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Usar o GPS pode estar “desligando” partes do seu cérebro, diz estudo

Você provavelmente usa o GPS sempre que vai dirigindo a algum lugar para onde nunca foi antes – e isto ficou ainda mais fácil porque, mesmo que o seu carro não tenha um GPS, o seu smartphone tem. Seja para visitar um amigo em um bairro desconhecido ou viajar para outra cidade pela primeira vez, o GPS quase nunca nos deixa na mão. Quer dizer, exceto no que diz respeito ao nosso cérebro, que pode estar sendo prejudicado com tanta facilidade de explorar novos caminhos.

GPS é a sigla para Global Positioning System, o sistema por satélite que os aparelhos de navegação e celulares usam para saber onde você está e te mostrar para onde está indo. Costuma-se chamar o aparelho de GPS, mas isto não é totalmente correto.

De qualquer forma, é fácil entender a lógica: você desbrava o desconhecido com seu carro enquanto a voz meio robótica da garota do aparelho de GPS te diz em quantos metros terá de fazer uma conversão. Caso role acidente no caminho, ela te oferece a rota alternativa mais curta possível. Sua única preocupação é prestar atenção nos outros carros e estar atento às placas. Moleza, não?

Mas aí, na hora de voltar, você fica sem sinal de internet e, por alguma razão, a cópia offline da rota não está dando conta (é mais comum do que parece). O que acontece?

A resposta parece óbvia: você se perde, pois não prestou atenção no caminho de ida – não se preocupou em memorizar pontos de referência, não observou o caminho, só seguiu direções. Mas um estudo britânico publicado na última semana diz que o buraco pode ser mais embaixo: enquanto você usa o GPS, está simplesmente desativando partes do seu cérebro que te ajudariam a lembrar da rota para voltar – o hipocampo, responsável pela memória e pela localização; e o córtex pré-frontal, encarregado de tomar decisões e fazer planos.

O estudo, realizado pela University College London (UCL), envolveu 24 voluntários que precisaram dirigir em uma versão simulada do distrito de Soho, em Londres, enquanto tinham sua atividade cerebral monitorada. Os pesquisadores também mapearam o verdadeiro labirinto de ruas do distrito, que fica no centro da capital britânica, a fim de entender como os cérebros dos voluntários reagiam a elas.

Ao dirigir sem a assistência do GPS, o hipocampo e o córtex pré-frontal dos voluntários registraram picos de atividade quando os mesmos entravam em ruas desconhecidas. E mais: quando os voluntários precisavam escolher entre vários caminhos diferentes, a atividade nestas regiões do cérebro era ainda maior.

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Mapa do centro de Londres. As ruas em vermelho são aquelas com mais conexões com outras ruas, enquanto as ruas em azul têm menos conexões

Agora, quando os voluntários seguiam as instruções do navegador, a atividade cerebral no hipocampo e no córtex pré-frontal não aumentava. “Entrar em uma junção como a Seven Dials em Londres, onde sete ruas se cruzam, aumentava a atividade no hipocampo, enquanto uma rua sem saída reduzia sua atividade. Se você tem dificuldades em navegar pelas ruas de uma cidade, é provável que esteja exigindo bastante de seu hipocampo e de seu córtex pré-frontal”, diz o psicólogo Dr. Hugo Spiers, da UCL). “Quando temos a tecnologia que nos diz para onde ir, porém, estas partes do cérebro simplesmente não respondem à malha de ruas da cidade. Nesse sentido, nosso cérebro simplesmente desligou seu interesse nas ruas ao nosso redor”.

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Em outras palavras, nosso hipocampo e nosso córtex pré-frontal não trabalham enquanto seguimos as instruções do GPS: você não memoriza o caminho, não se preocupa com o risco de tomar a direção errada e também não planeja o caminho de volta.

Em 2011, a UCL já havia realizado um estudo nessa linha: ao examinar as atividades cerebrais dos taxistas de Londres, eles perceberam diferenças entre aqueles que usavam GPS e aqueles que confiavam em sua memória. Os cabbies de Londres precisam passar em um teste chamado “The Knowledge” e, para isto, devem memorizar todas as ruas da cidade. Os que usavam GPS tinham muito mais dificuldade em lembrar das ruas, enquanto os que não utilizavam conseguiam fazê-lo com muito mais facilidade. E mais: os taxistas que tinham melhores resultados no “The Knowledge” tinham hipocampos maiores.

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Taxistas londrinos realizando o teste “The Knowledge”. Dá uma olhada no tamanho do mapa que eles precisam estudar!

É mais ou menos como o que acontece com números de telefone em nosso cérebro. Muita gente não consegue nem memorizar o próprio número – ele está lá, na agenda, e quando você precisa passá-lo para alguém, geralmente o faz pelo WhatsApp, por exemplo. Por isso, há quem seja simplesmente incapaz de pegar um papel, escrever o número de cabeça e entregá-lo a outra pessoa, por exemplo. O hipocampo não foi estimulado o suficiente.

Sendo assim, mais uma vez, temos evidência de que o cérebro é como um músculo, e precisa ser exercitado para estar sempre em forma.

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“Seu GPS está errado. Use o cérebro”

Agora, é claro que usar o GPS tem suas vantagens – por exemplo, evitar o estresse coletivo dentro do carro em uma viagem de férias, pois o motorista não vai se perder. É só encontrar outras formas de estimular o hipocampo… ou se tornar um taxista londrino.