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Top Zero a 300

Uma breve história de (quase) todos os hot hatches da Peugeot

Há um bom tempo – mais precisamente em fevereiro de 2014 – a Fiat confirmava o lançamento do 500 Abarth no Brasil. Ele chegou atrasado e não vendeu muito, em boa parte por conta do aumento de preço que sofreu pouco depois de sua chegada, mas na época foi recebido com bastante entusiasmo pelos entusiastas. E nos inspirou a fazer uma breve retrospectiva de (quase) todos os hot hatches que a Fiat havia lançado no Brasil e no mundo.

Aqui no FlatOut a gente acredita que nunca é tarde para fazer uma sequência, e por isso decidimos dar continuidade àquele post, fazendo um panorama geral na história dos hot hatches de outras fabricantes. Começando (de forma quase aleatória, confesso) com a Peugeot. É questão de afinidade: eu simplesmente acho os hot hatches da Peugeot muito bacanas – gosto do estilo discreto e harmônico dos clássicos e da ousadia moderada dos atuais, e conheço a excelente reputação que todos eles têm. Além disso, ainda não superei o fato de o Peugeot 208 GTI não ter sido oferecido no Brasil. Nos vamos falar dele mais adiante.

 

Peugeot 104 ZS

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O primeiro hot hatch feito pela Peugeot não era exatamente hot, mas era interessantíssimo para quem curtia carros pequenos e espertos – ele tinha apenas 3,6 metros de comprimento e 2,23 metros de entre-eixos. A base era o Peugeot 104, hatchback compacto lançado em 1972 – dois anos antes do VW Golf Mk1 e quatro anos antes do Golf GTI, amplamente considerado “o hot hatch original”. Curiosamente, o Peugeot 104 surgiu primeiro como um sedã de dois volumes – ou seja, tinha a silhueta de um hatch, porém a tampa do porta-malas não dava acesso ao habitáculo – mais ou menos como o Mini original. O 104 hatchback de duas portas — chamado pela Peugeot de 104 Coupé —, foi lançado em 1974, bem como a versão hatch de quatro portas.

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Normalmente o 104 era movido por um quatro-cilindros de 954 cm³ e parcos 45 cv, ou de 1,1 litro e 57 cv. Em 1976, porém, foi lançado o Peugeot 104 ZS, que tinha um motor de 1,1 litro e 66 cv – a mesma potência do meu Fiat Uno Mille 2008, que jamais poderia ser considerado um hot hatch. Estamos falando, porém, de um carro lançado há mais de quatro décadas.

Ao menos em 1979 houve uma versão especial do Peugeot 104, a ZS2, que adotou um motor de 1,4 litro (1.360 cm³) e 93 cv – mais que o dobro da potência no modelo menos potente, de 45 cv. Em 1982 o motor 1.4 tornou-se standard no 104 ZS, porém amansado para entregar 80 cv. O Peugeot 104 foi fabricado até 1988.

 

Peugeot 205: GTI, Rallye e T16

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O pequeno 104 foi o primeiro modelo compacto da Peugeot, que até seu lançamento era conhecida como uma fabricante de carros grandes, conservadores e caros demais. No entanto, foi seu sucessor – o Peugeot 205, lançado em 1983 – que mostrou ao mundo que os franceses sabiam o que estavam fazendo. Com um estilo mais maduro, maior espaço interno e boa dinâmica mesmo nas versões mais simples, o 205 foi um sucesso de público e crítica. Mas os entusiastas gostam mesmo, claro, do 205 GTI.

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Este foi lançado em 1984, e tirava proveito de uma nova família de motores, a XU. A primeira versão do 205 GTI tinha um motor 1.6 de 8 válvulas com comando simples no cabeçote e 105 cv, o chamado XU5J – que era capaz de levar o hot hatch de zero a 100 km/h em 8,6 segundos, com máxima de 187 km/h. Para o ano-modelo de 1987, recebeu um cabeçote com válvulas maiores e passou a entregar 115 cv, rebatizado como XU5JA.

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Paralelamente, também no fim de 1987, foi lançado o Peugeot 205 GTi 1.9, como uma alternativa mais refinada. O motor, batizado XU9JA, tinha 130 cv e, com ele, o GTI 1.9 era capaz de ir de zero a 100 km/h em 7,8 segundos, com máxima de 204 km/h. Visualmente os modelos GTI se distanciavam do 205 comum pelas rodas maiores, de 14 polegadas na versão 1.6 e de 15 polegadas no 1.9 (ambas fabricadas pela Speedline) e pelas molduras pretas nos para-lamas, que junto da suspensão mais baixa davam ao 205 GTI uma postura bem mais agressiva e “assentada”.

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Como uma alternativa mais acessível ao 205 GTI, em 1988 a Peugeot apresentou o 205 Rallye, inspirado – naturalmente – por seus carros de rali. A ideia era dar aos entusiastas um carro igualmente divertido, porém mais fácil de comprar, manter e preparar. Por isto, ele utilizava um motor de 1,3 litro com dois carburadores Weber e comando de válvulas mais agressivo para entregar 103 cv. Embora tivesse os mesmos freios a disco usados pelo GTI, todo o resto do 205 Rallye era muito mais básico – o interior quase não tinha isolamento acústico, as rodas eram de aço estampado com pintura branca (assim como todos os outros detalhes do carro) e a única decoração mais chamativa eram as listras com as cores da Peugeot-Talbot Sport na tampa do porta-malas e na grade dianteira.

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O 205 Rallye foi um sucesso – a Peugeot planejou um total de 5.000 exemplares, mas teve de fabricar mais de 30.000 para antender à demanda.

Paralelamente, as cores da Peugeot-Talbot Sport faziam sucesso nos ralis – especificamente no Grupo B, a categoria mais insana do WRC, com o Peugeot 205 T16. Embora tivesse apenas o nome e a silhueta do Peugeot 205, sendo na verdade um protótipo desenvolvido do zero para competições, equipado com um motor 1.8 16v turbo central-traseiro com potência que podia passar dos 600 cv, dependendo do acerto. O Peugeot 205 T16 foi campeão no WRC em 1985 e 1986, o que certamente ajudou na boa reputação do 205, mesmo que a versão de rali fosse um carro completamente diferente.

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Agora, como você deve lembrar, os carros que competiam no WRC precisavam ter pelo menos 200 unidades fabricadas e vendidas ao público – e não foi diferente com o Peugeot 205 T16. A versão de rua era pintada de cinza metálico e mantinha exatamente a mesma carroceria widebody.

O motor 1.8 turbo era amansado para entregar cerca de 200 cv, suficientes para que o T16 fosse de zero a 100 km/h em 6,6 segundos, com máxima de 208 km/h. Tecnicamente ele não era um hatch, mas certamente era hot.

 

Peugeot 309 GTI

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Um carro pouco conhecido no Brasil é o Peugeot 309, compacto lançado em 1985 que era, em essência, uma versão esticada do 205, posicionado no segmento imediatamente superior. Embora tivesse três volumes bem definidos, o Peugeot 309 era um hatchback – não muito diferente do Ford Escort que tivemos no Brasil, por exemplo — tipo de carroceria que alguns chamam de “notchback”, embora isso não mude o fato de ele ter acesso ao habitáculo pela tampa do porta-malas.

A versão GTI, oferecida exclusivamente com o motor de 1,9 litro usado no GTI 1.9, foi lançada em 1986 e, ao menos na Europa, foi igualmente apreciada pelos entusiasas, embora não tenha feito fama além do Atlântico. A versão de 8 válvulas era capaz de ir de zero a 100 km/h em oito segundos, com velocidade máxima de 206 km/h.

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Em 1990 foi apresentado o Peugeot 309 GTI16 que, como o nome indicava, tinha uma versão de 16 válvulas do motor 1.9, capaz de entregar 160 cv e de levar o hot hatch de zero a 100 km/h em 7,8 segundos. A velocidade máxima era de 217 km/h.

 

Peugeot 106 Rallye e GTI

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O Peugeot 205 não teve um sucessor direto – em vez disso, foi substituído por um carro ainda menor, o simpático 106, que foi lançado em 1991 e deveria herdar as vendas das versões mais baratas do 205, enquanto futuro Peugeot 306, lançado em 1993 (já vamos chegar nele) seria o sucessor dos 205 mais caros e também do 309.

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A primeira versão esportiva do 106 foi o Rallye, que tinha um motor 1.3 de 100 cv com injeção eletrônica Magneti Marelli acoplado a uma caixa manual de cinco marchas com relações bastante próximas. Sua velocidade máxima era de 185 km/h, e a decoração esportiva era igualmente simples e de bom gosto, com rodas de aço estampado, frisos vermelhos nas laterais e as faixas em vermelho, amarelo e azul inspiradas pela equipe de rali da Peugeot. O acabamento era frugal como no 205 Rallye.

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A versão Rallye continuou sendo oferecida após o facelift promovido pela Peugeot no 106 em 1996. A segunda fase foi batizada S2, e recebeu um pequeno acréscimo de 3 cv à potência original. A primeira fase ficou conhecida retroativamente como S1.

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A grande estrela da linha do 106, porém, também foi lançada só após o facelift: o 106 GTI (ou S16 em alguns mercados da Europa), que tinha um motor de 1,6 litro com cabeçote de 16 válvulas e 120 cv. Era um carro mais refinado, com interior bem acabado e farto de equipamentos – um apelo distinto do 106 Rallye.

Os para-lamas tinham molduras na cor da carroceria e o para-choque dianteiro tinha desenho mais pronunciado, com faróis auxiliares redondos. O 106 GTI era capaz de ir de zero a 100 km/h em 8,7 segundos, e tinha velocidade máxima de 205 km/h.

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Vale aqui uma menção honrosa: o mais perto que chegamos do Peugeot 106 GTI no Brasil foi o 106 Quiksilver, que tinha exatamente o mesmo bodykit do GTI, porém era equipado com o mesmo motor 1.0 de 50 cv que não tinha um rendimento muito empolgante: 0-100 km/h em 17,5 segundos e máxima de 145 km/h.

 

Peugeot 206 RC/GTi180

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O Peugeot 206 foi lançado em 1998, e tinha uma missão importantíssima: ser o verdadeiro sucessor do Peugeot 205, pois o 106 não conseguiu conquistar os antigos fãs do hatchback oitentista. Seu visual acertadíssimo, quase futurista, rendeu ao 206 alguns prêmios na época do lançamento – e também garantiu que ele fosse produzido até 2012 na França, até 2014 no Brasil, até 2016 na Argentina e até hoje no Irã.

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Nosso foco para este post, porém, é o 206 RC, ou 206 GTi 180 no Reino Unido. O hot hatch, lançado em 2003, era movido por um motor 2.0 16v de 177 cv – um quatro-cilindros de fazer inveja, com comando duplo variável e coletores de admissão e escape de alto fluxo, capaz de levar o carro de zero a 100 km/h em 7,4 segundos.

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A Peugeot caprichou no restante do pacote, também. Além da suspensão brilhantemente calibrada, o carro tinha rodas de 17 polegadas, e bancos semi-concha na dianteira, tornando o 206 GTI um excelente motivo para invejarmos os europeus no início dos anos 2000.

 

Peugeot 306 S16 e GTI-6

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O Peugeot 306, lançado em 1993, foi o tal substituto do 309 que mencionamos mais acima. Era um carro consideravelmente maior do que aquele que sucedia. Você provavelmente está satisfeito por lembrar que suas versões esportivas são até fáceis de encontrar no Brasil, tanto o 306 S16 quanto o 306 GTI-6.

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O primeiro foi lançado na Europa em 1993, e era movido por um belíssimo quatro-cilindros de dois litros com comando duplo no cabeçote, 16 válvulas, injeção eletrônica Magneti Marelli e 157 cv – um número impressionante até hoje, se tratando de um 2.0 sem indução forçada. A decoração do modelo lembrava bastante o que se via no 205 GTI, com frisos pretos nas laterais, suspensão mais baixa e rodas exclusivas.

O 306 S16 foi substituído pelo GTI-6 em 1997. O motor era praticamente o mesmo, porém recebeu um retrabalho de fluxo e novo acerto eletrônico para entregar 167 cv – e levar o hot hatch de zero a 100 km/h em 8,2 segundos, com velocidade máxima de 220 km/h.

 

Peugeot 207 GTI

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Se as versões esportivas do 306 são relativamente comuns no Brasil, o mesmo não pode ser dito do 207 GTI, vendido na França – que era uma versão do verdadeiro Peugeot 207, produzido entre 2006 e 2014. O Peugeot 207 que tivemos no Brasil (conhecido como 206+ na Europa) era pouco mais que um 206 que passou por uma cirurgia plástica para lembrar o 207 europeu.

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Em todo o caso, o Peugeot 207 GTI europeu (que também era chamado de 206 RC em alguns mercados) foi lançado em 2007 e tornou-se o primeiro hot hatch com a marca Peugeot a utilizar o motor 1.6 Turbo THP, desenvolvido pela Peugeot Citroën em parceria com a BMW. Com 175 cv e câmbio manual de cinco marchas, o 207 GTI era capaz de ir de zero a 100 km/h em 7,1 segundos, com velocidade máxima de 220 km/h.

 

Peugeot 208 GTI

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Eis o carro que nos foi prometido, mas nunca veio: o Peugeot 208 GTI, que chegou a ser confirmado para o Brasil pouco depois do lançamento do hatchback em 2013. A versão mais quente do 208 é movida por uma versão de 208 cv do motor turbo THP acoplado a uma caixa manual de seis marchas. Ele é capaz de ir de zero a 100 km/h em 6,5 segundos, enquanto a velocidade máxima é de 230 km/h. A decoração discreta, apenas com rodas maiores e alguns detalhes em vermelho nos acabamentos da carroceria, é um de seus atrativos – assim como o interior bem projetado e criativo.

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No fim das contas, os brasileiros receberam em 2016 a versão GT – que pode não ter 208 cv, mas tem 173 cv no motor 1.6 turbo, e é capaz de ir de zero a 100 km/h em 7,6 segundos, com máxima declarada em 222 km/h.

 

Peugeot 308 GTI

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Por fim, chegamos ao último item desta lista: o 308 GTI. O Peugeot 308 já é um caso curioso por si só porque foi o primeiro modelo da fabricante francesa a manter o nome com o lançamento de uma nova geração – a primeira foi produzida entre 2008 e 2013 e a segunda, um carro completamente diferente, ainda está no mercado.

Quanto ao 308 GTI: estamos diante de um belo exemplo de evolução. A primeira geração, lançada em 2010, era movida por um motor 1.6 turbo THP de 200 cv que não foi muito bem recebida pelos entusiastas dos GTI franceses, que acusavam-no de apresentar desempenho aquém de rivais como o Golf GTI, com seus 210 cv. O visual (acima) também não era dos mais empolgantes, convenhamos.

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Tudo mudou com a segunda geração do 308 GTI, apresentada em 2015. Além da melhora absurda no visual, o 308 GTI atual adotou uma versão bem mais potente do motor 1.6 THP – ou melhor, duas: uma de 250 cv e uma de 270 cv. A versão mais potente tem discos de freio de 380 mm na dianteira, bancos concha com revestimento em couro e Alcantara e diferencial Torsen de deslizamento limitado na dianteira, além de rodas de 19 polegadas (o GTI de 250 cv tem rodas de 18 polegadas).