde resido), mostrei ao velho e perguntei se topava ir ver, ele topou. Peguei mais dados com o vendedor o qual informou que o carro era de único dono, marcamos na outra semana ir ver o carro (era virada de ano). 

A ansiedade estava de volta, final de semana praticamente sem dormir. Na data combinada (04/01/16), lá estávamos nós cedo para ver o carro, esteticamente estava tudo ok, ao entrar no carro primeiro sinal de alerta. Luz do ABS acesa. Ao indagar o vendedor, o mesmo começou a “fugir” com respostas vagas, a desconfiança estava plantada. Pedimos para levar o carro até a concessionaria da região (já que não conhecíamos algum mecânico de confiança). Já na concessionaria, feito a leitura pelo scanner, o ABS apresentava erro e o técnico confirmou que seria necessário a troca do modulo. Quando ele foi pegar o manual do carro, para olhar se havia sido feita as revisões em autorizada, caiu o documento do carro (porem exercício 2014) e veio a surpresa.

O carro tinha passagem por leilão, sendo o primeiro dono uma transportadora que faliu, como o vendedor escondeu essa parte, limitando-se a dizer que era de único dono e omitindo o fato que tinha comprado de leilão, só descobrimos isso pegando o Renavam e fazendo uma perícia veicular, descobrindo o histórico do carro o qual teve uma colisão (o que deduzo a luz do ABS acesa ser sequela desta). Estava à estaca zero novamente, e desta vez sem nenhum carro em vista para negociar. Resolvi ficar na cidade para no outro dia procurar alguns carros. Passamos a noite olhando novamente todos os anúncios da região referente a Gol G6 2p, selecionamos alguns e fomos ver no outro dia, nenhum agradava (muito rodado, detonados). Dia já se encerrando até que um primo que estava conosco disse para irmos no dia seguinte ao Auto Shopping linha verde em Curitiba-PR. 

Aqui vale ressaltar, até então eu nunca tinha olhado para o Corsa para realmente o comprar, não por falta de interesse, mas pelo valor do carro ser mais alto que meu orçamento na época, os melhores exemplares estavam na faixa de R$ 22.500 a R$ 24.000.

Na manhã do dia 06/01/16, adentrando o local, dou de cara com o Corsa a venda…

Os olhos encheram ao ver o carro, mas o preço da etiqueta já me avisava que estava além do que poderia pagar. Pois bem, voltando lá no início onde disse “…procurando por alguma coisa interessante e que saísse do comum nas escolhas, perceba que não tinha um padrão por marca…” , o Corsa atendia esses requisitos, vejamos:

– Carro muito pouco visto como base para projetos (se referindo a este modelo, conhecido como Corsa C);

– Motor relativamente potente, 1.4 8v de 99/105 cv;

– Carroceria relativamente leve e rígida se comparado com outros hatch compacto;

– Visual dos Opel agradabilíssimo;

– Dinâmica correta que com poucas modificações torna muito interessante (explicarei futuramente);

Cutaway drawing do Opel Corsa C 2001 (equipado com o Ecotec 1.8 16v que tivemos aqui na Meriva 1.8 16v e posteriormente em uma versão refinada no Cruze)

A essa altura você já sabe que ele foi o elegido, foi uma negociação bem longa que meu pai tomou a frente, levando o dia todo e se concluindo as 16:00 (bem diferente daqueles 15 minutinhos, quem disse que rapidinha é bom), chegamos a um valor que eu poderia pagar e mãos apertadas, negócio fechado. Este carro em questão era acima da média:

– Ano 2011 (lembra do mantra do velho?);

– 41.379 km rodados;

– Histórico de revisões carimbadas no manual em concessionaria, sendo a última a poucos km antes de ser vendido;

– Era bem equipado (Só não possui ar-condicionado, because weight reduction is more important);

– Já contava com rodas de liga (que para mim era interessante);

– Única dona (a que me fez render uma boa dor de cabeça que só fui solucionar a poucos dias);

  Já possuía pericia veicular que pudemos atestar seu histórico;

Mais feliz que frango no lixo

Como era um carro que ainda não tinha pesquisado referencias de projetos (ao contrário do Gol), ao compra-lo ainda não tinha nada em mente do que poderia um dia fazer com o mesmo, era realmente uma tela em branco para mim. Como sempre fui eclético aos estilos, as referências iam desde carros rebaixado (por favor, também não “exagerar” zerando o assoalho no chão que não possa nem andar, rodas extremamente grandes com pneus extremamente finos, recortes na estrutura para “caber”, isto não é projeto, é não ter noção do funcional perante a forma) a projetos gringos focados 100% em pista (alguns com o lendário C20XE).

Muitas dessas referencias influenciaram o “Mancorsa” a ser moldado

Mas enfim eu estava com meu “primeiro carro”, o sonho realizado. E os primeiros quilômetros foram “apaixonantes”, o carro que nunca dei atenção especial passei a admira-lo seja por sua performance surpreendente para um 1.4, seja pela manutenção barata, pelo conforto. Um carro que chegou ao Brasil estreando na recém categoria compactos premium e que ao longo dos anos, foi perdendo refinamento para custar menos (esta parte rende uma boa leitura, chegando como o Super Dotado).

E como percebeu, a compra do carro não foi tratada de forma “corriqueira”, para alguns a compra do carro é só algo sem importância apenas para suprir a necessidade de ir do ponto A ao B, mas para os gearheads é o sacramento da sua inicialização no mundo automotivo, passando da fase de imaginação para a concretização. Isto é uma emoção, isto é paixão, isto é amor por essas maquinas de metal/borracha/plásticos/fluidos que tanto desperta nossos desejos.

Agradeço ao leitor ter ficado até o final do texto, no próximo post trarei as primeiras modificações, manutenções e talvez algumas curiosidades sobre o carro, estarei aberto a sugestões e críticas nos comentários, até breve pessoal.