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VW Type 4: a versão de luxo dos Volkswagen a ar que não tivemos no Brasil

Uma das mudanças mais significativas da história da indústria automotiva mundial aconteceu em 1973, quando a Volkswagen apresentou seu primeiro carro com motor arrefecido a água, o Passat. Era a primeira vez que um VW tinha um radiador, algo inimaginável poucos anos antes. Durante anos, boa parte das campanhas publicitárias da Volks usava como argumento as vantagens dos motores refrigerados a ar comparados aos de arrefecimento líquido. “O ar não ferve”, afinal.

Com isto, uma das fabricantes de automóveis mais bem sucedidas do planeta até então, traía seus próprios princípios. Era uma manobra arriscada, porém necessária para acompanhar a concorrência. E deu certo: o Passat foi um sucesso e, no ano seguinte, ganhou a companhia do Golf.

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Os Volkswagen a ar continuaram existindo. Na Alemanha, o Fusca (ou melhor, Käfer) foi fabricado até 1978, resistindo até 1996 no Brasil e até 2003 no México. Nosso Gol teve o motor arrefecido a ar até 1986 em algumas versões. Mas a transição já estava feita, e era questão de tempo até que os Volks à moda antiga virassem parte do passado.

Portanto, o carro que o Passat veio substituir, de certo modo, foi a última grande aposta da Volkswagen alemã no arrefecimento a ar antes de mudar sua filosofia. Mas como era este carro, afinal?

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Lançado em 1968, o Volkswagen Typ 4 foi o primeiro carro grande da fabricante alemã e o primeiro com quatro portas. O projeto foi liderado por Heirich Nordhoff, engenheiro responsável por reerguer a companhia depois da Segunda Guerra Mundial ao ampliar a linha da Volks com a Kombi e a família Typ 3 – composta pelo fastback TL, o três-volumes VW 1600 e a perua Variant.

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O design da carroceria ficou por conta do estúdio italiano Pininfarina, que na época prestava serviços de consultoria de design para a Volkswagen. O estilo típico dos VW arrefecidos a ar pode ser identificado na silhueta – a própria família Typ 3 pode ter servido de inspiração –, mas as área envidraçada com colunas finas, o desenho da traseira e o formato dos faróis eram elementos de estilo próprio. E, na verdade, não foram muito bem aceitos pelo público: lançado como perua de quatro portas e fastback de duas ou quatro portas, o VW Typ 4, também chamado de Volkswagen 411, ficou conhecido como “patinho feio”.

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Porque, bem, bonito não era

O VW 411 era um carro maior, com 4.553 mm de comprimento, 1.675 mm de largura e 2.500 mm de entre-eixos. A construção do carro era do tipo monobloco em vez de carroceria sobre chassi (pela primeira vez em um carro de passeio da Volks) e a suspensão inaugurava o sistema McPherson na dianteira com braços triangulares arrastados na traseira.

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O conjunto mecânico, que tomava pouquíssimo espaço no cofre traseiro e era instalado por baixo do carro, era composto por um boxer quatro-cilindros de 1.679 cm³ com dois carburadores e 68 cv nos primeiros exemplares, e a partir de 1969 alimentado por um sistema de injeção Bosch D-Jetronic que elevou a potência para 80 cv. Este motor 1.7 foi utiliado também pelo Porsche 914, também lançado em 1969. Era o maior motor produzido pela VW no maior carro da fabricante.

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E, de fato, ele era mais espaçoso e melhor acabado que qualquer outro VW produzido até então, com um painel completo, acabamento em madeira opcional, revestimento integral em carpete, uma ampla área envidraçada e aquecedor a gasolina para enfrentar o inverno da Europa. Era oferecido até mesmo um câmbio automático de três marchas como opcional.

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Em 1972, o principal ponto negativo do carro foi modificado: seu visual. Os faróis saíram do topo dos para-lamas e foram reposicionados para a face dianteira do carro, em uma posição mais baixa, e ganharam lâmpadas halógenas e uma moldura trapezoidal à sua volta; e as lanternas traseiras foram mais para cima, tornando o visual da área mais harmônico. O motor também passou por mudanças: o diâmetro dos cilindros aumentou de 90 mm para 93 mm (o curso permaneceu em 66 mm) e a injeção deu lugar dois carburadores Solex de corpo simples. A potência passou a 75 cv nas versões comuns, e a 85 cv no 412 S, oferecido apenas na carroceria fastback de duas ou quatro portas. Apesar de “esportivo”, o 412 S tinha desempenho apenas regular, chegando aos 100 km/h em 14,5 segundos com máxima de 158 km/h.

Ele também mudou de nome, passando a se chamar VW 412. No mais, não muita coisa mudou, e a Volkswagen já havia até mesmo começado o trabalho de desenvolvimento do Passat quando a reestilização chegou ao mercado. Encarando por este ângulo, podemos dizer que o VW Typ 4 é o ancestral mais antigo do Passat e, consequentemente, do Santana (que nada mais é que um Passat de segunda geração).

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Com um substituto já no pente, o Volkswagen Typ 4 saiu de linha em 1974, com 367.728 exemplares fabricados. Seu legado, porém, continuou: o estilo adotado pelo VW 412 em 1972 acabou sendo utilizado pela Volks do Brasil na Variant e no TL reestilizados naquele ano, e também na Brasilia, substituta do Fusca lançada em 1973.

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Mas os nossos eram mais bonitos, né não?