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Seat restaura o primeiro carro do Rei Felipe da Espanha: um Ibiza 1986

O Rei Felipe VI da Espanha, nascido em 1968, é filho do Rei Juan Carlos I. Antes de assumir o trono, era detentor do título de Príncipe das Astúrias (não, esse título não é de Fernando Alonso. Isso é coisa do Galvão). Além de rei, é o comandante chefe das forças armadas do país. Quando ele fez dezoito anos, que carro ele ganhou de presente? Um Lamborghini Countach, talvez? Um Porsche 911? Nada disso. Foi algo bem mais humilde: um hatch compacto chamado Seat Ibiza, um dos mais baratos do mercado espanhol.

O Ibiza de primeira geração, lançado em 1984, pode confundir a cabeça de quem só conhece a história mais recente fabricante espanhola. Isto porque, antes de ser comprada pela Volkswagen e tornar-se sua divisão de baixo custo e apelo esportivo na Europa, a Seat era parte da Fiat e tinha modelos baseados nos carros fabricados em Turim. O Ibiza era derivado do Seat Ritmo, embora seja visualmente bem diferente (a Seat também vendeu o Ronda, que em essência era um Fiat Ritmo com outros emblemas).

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O carro do Rei Felipe  era um Ibiza dourado fabricado em 1986. Porém, tratando-se do carro para um futuro rei, o Ibiza foi encomendado com alguns luxos a mais: motor com injeção eletrônica (co-desenvolvida pela Porsche) e ar-condicionado, só disponíveis nos carros vendidos ao público dois anos depois. O Seat Ibiza 1.5 de 1988 tinha 100 cv, e não 70 cv como os fabricados em 1986 — pensando em retrospecto, era quase um hot hatch! Além disso, os bancos eram especiais para acomodar melhor o 1,97m do Rei.

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Imaginamos que o Príncipe Felipe tenha curtido bastante o carro enquanto esteve com ele, pois o hodômetro marca saudáveis 152.000 km, que o herdeiro deve ter rodado antes de ter que assumir compromissos típicos da família real espanhola.

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Visualmente o carro tinha acabamento exclusivo na forração dos bancos e nas rodas mas, em essência, era como qualquer outro Ibiza na época — exceto que, depois de ser usado e abusado pelo jovem monarca russo, o carro foi guardado e ficou parado por 16 anos, sem ter o motor ligado nenhuma vez — até que foi resgatado pela Seat e levado para a fábrica, onde voltaria à forma de quando saída de lá pela primeira vez em direção à garagem real.

O carro recebeu reparos na lataria e na pintura (os anos podem ser cruéis com a carroceria de qualquer carro, em qualquer lugar) e teve o motor refeito — sendo que o mais difícil foi fazer com que o sistema de injeção eletrônica funcionasse corretamente. Além disso, os bancos foram revestidos novamente “para ficarem dignos de um rei”, segundo a fabricante.

Impecável, o carro foi mostrado ao Rei durante sua visita à fábrica da Seat no início do mês, parte do programa de comemoração dos 30 anos do Seat Ibiza. Depois de conhecer de perto o processo de produção do mais recente Ibiza (quarta geração, lançada em 2008), o Rei foi surpreendido com a visão de seu primeiro carro, como se estivesse novo. Funcionários que presenciaram a cena disse que ele não aguentou e soltou uma bela gargalhada.

“Imagino que ele tenha lembrado de seu primeiro carro, de ir ao colégio, de ter 18 anos…”, comentou Isidre López, chefe do departamento de carros clássicos da marca. “É um Ibiza único, especial e totalmente personalizado ao gosto do Rei.”

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Apesar da nostalgia, contudo, Sua Majestade não voltou dirigindo para casa (nós voltaríamos). Em vez disso, o Ibiza do Rei vai para a coleção de clássicos da Seat, que já tem mais de 250 modelos.

 

O Galaxie 500 de Juscelino Kubitscheck

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No Brasil, recentemente, algo semelhante aconteceu — contudo, o governante não era um rei, e sim um presidente — Juscelino Kubitscheck. E o carro não era um hatch compacto, e sim um grande e imponente sedã equipado com motor V8. JK, que foi presidente do Brasil entre 1956 e 1961, era notório amante de belos carros (tanto que morreu a bordo de seu Opala 1970, em uma colisão de frente com um caminhão que levava 30 toneladas de gesso).

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O Galaxie foi o último carro de JK. Foi comprado dois anos antes de sua morte em uma concessionária do Rio, e depois foi rodando até Brasília. Segundo consta, Juscelino gostava tanto do carro que até dormia nele em viagens mais longas.

Depois da morte do presidente, o carro foi abandonado até 1981, quando foi levado para o Memorial JK — onde ficou em exposição, atrás de uma redoma de vidro, por 28 anos — sem sair de lá nem para tomar uma fresca.

O motor V8 de 4,8 litros e 190 cv brutos funcionando pela primeira vez depois da reforma

Foi em 2010, então, que o carro foi levado para o 16º Batalhão Logístico do Exército Brasileiro, que se incumbiu da missão de restaurar o carro, em pareceria com o clube Amigos do Galaxie. A restauração teve muitos componentes fornecidos pelo clube — muitos mesmo, como frisos, tapetes e fundo do porta-malas, todas as borrachas, frisos e pedaleiras originais, etc. Contudo, eram apenas quatro meses para o carro ficar pronto, algo que a equipe comandada pelo especialista em Galaxie e Landau Dino Dragone e pelo Coronel Antonio Eleazar cumpriu com êxito.

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O carro foi apresentado em Brasilia no mês de agosto de 2010 e, desde então, voltou para sua redoma de vidro. Só torcemos para que ele não fique mais abandonado como antes…

[ Fotos: Seat, Amigos do Galaxie, Raridadesautomotivas.blogspot.com ]