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Project Cars Project Cars #62

Project Cars #62: a história do meu Subaru Forester S Turbo

Olá novamente, amigos FlatOuters! Meu nome é Rodrigo Savazzi, tenho 32 anos, um caso semi-patológico de obsessão por essas máquinas de quatro rodas, em especial pelos modelos da Subaru e esse é o primeiro capítulo da saga da Caravela, meu Subaru Forester S Turbo. Pra quem não me conhece, eu já apareci por aqui no meu outro Project Cars, o Project Trip.

Bom, meu projeto ainda está no princípio, andando mais devagar do que eu gostaria, por isso demorei tanto para começar a escrever. Espero aqui poder contar um pouco como é ter como Daily Driver um carro japonês de mais de 15 anos e com quase 170.000 km rodados, como é a manutenção, o convívio e, principalmente, as opções de preparação para um carro com essas características.

Eu sei que vocês (ou nós) odiamos textos curtinhos do Project Cars no formato: “Meu nome é Fulano, meu projeto é colocar um motor de Ônibus Espacial no meu Fiat 147. No próximo post eu conto como foi o processo de escolha do tecido da forração do porta-malas e posto uma foto do interior…”; então vou encher linguiç… começar contando um pouco dos outros carros que já tive.

Até hoje foram poucos os carros ditos “normais” que já passaram pelas minhas mãos. Sempre tive uma queda por veículos, digamos, com “personalidade”, mas nem sempre a conta bancária acompanha nossos devaneios… O trio de apresentadores britânicos do TopGear com certeza diria algo do tipo: “Ambitious… but rubbish!”

Meu primeiro carro digno de nota foi um Escort SW, comprado zero-quilômetro em 2003, alguns meses depois do modelo ter saído de linha, literalmente o último a venda em São Paulo, com o substancial desconto que costuma acompanhar esses casos. Oficialmente era um GL, mas, como às vezes acontece com os carros que são montados por último, acabam saindo de fábrica com o que sobrou nas prateleiras do estoque. A curiosa configuração do meu incluía pintura metálica verde (algo raro nesses dias tão preto, branco e prata) ar-condicionado, travas elétricas, direção hidráulica e vidros manuais (!), além da grade estilo colméia e do painel com fundo branco da versão RS. Debaixo do capô estava o excelente motor Zetec 1.8 16v.

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Save the wagons!

O Escortão, como foi apelidado, na época era meu único carro e tinha a responsabilidade de me transportar todos os dias de casa para o trabalho, do trabalho para a faculdade e da faculdade de volta para casa, percurso este que totalizava 160 km. Assim sendo, diz a lógica que a confiabilidade do veículo era fundamental.

Mas como nunca dei muita bola para esta tal de lógica, assim que pude (financeiramente falando) tratei de instalar um turbocompressor na perua. Era uma receita básica, composta por uma turbina Garret .42 e um bico suplementar comandado por um modulo HIS, mas que rendeu no dinamômetro 180 cv e 25 kgf de torque, o suficiente para chegar em casa mais cedo depois da aula e ainda garantir alguns sustos para os desavisados que cruzavam com aquela perua no melhor estilo sleeper no percurso noturno entre Mogi das Cruzes e Santo André.

Mas a confiabilidade do veículo ainda era importante, então  resolvi colocá-la à prova … Num momento de insanidade e sem qualquer experiência prévia no assunto, nos inscrevi (eu e o Escort) em um Rally internacional.

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O Escortão acompanhado de outros carros um pouco mais apropriados para o esporte…

Foi a segunda edição do Rally Mercosul de regularidade, que cobriu 3.200 km entre São Paulo e Buenos Aires durante 8 dias, de 15 a 22 de abril de 2004. Detalhe:  o Rally acabaria na Argentina em uma sexta-feira e nós precisaríamos estar de volta à rotina na segunda pela manhã. Não havia nenhum plano B e, contra o prognóstico de vários competidores mais experientes, terminamos a prova apenas com uma rachadura no coletor de escape (que foi soldada na cidade de Rio Grande, no meio do caminho), uma mangueira da direção hidráulica rasgada (que foi reparada na beira da estrada com silver-tape) e um para-choque danificado pelas pedras e buracos das estradas de terra (que voltou para casa assim mesmo…).

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E acabou ficando assim um bom tempo

Depois dessa aventura o virus do rally pegou forte e eu e mais alguns amigos resolvemos fazer uma vaquinha e tentar competir a sério no esporte. Compramos um Fusca Baja com motor AP que já havia participado do Rally dos Sertões e tinha sido aposentado por uma equipe de Rally e começamos a fazer algumas provas de no esquema de revezamento de pilotos e navegadores. Chegamos a competir em duas provas de velocidade do Campeonato Paulista de Rally Cross-country, mas infelizmente a grana era curta e o esporte ne mostrou caro demais para os nossos (rasos) bolsos.

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O Baja do lado do primo famoso

Anos depois voltei a competir em provas mais leves de regularidade, no estilo das provas do Rally Universitário com um Impreza SW, carro que comprei para uso diário quando já tinha virado Subarista.

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O Impreza SW – Save the wagons!

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Navegar é preciso…

Antes disso, mais ou menos na época do Baja, acabei fazendo um “rolo” chave-a-chave do Escort SW em um Impreza GL 93 turbo. Foi este carro que iniciou minha predileção pela Subaru e que nos seis anos seguintes foi meu carro de track-days e passeios de fim de semana e que no final acabou virando o Project Trip (https://www.flatout.com.br/project-cars-trip-03-uma-viagem-de-6-000-km-pelos-templos-automobilisticos-da-europa/). Essa história eu contei em detalhes lá, então se você ainda não leu, clica aí no link e depois volta aqui. Eu espero…

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O Impreza que se transformou numa visita à Nürburgring

Voltou? Então, para não alongar demais o post e chegar logo no Forester, vou fazer um resumão dos outros carros dignos de nota que já passaram pela minha garagem:

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Umas das poucas fotos que sobraram do Fusca

Teve um simpático Fusquinha 1964 – quase 100% original e o carro mais antigo que já tive. Acho que todo mundo, pelo menos uma vez na vida, tem que ter um Fusca. Este ficou comigo por um ano, mais ou menos, e entrou num rolo em um…

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Ainda vou ter outro desses

Lada Niva 1990, um dos primeiros a desembarcar no Brasil, swapado (essa palavra existe?) para AP 2.0.

Mercedes-Benz 250 W114 (o modelo percussor do Classe E). Este carro eu “resgatei” do abandono largado no tempo em uma borracharia em Suzano por módicos R$ 2.000,00 e, depois de ser assumida pelo meu pai, a restauração que já dura 10 anos está chegando no fim e a velha senhora alemã já caminha com as próprias pernas.

E finalmente chegamos ao Forester. Corria o ano de 2012 e, apesar de todo este histórico, fazia mais de um ano que meu único carro era um “mais-comum-impossível” Fiesta Street 2005. Mas desde o Impreza turbo que eu era fanático pelos Subaru e meu objetivo era guardar um dinheiro e partir logo para um Impreza WRX, de preferencia um SW “hawk eye”. Só que o porquinho tava demorando muito para engordar e eu não aguantava mais andar de carro 1.0.

Decidi, então, partir para um Impreza aspirado mesmo e, numa tarde de sábado, fui numa loja dar uma olhada em um Impreza SW 2000 quando acabo me deparando com o Forester, novamente à venda. Digo novamente porque era a segunda vez que eu encontrava ele. A primeira havia sido em 2009, quando eu e meu pai estávamos procurando para ele um Subaru (meu pais foi mais um que eu converti para  a marca) e o vimos, na mesma loja. O carro estava impecável, mas outra pessoa já havia fechado a compra e meu pai acabou levando um Outback 2001 pra casa.

Se daquela vez o carro estava impecável, desta vez ele estava mais judiado, com o motor falhando um pouco (que depois descobrir ser culpa das velas e dos cabos), a pintura um pouco judiada e mais um ou dois problemas ocultos que vou tratar em detalhes nas próximas postagens. Mas todo o potencial estava bem ali, só precisando de um pouco de cuidado, atenção e manutenção adequada. Dessa vez o Forester iria para casa.

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Entrando mais nos detalhes, o que faz deste carro específico um modelo especial é uma combinação incomum. A maioria dos Forester de primeira geração que desembarcaram no Brasil contavam com motor aspirado e câmbio manual, enquanto uma menor parte chegou equipado com motor turbo, porém atrelado a uma caixa automática. Este conta com o motor turbo E o cambio manual. Combinação perfeita para 12 em cada 10 gearheads!

Dia 27 de outubro de 2012 peguei o carro na loja e ligando o rádio, surpreendendo eu e todo mundo que cresceu nos anos 80 e viveu a adolescência nos anos 90 ouvindo rock em São Paulo, descubro que a 89 estava de volta. Dirigir novamente um Subaru turbo ouvindo rock pelas ruas de SP e do ABC foi algo duplamente nostálgico para mim.

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Neste dia, do trânsito mesmo, postei essa foto no Facebook com a seguinte legenda: “Como eu senti falta de dirigir vendo um scoop na minha frente”

Diz uma lenda antiga que o exemplar que chegou em minhas mãos foi trazido pela CAOA para ser exibido no Salão do Automóvel de 1998. Nnca consegui comprovar esta história, mas o fato é que até hoje os únicos exemplares da versão S Turbo com câmbio manual em terras tupiniquins que eu tive  notícia eram modelos um pouco mais recentes,  posteriores à reestilização que o Forester teve em 2000. Se alguém tiver mais alguma informação à respeito, ficaria muito feliz de ouvir. Quem sabe não tem alguém aqui que foi no salão daquele ano e tirou umas fotos do stand da Subaru?

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Voltando à ficha técnica, os diferenciais do Forester S Turbo em relação às outras versões mais comportadas incluem freios à disco nas quatro rodas, rodas aro 16, diferencial com deslizamento limitado e grade exclusiva para o modelo além do já citado cambio manual de cinco marchas com relações mais longas (como eu pessoalmente prefiro) e o lendário motor EJ205, um 2.0 quatro cilindros boxer, o mesmo encontrado nos Subaru Impreza WRX até 2004, mas com uma turbina menor e comando de válvulas diferente para favorecer mais o torque em baixas rotações, mas ainda assim capaz de gerar 170 hp e levar o carro até os 198 km/h, após passar pelos 100 em 7,9 segundos.

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O adesivo veio na bagagem do ProjecTrip

Além do motor, o Forester compartilha muita coisa com o Impreza, como a plataforma, quase toda a mecânica e até mesmo alguns itens de acabamento. Mas o mais importante é o temperamento. Apesar da cara de SUV, o Forester de primeira geração está muito mais próximo de um carro do que de um off-roader, chegando até mesmo a ser considerado por muitos, até a segunda geração (FlatOut incluso – link) como uma perua. Colocando em perspectiva, o Forester tem apenas 1,58 metro de altura (que o coloca mais próximo de um VW up!, que tem 1,50 m do que do EcoSport, com 1,69m).

Neste vídeo da primeira encarnação do TopGear, a apresentadora mostra o Forester como uma opção com mais espaço e menos chamativa do que o Impreza, mas com o mesmo comportamento

Bom, o contador do Word já está acusando que digitei quase 2.000 palavras, então acho que já está bom para o primeiro post da série. Já contei um pouco mais da minha história, falei sobre o modelo e contei como encontrei e reencontrei a Caravela. Como foi que ele ganhou este apelido e as primeiras aventuras, manutenções e surpresas desagradáveis fica para os próximos posts. Até!

Por Rodrigo Savazzi, Project Cars #62

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