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Project Cars Project Cars #94

Um Voyage 1.9 turbo para curtir em track days – conheça a história do Project Cars #94

Olá, amigos e leitores do PC! Para mim é uma honra participar deste espaço, poder contar um pouco da história do meu “poisé” e compartilhar algumas experiências que adquiri durante o percurso.

Mas antes, vamos deixar duas coisas claras:

1 – apesar de técnico (sou Engenheiro), não vou escrever com linguagem formal e rebuscada, usar termos da NASA ou bombardear meus posts com informações extremamente detalhadas, afinal o foco aqui é contar um pouco do aprendizado e dos planos. Quem quiser algo mais específico pode me chamar nos comentários, mandar e-mail, WhatsApp, pombo correio ou sinal de fumaça, que terei o maior prazer em responder!

2 – É bom explicar – para que você não pense que eu me refiro a coisas ruins, maldosas – que o meu nível de envolvimento com o carro e com o automobilismo é bem alto, podendo ser definido da seguinte forma:

ta·ra·do 

adjetivo

5. [Popular]  Diz-se do indivíduo maníaco ou apaixonado por alguma coisa.

substantivo masculino

6. Aquele que tem tara.

Sim, de acordo com a definição nº 5 eu sou um tarado por carros! E conheço inúmeros neste grau, que já considero incurável.

Meu nome é Leonardo Ceregatti, tenho 35 anos e sou engenheiro mecânico automotivo formado pela FEI. E não tem nada de acaso na escolha da profissão, pois a admiração e paixão por estas máquinas fantásticas chamadas automóveis começaram cedo.

Meus primeiros desenhos “não abstratos” (eu devia ter uns três ou quatro anos de idade) eram todos com foco em veículos, fumaça, rodas, motores. Por isso que digo que sou um tarado. Não sei explicar o que me motivou, mas acho que minha mãe tem grande influência – durante toda a gravidez, até as últimas semanas, ela dirigia uma Caravan 1977 sem direção hidráulica. É… de repente foi em uma dessas manobras que o volante da Caravola bateu na minha cabeça e começou todo o processo. Vai saber…

Project Cars 94 - História Voyage - Pangaré FlatOut

Com uns 12 ou 13 anos, além dos “interesses gerais” dessa idade, comecei a ler publicações técnicas. Acordava bem cedinho para assistir o Telecurso 2000 que passava na Globo ainda no fim da madrugada (eu achava fantástico os temas técnicos, como as coisas eram fabricadas, projetadas…). Quando tinha um tempo livre depois da escola, pegava a bike e descia na oficina de um amigo, que na época era o cara que arrumava o carro do meu pai – hoje esse cara é um grande amigo, excelente mecânico (não é oficina de preparação), que me xinga pra caramba quando apareço com minhas loucuras, mas depois a gente dá risada com os “causos” do Voyage.

Project Cars 94 - História Voyage - Pangaré FlatOut

Foi nessa época (14 para 15 anos) que “roubei” a chave do carro do meu pai a primeira vez, era uma Parati GL 1993 que ficava alguns dias da semana na garagem de casa – como bom moleque arteiro que eu era, observei por algum tempo onde meu pai guardava a chave reserva da Parati, no fundo de uma gaveta de meias. Lembro que a primeira vez que entrei no carro e dei a partida sem ninguém ali do lado, uma sensação de liberdade, de poder.

Mal consegui tirar o carro da garagem. O motor morreu várias vezes, devo ter gasto ali o equivalente a 10.000 km de embreagem, mas era legal demais! Até um dia que meu pai me pegou fazendo isso… Haja castigo e palmada, na época não tinha esse lance de “não me toque”, a chinela cantava por lá!

Falei bastante de mim, de alguns motivos que me fizeram desde cedo gostar de carros, mas vamos ao que interessa: o Pangaré!

Comprei este carro em 2008, de um amigo com quem eu trabalhava no Campo de Provas da Ford e que tinha montado um Voyage 1.9 turbo com cerca de 300 cv com 1,6 bar de pressão — e que era tão chato quanto eu para escolher carro com estrutura boa, peças boas e também montar com capricho, com qualidade.

Foi um “ganha-ganha”, pois eu já estava querendo comprar um carro para montar, já que tinha batido um Gol CL 1.8 turbo em 2006 (isso é uma outra e longa história). Eu tinha planos/projetos para este carro que me acompanhou durante quase toda a faculdade e foi um grande laboratório para minhas experiências malucas. Mas a vida é assim e a gente tem que seguir em frente.

Eu também tinha um Opala nessa época — era um quatro-portas 1976, com motor 250S que eu instalei e câmbio de quatro marchas no chão. Não era original, não era carro de coleção, mas me diverti muito com ele. Fosse encontro de antigos, postão da Faria ou Anhanguera/Bandeirantes, eu estava lá. Bons tempos!

Project Cars 94 - História Voyage - Pangaré FlatOut

Project Cars 94 - História Voyage - Pangaré FlatOut Project Cars 94 - História Voyage - Pangaré FlatOut

 

Mas e o Voyage?

Bem, o Voyage em 2008 era um carro gostoso para acelerar, confiável, progressivo. Mas eu queria mais! Ele tinha uma calibração de motor bem conservadora e a suspensão era levemente rebaixada, legal para o dia-a-dia. Em 2009 eu morava em Sete Lagoas (MG), perto de Santa Luzia, onde fica o Mega Space. Durante a semana (quinta-feira à noite) rolava arrancada no estilo “treino livre” e quase todo mês tinha um final de semana com um campeonatinho mais estruturado. Eu ia direto, mas vi que o carro não estava agüentando o tranco, tive muitas quebras (cabeçote, transmissão, embreagem, coxim).

Project Cars 94 - História Voyage - Pangaré FlatOut

Na arrancada, categoria desafio – MegaSpace (MG)

Decidi então encostar o carro e iniciar o projeto do “Pangaré”, nome que surgiu em uma conversa de beira de pista com uns amigos lá de Minas comparando minha relação com o carro à do Pica Pau com o Pé de Pano. Segundo eles, o Voyage era um carro manco, desajeitado, limitado, mas que era meu parceiro e que apesar dos “perrengues” que eu passava, me divertia muito!

Foi aí que a coisa começou a ficar séria, onde eu comecei a calcular as coisas antes de fazer, a definir metas, me programar financeiramente para cada passo, metendo a mão na massa e aprendendo cada vez mais a me virar.

“Mas por que um Voyage? Tão limitado e ultrapassado!” – se eu ganhasse R$1,00 para cada vez que escuto isso, estaria rico! Mas a resposta é bem simples: eu não estou rico e preciso de algo relativamente barato e confiável para poder “brincar”. Além do mais, gosto do desafio, de tentar fazer um carro/plataforma/motor tão estereotipado render mais do que muitos esperam – eu respeito todos os gostos e bolsos, tem gente que curte (e tem poder aquisitivo para) andar de supercarros e comprar kits gringos de performance, mas também tem a turma do DYI (Do It Yourself) que mete a mão na massa e inventa/se vira com o que tem.

A primeira meta definida foi muito simples: diversão! Afinal, de que adianta dedicar tempo e dinheiro em algo que não te traga boas gargalhadas, te permita fazer amizades, ajude a crescer como indivíduo ou não te faça bem? Para mim não faz sentido algum.

A segunda meta: o projeto não tem fim Algumas pessoas tem pressa, sofrem com algo que está lá na frente, miram num objetivo final e esquecem de aproveitar toda a jornada, a caminhada que vai ocorrer até lá; eu acho que o mais legal é tentar aprender, se arriscar, deixar de lado o medo de errar e ir colhendo os frutos. Tem uma frase que eu gosto e uso sempre (não é filosofia barata de boteco):

O homem que nunca fez um erro, nunca fará nenhuma outra coisa” – George Bernard Shaw

E é assim que eu vivo este projeto do Pangaré; experimentando, errando, acertando, evoluindo, fazendo amigos, aprendendo e curtindo.

Importante dizer que até hoje o carro tem setup de rua. Com exceção dos pneus slick 225×40 e rodas 13×8’’ que instalo quando vou pra pista, eu uso o carro eventualmente para trabalhar, dar um passeio ou viajar (minha mulher reclama um pouco). Já até usei o carro algumas vezes para transportar parte da minha mudança, viajei cerca de 600 km com todo espaço ocupado por tralhas. Veículo de carga mesmo!

De 2010 para cá, andei muito com o carro e corri em Interlagos, fazenda Capuava, Velo Città, kartódromo de Limeira (Hot Lap) e tenho planos de correr no AIC, Brasília (Trackday Distrito Racing), Piracicaba (ECPA – Trackday Crazy for Auto).

No início desse ano instalei um banco concha e removi a tapeçaria, talvez assim iniciando a fase mais “Racing” do carro – que de nascença, não tem nada de “Racing”. Quero melhorar estrutura e performance para tornar o caixote mais confiável e seguro, com foco em pista, cada vez menos na rua. Felizmente hoje posso fazer isso, já que tenho outro carro (um Focus Duratec sedan 2008) e uma carretinha para puxar o Voyage.

Project Cars 94 - História Voyage - Pangaré FlatOut

Banco concha – maior segurança e apoio. O cinto de 5 pontos será instalado somente com a roll cage

 

Project Cars 94 - História Voyage - Pangaré FlatOut

Carretinha: praticidade e viagens mais longas

O carro atualmente é o recordista segundo na categoria FWD do Hot Lap (1:02,380), 0,23s atrás do Corsa Minion (do meu amigo Otávio Carmacio)! Isso me motiva a melhorar, portanto hoje estou refazendo o motor e bolando upgrades de suspensão.

Os próximos passos incluem reforços estruturais (instalação de rollcage), alívio de massa (remoção/substituição de componentes como vidros, painéis de portas, etc), instalação de uma injeção seqüencial, nova relação de marchas e algumas adaptações que estou fazendo (por exemplo, um defletor de óleo para o cárter).

Deixo aqui algumas imagens e vídeos do Pangaré em ação.

E por fim, um vídeo na Fazenda Capuava, de pneus radiais, suspensão de rua, aprendendo o traçado e os limites na companhia de um Audi S3 e um pelotão formado por Civic Si com compressor e dois Subarus, muito legal dividir a pista com os amigos e suas máquinas!

Nos próximos posts, vou falar de detalhes da montagem, de sustos, entrar nas specs de cada sistema/subsistema do projeto. Até a próxima e grande abraço!

Por Leo Ceregatti, Project Cars #94

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